O Banco da Inglaterra (BoE) anunciou, nesta terça-feira (11), que vai prorrogar a compra de dívida pública em títulos indexados para garantir a estabilidade financeira nos mercados britânicos, abalados pelo pacote de medidas orçamentárias do novo Executivo conservador de Liz Truss.
Em 28 de setembro, o Banco Central britânico lançou um programa de compra de títulos do Tesouro de longo prazo que pode chegar a até 65 bilhões de libras (US$ 71,62 bilhões ao câmbio atual).
Na segunda-feira, anunciou novas medidas de apoio, incluindo a extensão do tamanho máximo das compras diárias de dívida pública para 10 bilhões de libras.
Apesar desta prorrogação, a "disfunção" continuou, em particular, no mercado de títulos indexados, o que supõe "um risco significativo para a estabilidade financeira do Reino Unido", declarou o Banco de Inglaterra nesta terça-feira para justificar a nova extensão.
A intervenção do banco central para acalmar o mercado de dívida pública, que corria o risco de sofrer uma crise de liquidez e ameaçava se estender às condições de crédito para lares e empresas, vai durar até sexta-feira (14), conforme anunciado anteriormente.
As operações anunciadas hoje "servirão como uma rede de segurança adicional para restabelecer as condições ordenadas do mercado", explicou a instituição.
As compras se concentrarão, principalmente, nos fundos derivativos de bônus do Tesouro britânico de longo prazo (LDI). Alguns deles corriam o risco de entrar em colapso, devido a uma queda repentina no valor dos títulos do Tesouro de longo prazo.
A medida não pareceu, contudo, devolver a confiança aos mercados quanto à capacidade do Reino Unido de reembolsar a sua dívida de longo prazo. Em torno das 11h (horário de Brasília), os juros da dívida pública para 30 anos, que caíram consideravelmente após um primeira intervenção do BoE em setembro, subiam 4,73%.
Advertência do FMI
A nova premiê Truss e seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, causaram preocupação nos mercados financeiros ao apresentarem, em 23 de setembro, um pacote de medidas econômicas que combinava ajudas públicas para pagar contas de eletricidade com significativas reduções fiscais.
Em uma tentativa de tranquilizar, Kwarteng anunciou, nesta segunda-feira (10), que estava antecipando a publicação de suas previsões orçamentárias para 31 de outubro, em vez da data inicialmente planejada de 23 de novembro. E, na terça-feira ele argumentou perante a Câmara dos Comuns que "os fundamentos da economia britânica permanecem resilientes".
Ele se referia à publicação, nesse mesmo dia, de novos dados de desemprego, que em agosto caíram para 3,5%, seu nível mais baixo em quase 50 anos. Esta queda se deve, entretanto, principalmente, à alta sustentada de pessoas que não trabalham nem procuram trabalho - com frequência, devido a doenças de longa duração.
E, com uma economia em desaceleração, redirecionar as finanças públicas para um caminho sustentável sem revisar os prometidos cortes maciços de impostos pode se traduzir em reduções orçamentárias, alertou o Institute for Fiscal Studies (IFS).
Em seu relatório de outono, publicado hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) previu, por sua vez, uma significativa desaceleração da economia britânica, com um crescimento previsto de 3,6%, em 2022, e de 0,3%, em 2023.
O FMI considerou que, mesmo que Londres consiga impulsionar o Produto Interno Bruto (PIB) no curto prazo com seus anúncios, complicará, ao mesmo tempo, o combate a uma inflação de nível histórico, de quase 10%.
(AFP)