Saúde

Não é terapia, mas é terapêutico: veja hábitos que são aliados do bem-estar

Psicólogo dá dicas de como integrar atividades terapêuticas à rotina

Por Da Redação
Publicado em 23 de outubro de 2023 | 07:00
 
 
Atividades manuais, como o cuidado de plantas, têm reconhecidos efeitos terapêuticos Foto: dragana991/iStock

É bastante comum ouvirmos pessoas dizerem que, para elas, algumas atividades do dia a dia equivalem a terapia. Há quem pense que ler um livro, cozinhar ou, quem sabe, cuidar das plantas equivalha a uma sessão de análise, quem defenda que a mesa de um bar ou os aparelhos de musculação sejam seu divã e até os que elevam o próprio cachorro ou gato à condição de terapeuta. 

Mas, na prática, essa comparação não se sustenta. “Passear com o seu pet, viajar, ir à academia, se ocupar com práticas manuais, por exemplo, são atividades que produzem prazeres e são terapêuticas. Ou seja, estão ligadas ao bem-estar e ao conforto emocional. Elas nos desestressam, são relaxantes e nos ajudam a focar o momento presente, quando a atenção está totalmente voltada para aquela atividade, dissipando sintomas ansiosos. Contudo, mesmo que isso nos gere bem-estar físico e mental, não se trata de terapia propriamente dita”, alerta o psicólogo clínico Leonardo Morelli, que prossegue detalhando que a terapia é um processo em que um profissional da psicologia utiliza técnicas e ferramentas específicas para acolher, identificar e tratar os sintomas das pessoas que o procuram, possibilitando a vivência de novas experiência e possibilitando mudanças desejadas. 

Por outro lado, os hábitos terapêuticos, diz ele, são práticas ou rotinas renovadas diária ou frequentemente para promover o bem-estar físico e psicológico, estabelecendo-se como um suporte adicional para ajudar indivíduos a enfrentar desafios, gerenciar estresse ou simplesmente cultivar uma vida mais equilibrada. 

Morelli explica que esses hábitos ativam certas áreas do cérebro, liberando neurotransmissores – como serotonina e endorfina –, gerando sensação de relaxamento e conforto emocional. Com isso, nos sentimos mais capazes e com mais energia para realizar outras atividades menos prazerosas. Além disso, essas rotinas de bem-estar proporcionam melhores condições para acharmos soluções quando estamos frente a dificuldades ou problemas. “Se estamos bem e felizes, a vida toma um sentido positivo, e, assim, enfrentamos as adversidades com outros olhos e com outra disposição”, crava.  

Em entrevista a O TEMPO, o psicólogo detalhou outros benefícios associados a práticas terapêuticas:

  • Promoção do bem-estar mental. Práticas como meditação, diário de gratidão ou técnicas de respiração podem reduzir os níveis de estresse e ansiedade, promovendo um estado mental mais calmo. 
  • Fortalecimento da resiliência. Ao se habituar a técnicas que promovem a resiliência, como exercícios de atenção plena, o indivíduo pode enfrentar adversidades de maneira mais eficaz. 
  • Melhoria do sono. Hábitos como estabelecer uma rotina de sono, evitar eletrônicos antes de dormir e práticas de relaxamento podem melhorar a qualidade do sono, essencial para a saúde mental e física. 
  • Fomento de relações sociais. Participar de grupos de apoio ou ter hobbies em grupo pode ajudar a fortalecer laços sociais e fortalecer sentimentos de solidão. 
  • Promoção da saúde física. Hábitos como exercícios físicos regulares não apenas beneficiam o corpo, mas também são fundamentais para a saúde mental. 

Como escolher e incorporar hábitos terapêuticos à sua rotina 

Mesmo compreendendo os diversos benefícios associados à prática de atividades terapêuticas, muita gente tem dificuldade de identificar, em meio a uma rotina atribulada, quais hábitos são, de fato, prazerosos para si. Afinal, o que é agradável para uns pode ser penoso para outros. 

Nesse sentido, Leonardo Morelli defende que, na busca por essas atividades, é importante avaliar se aquela prática se alinha às preferências, necessidades e limitações do indivíduo. Ele acredita, inclusive, que esse exercício de investigação do próprio gosto seja uma jornada de autoconhecimento que, muitas vezes, será facilitada mediante orientação especializada.  

A pedido da reportagem, o psicólogo preparou um guia para auxiliar na seleção dos hábitos mais protetores: 

  • Avalie as suas preferências pessoais. Antes de tudo, é essencial que você identifique atividades que agradem ou despertem interesse. A adesão a um hábito é mais provável quando há espessura e prazer na prática. Por exemplo, alguém que aprecia o contato com a natureza pode caminhar ao ar livre como forma de terapia. 
  • Reconheça as suas necessidades. É vital que você identifique suas necessidades emocionais e físicas. Alguém com altos níveis de estresse pode se beneficiar de técnicas de relaxamento, como meditação ou ioga. Já indivíduos com sentimentos de isolamento podem priorizar atividades em grupo. 
  • Considere as suas limitações. A realidade de cada um pode importar limitações. Sejam elas físicas, temporais ou financeiras, é crucial considerar esses aspectos. Alguém com restrições de mobilidade, por exemplo, pode optar por terapias ou atividades adaptadas. 
  • Experimente e ajuste. Depois de identificar possíveis hábitos, uma fase de experimentação é crucial. Você deve testar diferentes atividades e observar como se sente durante e após a prática. Com o tempo, será mais fácil perceber quais hábitos preveem benefícios e quais podem ser substituídos ou ajustados. 
  • Consulte um profissional. Embora muitos hábitos terapêuticos possam ser explorados de forma independente, consultar um profissional de saúde mental pode fornecer insights valiosos. Psicólogos ou psicoterapeutas podem orientar sobre as práticas mais adequadas para você de acordo com as suas necessidades e questões específicas. 
  • Comprometa-se e reavalie. A implementação de hábitos requer comprometimento. No entanto, à medida que a vida evolui, as necessidades também podem mudar. Por isso, é fundamental reavaliar periodicamente os hábitos escolhidos e fazer ajustes conforme necessário. 

Como incorporar os hábitos na rotina diária 

Por fim, Leonardo Morelli assinala haver uma distância significativa entre encontrar uma atividade que seja terapêutica para si e fazer dela um hábito. Ele alerta que pode incorporar uma prática ao cotidiano pode ser algo desafiador e, sem um planejamento cuidadoso, o que era para ser fonte de prazer pode, no fim, desencadear ainda mais estresse. 

Defendendo ser importante integrar essas atividades à rotina de maneira harmoniosa, o psicólogo sugere um passo a passo de como fazê-lo:

  • Comece pequeno. Comece com uma ou duas práticas, em vez de tentar adotar muitos hábitos de uma vez. Por exemplo, se a meditação é algo novo para você, comece com sessões curtas de 5 minutos e, gradualmente, aumente o tempo conforme se sentir confortável. 
  • Estabeleça horários específicos. Dedicar um horário definido para a prática pode evitar que ela se torne uma tarefa pendente. Por exemplo, se a leitura é sua terapia, reserve 15 minutos antes de dormir para isso. 
  • Integre à rotina existente. Em vez de criar um novo momento no dia, considere acoplar o novo hábito a uma atividade já estabelecida. Se você treinar ao acordar? Adicione 5 minutos de alongamento antes ou depois. 
  • Estabeleça metas realistas. Mantenha suas expectativas em xeque. Em vez de se comprometer com uma hora de ioga diariamente, comece com duas ou três sessões por semana e aumente conforme se sentir preparado. 
  • Seja flexível. Haverá dias em que a prática de um hábito específico não será possível devido a imprevistos. Em vez de considerar isso uma falha, veja como uma pausa e retome no dia seguinte. 
  • Lembre-se do propósito. Reforce para si mesmo o motivo pelo qual escolheu um hábito terapêutico específico. Focar os benefícios, como relaxamento ou clareza mental, pode motivar a continuação. 
  • Busque suporte. Converse com amigos, familiares ou grupos de apoio sobre seus novos hábitos. Eles podem oferecer incentivo, dicas e até se juntar a você, tornando a prática mais agradável. 
  • Evite o autojulgamento. Abandonar a prática de um hábito por alguns dias ou semanas não é sinal de fracasso. Em vez de se julgar, reconheça as afirmações e retome quando estiver pronto.