Encontro de cúpula

Bolsonaro e presidente argentino se desentendem sobre regras do Mercosul

Presidente brasileiro defende flexibilização da regra de consenso que como instrumento de veto nas negociações com países de fora do bloco

Por Folhapress
Publicado em 08 de julho de 2021 | 13:42
 
 
Bolsonaro Foto: Marcos Corrêa/PR / via fotos públicas

Em uma reunião virtual marcada pela fricção entre as partes e uma transmissão fragmentada, Brasil e Argentina se enfrentaram nesta quinta-feira (8) e deixaram claras suas diferenças a respeito da redução da TEC (Tarifa Externa Comum) e da flexibilização do Mercosul.

O Brasil, assim como Uruguai, defende uma redução radical da tarifa, enquanto a Argentina prefere uma redução gradual e menor, evitando aplicá-la ao setor industrial, pelo menos até janeiro. O Brasil insiste que o bloco deixe de ser guiado por "questões ideológicas".

O Brasil assume agora a presidência pro-tempore do bloco. Nos últimos seis meses o cargo estava com a Argentina.

Em seu discurso, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmou que no mandato argentino "não se avançou na modernização" do Mercosul, e que não seria possível deixar que o bloco "continue sendo sinônimo de ineficiência".

"Precisamos superar essa imagem negativa", afirmou. Também defendeu a eliminação de tarifas.

"Queremos e conseguiremos uma economia mais integrada ao mundo, não podemos patinar na consecução desses objetivos, precisamos dar entregas à população, eliminar entraves e entregar produtos mais baratos".

Para o mandatário brasileiro, a persistência de impasses e a necessidade de consenso para mudanças nas regras do Mercosul são um problema, especialmente quando países associados têm o que chamou de "visões arcaicas" sobre a natureza do bloco e sobre o protecionismo.

"Isso alimenta sentimentos de ceticismo no mercado internacional", disse.

Ele criticou mais uma vez a argentina, dizendo que "o semestre que se encerrou não apresentou resultados concretos".

Bolsonaro ainda cometeu uma gafe no início de sua fala. Ao referir-se à "presidência brasileira" do bloco, disse "pandemia brasileira".

O encontro virtual teve como anfitriã a Argentina. O presidente do país, Alberto Fernández, abriu o encontro com uma transmissão a partir da Casa Rosada lembrando os 30 anos do bloco, celebrados neste ano, e evocando as suas "regras fundacionais".

"São regras, e abandonar o consenso entre os países para negociar por fora significa descumprir as regras", disse. Ele se referia à decisão manifestada pelo governo uruguaio, nesta quarta-feira (8), de buscar acordos fora do Mercosul, embora sem abandonar o bloco.

"A globalização em que acreditamos é uma globalização mais regionalizada, que fortaleça as cadeias regionais de produção, e queremos mais cadeias regionais, e não menos", disse o argentino.

Ele ainda reiterou que a redução da TEC tem de partir de um consenso.

"Esse é o DNA do bloco, não podemos esquecer essa lei fundacional principalmente num contexto global de incertezas".

Em sua tela, Fernández olhava para baixo, com expressão de irritação e cansaço.

Com relação a flexibilizações, foi bastante enfático: "A lei do Mercosul afirma que negociações devem iniciar-se e concluir-se em matéria conjunta. Nós seguiremos apoiados nessa lei". E terminou afirmando: "Ninguém se salva sozinho".

Os países optaram por não mostrarem uma transmissão conjunta da reunião-cada governo divulgou por meio de seus canais oficiais apenas a fala de seu mandatário.

Além disso, o paraguaio Mario Abdo optou por não divulgar sua intervenção na totalidade. A assessoria de imprensa da presidência do Paraguai afirmou que, depois da reunião, seria enviado um comunicado sobre a participação do país.

Já o Uruguai tentou transmitir a fala de seu presidente, mas por problemas conexão apresentou apenas a imagem do mandatário Luis Lacalle Pou, sem seu áudio.

O fato de a reunião do Mercosul ter ocorrido de modo não transparente, e com cada presidente divulgado sua parte à sua maneira, é um sinal da crise do bloco.

Bolsonaro também afirmou que deseja que a próxima reunião, no fim do ano, se realize de modo presencial, no Brasil.