Assim que a vendedora Beatriz Reis foi anunciada como uma das participantes do “BBB 24”, um fato sobre ela chamou a atenção: sua virgindade. Em entrevista ao programa, a paulista comentou que ainda não havia se relacionado sexualmente “por opção, não por falta de oportunidade”. Nas redes sociais, o assunto se tornou pauta, rendeu apelidos e comentários divertidos. Houve quem brincasse que a alegria da sister vinha do fato de nunca ter se relacionado com homens, quem se identificasse com a situação e ainda quem se surpreendesse com o fato de a jovem de 23 anos não ter tido ainda uma experiência sexual.

Dentro da casa, Beatriz também falou sobre o assunto. Além de ter que responder a alguns questionamentos mais diretos – outra participante perguntou à sister se ela já havia visto um pênis –, a vendedora também desabafou sobre a pressão que vive fora do programa por conta de sua escolha. “Escuto muita gente falar: ‘Você não sabe o que está perdendo’; ‘faz logo, menina, você já está muito velha’. E entra por um ouvido e sai por outro… Tenho 23 anos e não me sinto pronta”.

De acordo com a sexóloga Enylda Motta, esse estranhamento e surpresa gerados pela escolha da vendedora têm uma característica geracional. “Entre os jovens, nos grupos, quem não faz está fora do que é considerado ‘normal’”, afirma. Segundo a especialista, pode haver até mesmo aqueles que mentem e escondem que ainda não fizeram sexo para que se sintam pertencentes a um grupo.

Essa visão pode acontecer também porque, para algumas pessoas, o sexo é considerado um rito de passagem da adolescência para a vida adulta. “É um fenômeno que acontece por uma questão social. É quase como se existisse uma ‘regra’ a ser cumprida, e quem não cumpre está fora”, explica. Ela acrescenta ainda que em casos como esses há quem decida fazer sexo por pressão social, e não por prazer. 

Por outro lado, é importante destacar que existem diferentes formas de compreender a relação sexual, seus significados e importância. Ao passo que ela pode ser considerada como algo natural, também pode ser entendida como uma “tentação” a ser evitada. Algumas crenças religiosas, por exemplo, pregam que o sexo deve ocorrer apenas após o casamento e ter como objetivo a procriação. Movimentos como o “Escolhi Esperar”, que reúne 6 milhões de pessoas somente no Instagram, Facebook e Twitter, são alguns desses exemplos. 

A psicóloga e terapeuta sexual Leni de Oliveira observa que a “virgindade” é um termo que apresenta uma carga de significados voltados para pureza e virtude, especialmente quando o foco é a sexualidade feminina. “Temos uma maior liberdade sexual, mas com ressalvas. Esse imaginário de boa moça, virgem, virtuosa, aquela que não cede aos desejos da carne, para casar, ainda é bastante presente”, destaca.

Ela pondera que os questionamentos podem acontecer mesmo quando uma mulher jovem não é mais virgem. “Ela vai ser questionada sobre com quantos homens já esteve, se estavam em um relacionamento ou não. Vão surgindo, assim, novas versões da ‘virgindade’”, observa. 

Entre piadas, apelidos e identificações, a escolha de Beatriz e as falas sobre ela têm ganhado a boca do povo e continuam sendo pauta na internet. Para Leni de Oliveira, o posicionamento da vendedora pode ser importante e ir além de uma curiosidade acerca de sua vida. “Ele pode nos ajudar a refletir sobre as diversas formas de viver a sexualidade. A dela é essa, não é a certa nem a errada. É preciso respeitar a experiência de cada um”, afirma. 

Enylda reforça o coro, argumentando que a abertura que ela dá, ao falar sobre sua vida sexual, sua entrega a ela ou não, apresenta aos jovens a possibilidade de escolha e de dizer “não” a algo que está sendo praticamente imposto. “Cada imposição afasta o prazer e pode gerar consequências sérias na vida dos jovens”, pontua.

A sexóloga ainda observa que o sexo continua sendo um grande tabu, mas, com as possibilidades de diálogo, esses mitos podem ser quebrados. “Isso não quer dizer que, ao não fazer sexo, a pessoa não tenha explorado seu corpo, por exemplo. Também é preciso perceber e entender que o sexo vai muito além da penetração, e isso faz uma grande diferença na vida da pessoa”. 

Leni acrescenta também que falar sobre sexo e sexualidade é algo fundamental para o crescimento sexual e social. “A sexualidade se desenvolve constantemente, ao longo da vida. Não é algo mágico que acontece em um único momento. Para homens e mulheres, sexo não se resume à experiência de um encontro. É uma construção tanto individual quanto compartilhada. É uma experiência diversa que muda ao longo da vida. A virgindade, por outro lado, é apenas um mito”, conclui.