Experiências ruins em viagens aéreas desencadearam um estado de pânico em Chico Barney, que chegou a ficar quase cinco anos sem pisar em uma aeronave. O popular colunista, que “escreve sobre os intrigantes fenômenos da TV e da internet desde 2002”, como ele mesmo define, por influência de figuras como o hipnólogo Pyong Lee, participante do “Big Brother Brasil 20”, buscou na hipnoterapia uma maneira de superar o trauma. O resultado? “Só nos últimos 20 dias, voei seis vezes sem nenhum problema”, comentou Barney, na madrugada de ontem, em seu perfil no Twitter.

O post foi uma reação a uma apresentação de hipnose conduzida por Pyong no reality. Na ocasião, o brother levou a uma condição de transe o arquiteto Felipe Prior, a modelo Ivy Moraes, a médica Thelma Assis e a influenciadora digital Rafa Kalimann – e fez que eles se esquecessem de coisas do dia a dia, como um numeral ou mesmo seus próprios nomes, e até mesmo que se sentissem bêbados, mesmo sem ter ingerido álcool.

A experiência reverberou de pronto, despertando alguma curiosidade do público. O Google Trends, ferramenta da gigante de buscas que mede o interesse de usuários por determinados temas, indica que, entre 2h e 3h da madrugada, a pesquisa por “hipnose” alcançou seu pico de popularidade em uma semana.

Estudioso da prática desde 1968, o filósofo clínico e hipnoterapeuta Alcino Lagares reforça que há diferenciações entre a prática voltada ao entretenimento e aquela de finalidade terapêutica. “A técnica usada no palco não é a mesma que usamos em consultórios”, expõe, lembrando que o tema já foi cercado de tabus. 

“Felizmente, o cenário mudou muito, e, hoje, psicólogos, médicos, fisioterapeutas e dentistas têm, em seus conselhos, a hipnose como prática regulamentada, sendo um recurso complementar dessas especialidades”, indica o fundador do Instituto Mineiro de Hipnoterapia.

“Quando se fala em hipnose de palco, aquele hipnotista precisa de alguém mais suscetível, que passe do estado de vigília plena para o sonambúlico rapidamente”, ressalta ele. Para a aplicação em consultório, por outro lado, não há pré-requisitos: a terapia pode ser oferecida a qualquer paciente, como explica o profissional.

Além disso, “o peso e a intensidade do transe são outros”. “No caso do espetáculo, trata-se de algo mais profundo. Uma pessoa que odeia cebola pode comer a planta pensando que é uma maçã e, depois, talvez nem se lembrar. Mas, ao final, ela continuará odiando cebolas. Então, na verdade, nada muda”, elabora ele.

Já no caso clínico, é fundamental que o paciente tenha ciência do mundo à sua volta, pois ele precisa participar, em certa medida, de todo o processo. Neste caso, o transe profundo torna-se indesejável.

Técnica

Psicóloga e hipnoterapeuta há quase 30 anos, Léa Machado explica que a prática é entendida como uma “técnica auxiliar dentro da visão psicanalítica”. Ela explica como seus pacientes são conduzidos ao transe: “Conversamos um pouco, e, depois, a pessoa vai para o divã, em que fica meio sentada e meio deitada. Peço que a pessoa interrompa o estímulo visual, fechando os olhos, e continuamos a conversar. Peço, então, para que se concentre na própria respiração, observando atentamente o inspirar do oxigênio e o expirar do gás carbônico”. Léa salienta que o paciente pode, a qualquer momento, fazer perguntas ou expor algum desconforto – estando, portanto, em um transe médio.

Ao alcançar esse desejado estado alterado de consciência, Léa explica que só há interferência apenas quando, por exemplo, é observado “que a pessoa está ofendida demais em uma situação em que este sentimento soa incompatível”. A especialista pondera que a função da hipnoterapia não é alterar a percepção de algum fato ou apagar o passado. “O que buscamos é que o paciente possa rever uma situação vivida por ele a partir de uma visão mais amadurecida. Se teve um trauma, estará observando ele de uma maneira mais isenta e poderá lidar melhor com aquele fato”, diz.

Léa indica, por fim, que o estado de transe alcançado em sessões de hipnose clínica é comum no dia a dia. “Em sala de aula, às vezes ficamos distantes. Esse é um estado hipnótico”, diz.