A prática de exercícios físicos ditos “pesados” se integrou ao cotidiano de Edgard Góes Monteiro de tal forma que o engenheiro mecânico aposentado chegou ao requinte de montar um espaço em casa dedicado a essa finalidade. O investimento, porém, não substituiu a ida à academia seis vezes por semana, faça chuva ou faça sol. Aos 73 anos, Edgard integra o contingente de pessoas que, pertencendo à faixa conhecida como “terceira idade”, resolveu se preparar para enfrentar os desgastes que o tempo invariavelmente impõe ao organismo.
Junto à mulher, a artista plástica e professora aposentada Silvia Góes Monteiro, 66, Edgard apostou suas fichas na musculação – mas com um recorte que vale ser ressaltado: o funcional. Trocando em miúdos, os dois não estão ali para ficar bem na foto, exibindo músculos. A ideia é colocar um freio no processo de perda muscular inerente à idade e manter a desenvoltura necessária para a prática de atividades, como levantar os netos, subir e descer escadas sem riscos ou simplesmente pegar um objeto no chão.
“Hoje, tenho muito mais destreza”, afiança ele, que só na atual academia, a Body Tech, está há 11 anos. Em outras academias e centros esportivos da capital mineira, o número de idosos malhando também chama atenção. Aliás, um relato da Associação Brasileira de Academias (Acad), que representa 201 mil estabelecimentos, apontou que esse recorte responde por 30% do total de matriculados em território nacional.
“A musculação, como qualquer outra prática esportiva, é extremamente positiva na vida cotidiana dos idosos”, argumenta Fabiano Oliveira, gerente de Esporte e Recreação do Sesc, um lugar referência na oferta de práticas voltadas à terceira idade. “O processo de envelhecimento promove inúmeras transformações físicas, de forma progressiva, as quais muitas vezes são irreversíveis. E a musculação pode ser uma grande aliada do público idoso no que tange ao fortalecimento muscular, à diminuição dos riscos de obesidade, à manutenção das capacidades funcionais e à ajuda na prevenção da osteoporose”, lista.
Oliveira cita o exemplo de uma aluna de 82 anos, com próteses em ambos os joelhos, que, da ginástica sênior e da hidroginástica, modalidades que têm características de baixo impacto, migrou, por vontade própria, para a musculação. “Seu principal objetivo era conseguir se levantar sozinha, visto a recorrência de episódios de quedas. Após uma avaliação criteriosa, a equipe de instrutores elaborou um treinamento baseado em exercícios funcionais executados no dia a dia. Com uma frequência invejável nos dias de treinamento, ela adquiriu autonomia, melhorou a percepção de espaço e atualmente consegue levantar-se sozinha quando realiza exercícios no solo”.
Edgard confessa que, ao adentrar a terceira idade, temia fantasmas como o de ficar “entrevado” ou enfrentar bursites e afins. Com a ida à academia, aliada ao acompanhamento médico e fisioterapêutico, não só o físico está preservado, como a cabeça também. “Esse ambiente de interação é muito positivo.”
Meta não é cumprir circuitos, mas avançar etapas
De acordo com o clínico geral e geriatra Thiago Viana Nogueira, atividade física e nutrição adequada ao longo da vida são, provavelmente, as ações de saúde pública mais eficientes para reduzir o impacto da perda de massa e função musculares que acompanha o processo do envelhecimento. Contudo, ele alerta: “Para aqueles idosos que interromperam ou nunca praticaram atividade física ao longo da vida, o ‘re-começo’ deve ser sugerido por um profissional médico e acompanhado por um fisioterapeuta”.
É que o geriatra lembra que fraturas, entorses e ruptura de fibra muscular podem ocorrer quando a prática não é guiada por um profissional capacitado, “principalmente em atividades de grande impacto”. Tomados esses cuidados, ele é só elogios à iniciativa. “O exercício melhora a mobilidade, a força e a velocidade da marcha, especialmente com treinos de resistência e equilíbrio, aliados ao exercício aeróbico”, corrobora.
A educadora física Glayce Cristina de Paula, que acompanha o casal Edgard e Silvia na prática dos exercícios na academia, endossa a fala de Nogueira com um dado da Organização Mundial da Saúde, que recentemente divulgou a estimativa do aumento no número de idosos para 2 bilhões até o ano de 2050. Por estar exercendo seu ofício já há mais de 20 anos, ela conta que, inclusive, já teve alunos que viu passar para a terceira idade. “Na verdade, o que vejo é que eles querem ter autonomia, não depender de ninguém, o que acaba aumentando a autoestima e, em decorrência, contribui para uma vida plena. A meta não é cumprir um circuito, mas obter benefícios funcionais”.
Ela salienta, porém, que é preciso não só uma indicação precisa (“um risco mínimo de queda já não é legal”), mas também um acompanhamento atento da execução dos exercícios, bem como a mudança de ficha, “para dar continuidade aos ganhos”. Não bastasse, é preciso entender as expectativas pessoais de cada um. “É necessário conhecer a vida do indivíduo. A Silvia, por exemplo, é artista plástica, precisa preservar o punho, o pulso”, pormenoriza. Além do manejo dos pincéis, Silvia também frisou o desejo de ter resistência para carregar com destreza os três netos – com a ida constante à academia, as metas foram atingidas com sucesso.