Se alguém te pedir para imaginar como serão os supermercados daqui a meio século, você pensaria em robôs atendendo as pessoas ou alimentos sendo entregues na sua casa, com base nas suas necessidades nutricionais? Especialistas dizem que não estamos longe de nenhuma das duas alternativas. Para eles, a tecnologia será protagonista dessa mudança, principalmente com a digitalização da produção e da compra, por meio da inteligência artificial e de aplicativos.

A primeira mudança percebida estará na entrada dos supermercados. Segundo Fabio Parasecoli, professor do Departamento de Nutrição e Estudos Alimentares da Universidade de Nova York, os produtos serão expostos de uma forma que desperte nos clientes uma ideia de escolha, saúde, qualidade e prazer. “Imagine o estilo de uma loja da Apple, com processo totalmente digitalizado: um item de amostra intocado em exibição, cujo pedido pode ser digitalizado e instantaneamente atendido”, diz Parasecoli ao site Medium.

André Cherubini, professor e pesquisador do Centro de Inovação da Fundação Getulio Vargas (FGV), dá outro exemplo de automatização do serviço. “O cliente, por meio do smartphone, decide os produtos que quer comprar. Ele registra o pedido, que será atendido por robôs, que pegam os itens de caixas mais próximas a eles e as transportam até o local de entrega. Até lá, o cliente já faz o pagamento e busca os produtos embalados. Será o fim das filas”, afirma.

Outro exemplo é o apelo para o consumidor em rastreabilidade e frescor. “Por exemplo, uma mercearia pode ter biorreatores de carne no subsolo e instalações de cultivo hidropônico no telhado que geram frutas e vegetais para a loja enquanto capturam a água da chuva e compensam as emissões de carbono da loja”, sugere Mike Lee, pesquisador do Future Market, projeto que explora como os alimentos serão produzidos e comprados no futuro.

Além do dinheiro. O futuro dos alimentos também engloba a possibilidade de um sistema no qual os consumidores se tornam mais do que apenas uma boca no fim de uma cadeia alimentar. “O consumidor está cada vez mais consciente do seu papel, principalmente quando falamos de saúde e nutrição. Por conta disso, cada vez mais serão disponibilizadas informações sobre nossas necessidades e hábitos nutricionais”, diz a nutricionista Josi Salgado.

Essas informações virão de dados biométricos produzidos por sensores vestíveis e ingeríveis e geladeiras inteligentes que saberão quais produtos básicos estão acabando. “Os produtores e vendedores de alimentos serão capazes de descobrir o que você quer e precisa antes de você mesmo saber”, prevê Josi.

Alerta. A Organização das Nações Unidas (ONU) demonstra preocupação com a alimentação mundial. Estima-se que, até 2050, a população chegará a 9,7 bilhões de pessoas. 

Comércio físico ainda existirá

A junção entre compras e tecnologia já é um caminho sem volta, principalmente no que se refere à digitalização de todo o processo. No entanto, isso não impedirá que supermercados físicos ainda existam – muito pelo contrário.

“A tecnologia, às vezes, evolui mais rapidamente que a cultura, e os consumidores continuarão cozinhando quando considerarem necessário. Essa demanda fará com que eles optem por ir pessoalmente ao supermercado para escolher os melhores ingredientes. Inclusive para comprar aquelas coisas de última hora, uma ação comum de um estilo de vida corrido”, explica a nutricionista Josi Salgado.

Segundo ela, desde o início da humanidade, é normal que as pessoas anseiem por oportunidades de participar de sua própria produção de alimentos. E isso não mudará no futuro.

“As pessoas usam comida não apenas para se alimentarem, mas para expressar sua paixão, sua identidade, seu conhecimento. Quem tiver tempo e recurso financeiro continuará cozinhando”, afirma.