Ao convidar Cady Heron (Lindsay Lohan) para fazer parte de seu seleto grupo no filme “Meninas Malvadas” (2004), Karen Smith (Amanda Seyfried) assevera à nova amiga: “Às quartas, usamos rosa.” Quase 20 anos depois de a icônica frase fazer sucesso nas telonas, o momento enuncia que é hora de atualizá-la:“Todos os dias usamos rosa”.
Isso porque, catapultado pelo lançamento do filme da boneca mais famosa do mundo, que chega aos cinemas na próxima quinta-feira (20) dirigido por Greta Gerwig, o estilo Barbiecore, no qual há prevalência do pink, pode ser facilmente encontrado em peças variadas de vestuário, maquiagem e acessórios em lojas de departamento, sites especializados ou marcas brasileiras.
Como o imaginário sugere, a tendência preza pela cor rosa vibrante, que compõe looks especialmente monocromáticos. “A ideia de composição é predominantemente rosa, no máximo bicolor. Quando o pink aparece sozinho, vem como pontos de luz, que chamam bastante atenção. É bem contemporâneo, a cara da geração Z”, analisa o professor do curso de design de moda da Escola de Belas Artes da UMFG, Tarcisio D'Almeida.
Mas o estilo vai para além da cor intensa. Pesquisadora e professora do curso de Moda da Una, Gabriela Pena observa que o Barbiecore também está no uso do lamê — tecido brilhante produzido com finas lâminas douradas, rosas ou prateadas — terninhos de tweed e escarpins com sling back (no qual há apenas uma alcinha que transpassa o calcanhar). Tule em camadas, corsets e looks que valorizam o colo também fazem parte do estilo Barbiecore, na análise da professora. “São muitos os looks usados pela Margot Robbie para tentar representar 64 anos de história da boneca”, pontua.
Apesar de a alta do Barbiecore vir com o lançamento do filme, a tendência começou cerca de dois anos antes com desfiles de grandes marcas como Valentino e Balenciaga. Mas, de fato, às vésperas do lançamento do longa-metragem, o estilo tornou-se mais pulsante — e popular. Lojas de departamento como Renner, C&A e Riachuelo já têm coleções com a temática, assim como Melissa e a Ipanema, que lançaram calçados da Barbie. “Essas marcas estão antenadas em trazer para a moda o que está em voga na ficção, com diferenciais de acabamento e tecido para caber em diferentes faixas de preço”, verifica Gabriela.
Expectativas de quebra de padrões
Ainda hoje, o rosa está diretamente ligado ao universo feminino, algo que pode ser positivo, desde que não fique restrito somente às mulheres, reflete o professor Tarcisio. “Com o lançamento do filme, observo um reforço da feminilidade, que gira em torno da boneca, mas a expectativa é que o filme leve a cor também para o masculino, especialmente porque a moda agênero avançou nos últimos anos”, espera.
O docente também espera que o filme levante temáticas sobre padrões de beleza e fetichização do corpo feminino. “Quando a boneca ganha proporções humanas, ela assume um lugar de desejo, seja por parte das mulheres, que se sentem pressionadas pela ditadura do corpo, do cabelo ou da pela, seja por parte dos homens, que se sente fetichizado pelo corpo feminino”, analisa.
A expectativa da professora Gabriela sobre o filme também é de um tom que problematiza padrões de beleza da boneca ao longo dos últimos anos. “Quando soube do lançamento do filme, estranhei um pouco porque achei que seria algo bem plastificado. Mas a diretora Greta Gerwig tem um olhar mais crítico sobre a sociedade. Além disso, ao ver o trailer, acredito que serão abordadas questões reais, especialmente quando a Barbie deixa o mundo da fantasia e percebe que o mundo real é repleto de falhas”, diz Gabriela, que está ansiosa para o lançamento. “Estou louca para assistir”, confessa.