O governo brasileiro aceitou nesta terça-feira, 27, 10 milhões de libras (R$ 51 milhões) oferecidos pelo Reino Unido para ajudar no combate aos incêndios na Amazônia. A oferta foi feita por meio de uma conversa telefônica entre o secretário para assuntos externos daquele país, Dominic Raab, do Partido Conservador britânico, e o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

Segundo uma fonte do governo brasileiro, Raab e Araújo conversaram sobre meio ambiente e projetos de interesse dos dois países. Ambos não entraram em detalhes sobre essas atividades. Ficou claro, no entanto, que a posição do Brasil é se abrir para contribuições individuais, ou seja, por país – o que poderia excluir o G7 (formado pelas nações mais industrializadas do mundo), como queria o presidente da França, Emmanuel Macron.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro havia recuado e dito que ainda poderia discutir o recebimento de US$ 20 milhões (cerca de R$ 83 milhões) oferecidos pelo G7, representado por Macron. Na noite de segunda-feira, o Palácio do Planalto havia informado que o montante seria rejeitado.

Bolsonaro havia ressaltado, no entanto, que só aceitaria negociar o aporte se Macron pedisse desculpas a ele, por tê-lo chamado de “mentiroso”, e retirasse a declaração sobre a internacionalização da floresta amazônica.

À noite, o Palácio do Planalto voltou atrás nas exigências impostas para aceitar a oferta europeia. Questionado se a Presidência mantinha a exigência a Macron, o porta-voz Otávio Rêgo Barros não confirmou. O general disse apenas que o Brasil só aceitará recursos desde que possa gerenciá-los como achar mais conveniente.

Em entrevista, concedida no fórum mundial, Macron disse que está em aberto o debate sobre a internacionalização jurídica, mas a questão não constou na declaração final do G7.

Bolsonaro e o presidente francês têm protagonizado troca de críticas na questão da preservação da Amazônia. Macron disse esperar que “os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura” do cargo. E o brasileiro apoiou comentário ofensivo à primeira-dama francesa, Brigitte Macron.

Perguntado pela manhã se pediria desculpas a Brigitte, após zombaria com a aparência da primeira-dama, Bolsonaro disse que não a ofendeu e, irritado com a insistência dos repórteres, encerrou a entrevista, acrescentando que os jornalistas “não merecem a consideração”. (Com agências)

'Faltou tato'

O presidente da França, Emmanuel Macron, sugeriu ontem que “faltou tato” a Jair Bolsonaro na réplica às considerações de Paris sobre os incêndios na Amazônia. 
Em discurso a embaixadores em que não citou nominalmente seu colega brasileiro, Macron chamou de “erro profundo” a adoção de uma postura hostil em resposta a emergências que ultrapassam limites nacionais.

“A Amazônia é estratégica para o mundo inteiro, tanto em termos de aquecimento global quanto de biodiversidade”, disse. “Nesse sentido, notei as inquietudes, a falta de tato de alguns dirigentes, ao considerarem que soberania, no fundo, era agressividade”, afirmou. 

“Somos um país soberano quando aceitamos com alegria e gentileza a solidariedade internacional, porque é um sinal de amizade”, defendeu o presidente francês.

No encontro com diplomatas, Macron insistiu no argumento de que a mancha amazônica se estende por nove países, inclusive a França – que tem um departamento em solo sul-americano (Guiana Francesa).

“Vários outros (países que não o Brasil) solicitaram nossa ajuda. É importante mobilizá-la logo para que a Colômbia, a Bolívia e todas as regiões brasileiras que desejem usufruir desse auxílio possam recebê-lo e reflorestar a área rapidamente”, completou o francês.

Convocação

Os presidentes do Peru e da Colômbia anunciaram que vão convocar uma reunião dos países amazônicos nos próximos dias para promover a proteção da floresta tropical.

O encontro deve ocorrer na Amazônia colombiana, disse o presidente colombiano, Iván Duque, juntamente com o colega peruano, Martín Vizcarra, na cidade amazônica de Pucallpa, no Peru.

“Vamos fazer uma convocação para que todos os países da Amazônia possam fazer uma abordagem comum... para fazer também o lançamento de um compromisso”, afirmou Vizcarra.

'Apoio total'

O presidente Donald Trump elogiou os esforços do colega brasileiro, Jair Bolsonaro, para combater os incêndios na Amazônia, observando que sua administração tem o “apoio total e completo” dos EUA.

Os comentários de Trump no Twitter acontecem em meio ao alarme mundial sobre os incêndios e uma troca de hostilidades entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.

“Ele (Bolsonaro) está trabalhando duro nos incêndios na Amazônia e, em todos os aspectos, está fazendo um ótimo trabalho para o povo brasileiro”, tuitou.

“O senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa. E depois, pelas informações que tive, de que nossa soberania está em aberto na Amazônia.”
Jair Bolsonaro

Análise

Tensão. Hoje insustentáveis, as relações entre Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro sempre foram marcadas pela desconfiança.

Respeito à democracia. “Macron foi o único chefe de Estado a lhe impor uma espécie de cláusula democrática”, diz Frédéric Louault, do Centro de Estudos das Américas da Universidade Livre de Bruxelas.