“Meu marido prefere menos maquiagem ou nenhuma. Mas, na minha opinião, não importava o que ele dissesse, (quando ele falava sobre a questão) acabava me levando a uma conversa interna negativa. Quando ele dizia essas coisas, eu ficava frustrada, porque eu sabia que eu era medonha e feia”. O relato é de uma paciente que sofre com o melasma, patologia caracterizada por manchas escuras, de tons acastanhados, que aparecem no rosto, recobrindo principalmente áreas como bochechas, testa e buço.  

A mulher, que não teve o nome divulgado, fez parte de uma pesquisa desenvolvida pelo Departamento de Dermatologia do Centro Médico do Sudoeste da Universidade do Texas. Publicado no International Journal of Women’s Dermatology no final de 2017, o estudo mostrou que a maioria dos pacientes que sofriam da patologia disseram que tiveram diminuição da autoconfiança e da autoestima por causa das manchas. 

Alguns deles também admitiram que o melasma fazia com que se sentissem inferiores às outras pessoas. Segundo os pesquisadores, todos os pacientes contaram que o melasma impactava de alguma forma em seu convívio social, seja evitando locais como academia, piscina e até mesmo ambientes de trabalho que incluíam indivíduos de liderança, seja evitando o contato visual com outras pessoas.  

O cenário não é muito diferente no Brasil. “O incômodo causado pelas manchas do melasma costuma ser muito grande, porque, além de ser um problema crônico e que demanda muito cuidado para tratar, ele costuma aparecer no rosto, na maior parte das vezes”, explica o dermatologista Lucas Miranda. Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), o médico ainda acrescenta que o melasma costuma causar um incômodo constante com a aparência e gerar insatisfação com a imagem que o paciente vê no espelho ou nas câmeras. “Isso acaba causando um impacto negativo para a autoestima”, diz.  

Não por acaso, os melasmas são uma das queixas mais comuns nos consultórios dermatológicos do país, segundo dados da SBD, e atingem um número grande de pessoas. A estimativa, conforme uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), é de que a patologia atinja de 15% a 35% das mulheres brasileiras. Embora o melasma aconteça com mais frequência em pessoas do sexo feminino, ele também pode ser visto em homens.  

O que causa o melasma? 

O médico Lucas Miranda explica que não há um consenso que aponte uma causa isolada para a patologia, mas que ela costuma estar relacionada a vários fatores como alterações hormonais, que podem estar relacionadas ao uso de anticoncepcionais femininos ou à gravidez, e a exposição ao sol e ao calor. “A exposição à luz ultravioleta desencadeia o aparecimento das manchas e, até mesmo, a exposição à luz visível, de lâmpadas, celulares, TVs, notebooks, entre outros”, acrescenta. Ele explica ainda que fatores genéticos também podem estar relacionados ao aparecimento do melasma.  

Com as temperaturas mais altas da primavera e do verão, é importante também ficar atento ao desenvolvimento da patologia. “A radiação solar e o próprio calor são alguns dos fatores desencadeantes para o melasma já conhecidos. Não só o calor do sol; uma pessoa que passa muito tempo num ambiente muito quente, como uma cozinha fechada em frente ao fogão, por exemplo, precisa de cuidado redobrado caso tenha tendência a desenvolver o melasma”, orienta.  

Como o melasma pode ser evitado? 

Conforme o dermatologista, as medidas de proteção contra o desenvolvimento desse tipo de mancha devem fazer parte da rotina das pessoas, mesmo em dias nublados ou chuvosos. “Como o melasma pigmenta também com a luz visível, os filtros solares comuns, sem cor, não protegem totalmente as pessoas com melasma. Por isso, devem-se associar à fotoproteção filtros físicos, que protegem da luz visível. O filtro solar com cor é o mais indicado para o rosto e/ou regiões afetadas, porque vai proteger também da luz visível”, orienta o médico, ressaltando a importância de se ter atenção ao fator de proteção solar, que deve ser de no mínimo 30, e também de verificar no rótulo se o filtro escolhido possui proteções contra os raios ultravioleta A (UVA) e ultravioleta B (UVB). 
Lucas Miranda orienta também que o produto seja reaplicado de três em três horas, para que a proteção adequada seja mantida durante todo o dia.

Caso haja suor intenso ou a região tenha contato com a água, o intervalo pode ser menor. “Além do filtro com cor no rosto, devem-se proteger também todas as partes do corpo que ficarem expostas (descobertas de roupa) com seu filtro solar de uso diário. Outra medida importante é, sempre que for sair de casa, procurar usar outras formas de proteção como roupas, chapéus, bonés, óculos escuros, sombrinhas, entre outros”, aconselha.  

O melasma tem cura? Qual é o tratamento? 

O dermatologista explica que ainda não há uma cura conhecida para o melasma, mas os tratamentos atuais já conseguem praticamente acabar com a aparência das manchas. Ele ressalta, porém, que o cuidado diário é essencial para que os resultados sejam mantidos. “O tratamento sempre conjuga um conjunto de medidas para clarear, estabilizar e impedir que as manchas voltem”, afirma.  

Segundo ele, o processo de tratamento não é algo tão simples e depende, além da proteção solar, do conhecimento e da habilidade do dermatologista em identificar as particularidades do melasma de cada paciente e, a partir daí, criar uma estratégia adequada. “Daí a importância de se priorizar a escolha de um profissional, dermatologista, e que seja devidamente capacitado, com expertise no tratamento do melasma.  Outro ponto de atenção é que, muitas vezes, as pessoas com melasma podem agravar a condição com um tratamento ou procedimento inadequado, ocorrendo piora importante das manchas”, ressalta.  

Ainda, conforme Lucas Miranda, os tratamentos podem variar, mas sempre incluem proteção contra raios ultravioleta e contra a luz visível. “De forma geral, pode-se lançar mão de estratégias como o uso de medicamentos tópicos e procedimentos para o clareamento, que vão de peelings a tecnologias a laser. Essas estratégias podem ser usadas em conjunto, em ciclos, ou individualmente, dependendo do planejamento criado pelo dermatologista junto ao paciente, de forma personalizada”, explica.  

O médico explica que, entre os medicamentos de uso tópico, os mais comuns são à base de hidroquinona, ácido glicólico, ácido retinoico e ácido azelaico. Ele adverte, porém, que este método não funciona para todos os pacientes e que, mesmo com resultados rápidos, o tempo necessário para estabilizar a condição e impedir que as manchas voltem pode durar meses ou anos. “Outros ativos também usados são arbutin, ácido kójico, ácido fítico, ácido tranexâmico e ácido dioico”, cita. 

Os peelings –  tratamentos que promovem um processo de esfoliação que produz descamação da pele, com posterior regeneração do tecido – também podem fazer parte da estratégia para o clareamento gradual das manchas ou até mais rapidamente que cremes. “Existem diversos tipos e apenas a análise individual com o dermatologista poderá determinar qual é o mais indicado, caso haja indicação para peeling”, pontua Lucas Miranda.  

O médico afirma ainda que existem tecnologias a laser disponíveis para o tratamento: “Elas têm evoluído muito e podem oferecer resultados surpreendentes em poucas sessões, agindo nas camadas mais profundas da pele”.