Temor de pandemia

Coronavírus se propaga e países organizam saída de cidadãos da China; veja quais

Medo de pandemia toma conta de diversas nações, que montam plano para retirar seus cidadãos do território chinês, epicentro da epidemia

Por AFP
Publicado em 28 de janeiro de 2020 | 10:38
 
 
Coronavírus Foto: Handout / AEROPORTO DI ROMA / AFP

Estados Unidos, França, Japão e outros países organizam a partir desta terça-feira (28) operações para retirar seus cidadãos de Wuhan, epicentro da epidemia de coronavírus que deixou até o início da manhã desta terça-feira (28) 106 mortos na China e 4.500 infectados, ao mesmo tempo que foram registrados os primeiros casos de contágio fora do território chinês.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda, porém, a saída dos estrangeiros retidos em Wuhan, declarou nesta terça-feira seu diretor-geral, Tedros Adhanom Gebreyesus, durante visita a Pequim, informa um comunicado publicado pela diplomacia chinesa.

"Na situação atual, é preciso manter a calma. Não é necessário reagir com excesso", acrescentou o diretor-geral da OMS, segundo a nota.

O presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que seu país trava uma importante batalha contra o "demônio" do novo coronavírus e pediu transparência nos esforços do governo para conter a epidemia.

"A epidemia é um demônio e não podemos deixar esse demônio escondido", afirmou Xi durante uma reunião com autoridades da OMS, segundo a imprensa estatal.

"O governo chinês sempre teve uma atitude aberta, transparente e responsável na hora de divulgar informação para os nossos cidadãos e para outros países", acrescentou.

Em Wuhan, cidade do centro da China onde o coronavírus foi detectado em dezembro, e quase toda a província de Hubei estão isoladas do mundo desde quinta-feira por ordem das autoridades para tentar frear a epidemia. Quase 56 milhões de habitantes estão confinados. 

O confinamento surpreendeu milhares de estrangeiros retidos na região. Para retirá-los, Estados Unidos, França, Japão e outros países preparam operações de emergência. 

O governo japonês anunciou que enviará um avião nesta terça-feira a Wuhan para retirar 200 cidadãos do país e aproveitará a oportunidade para entregar "máscaras e trajes de proteção" às autoridades locais.

Médicos estarão a bordo, e as pessoas com sintomas como febre alta serão levadas diretamente para o hospital no desembarque. Quase 650 japoneses de Wuhan expressaram o desejo de retornar para seu país, e o governo planeja novos voos de repatriação.

Um voo para retirar funcionários do consulado dos Estados Unidos em Wuhan deve partir na manhã de quarta-feira (hora da China) com destino à Califórnia, anunciou o Departamento de Estado. Outros assentos serão oferecidos a cidadãos americanos "dependendo dos lugares disponíveis". 

A França enviará na quarta-feira um primeiro voo para repatriar no dia seguinte seus primeiros cidadãos de Wuhan. Uma lista de 500 pessoas já foi estabelecida pelo consulado local, mas o número pode chegar a 1.000, já Wuhan recebe muitos estudantes franceses, além das fábricas da Renault e PSA. 

As pessoas retiradas serão submetidas a um período de quarentena.

"Temos todos os meios, a confiança e os recursos para ganhar rapidamente a batalha contra a epidemia", afirmou o ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi.

Primeiros contágios fora da China

O número de vítimas fatais aumentou para 106, e o de casos confirmados supera 4.500 na China, de acordo com o balanço oficial atualizado. A cidade de Pequim informou na segunda-feira a primeira morte provocada pelo coronavírus: um homem de 50 anos que retornara de Wuhan. 

Outros 50 pacientes foram registrados no restante do mundo, e mais de 10 países foram afetados pelo vírus - na Ásia, na Austrália, na Europa e na América do Norte.

A Alemanha, segundo país afetado na Europa, depois da França, informou na segunda-feira um primeiro caso de um cidadão que viajou a Wuhan e, nesta terça, o primeiro contágio entre humanos na Europa: um homem que teve contato com uma colega chinesa que visitou o país.

O Japão também anunciou que um caso de coronavírus em seu território, um homem de 60 anos, aconteceu com um paciente que não viajou à China, mas que transportou turistas de Wuhan em um ônibus.

A OMS ainda não se pronunciou após os contágios fora da China. 

A ameaça de propagação é considerável. O prefeito de Wuhan admite que cinco milhões de pessoas deixaram a cidade de 11 milhões de habitantes antes do Ano Novo chinês, celebrado em 25 de janeiro.

Bateria de medidas

A propagação do vírus aumenta a ansiedade e a bateria de medidas de contenção. Muitos países reforçaram a precaução nas fronteiras. A Mongólia fechou a passagem terrestre com a China.

A Malásia proibiu a estada de pessoas procedentes de Hubei. Vários países recomendaram que seus cidadãos evitem viajar para esta província, mas a Alemanha ampliou o conselho para toda China. O governo dos Estados Unidos fez o mesmo.

As autoridades chinesas decidiram prolongar por três dias, até 2 de fevereiro, o feriado de Ano Novo (sete dias de recesso), para adiar as viagens de retorno para suas cidades de centenas de milhões de trabalhadores migrantes e reduzir o risco de propagação da epidemia.

Além disso, o início do semestre letivo nas escolas e universidades foi adiado por tempo indeterminado, informou o Ministério da Educação.

A Administração Nacional de Imigração também recomendou aos moradores da China continental que adiem os planos de viagem ao exterior "não necessárias". Hong Kong anunciou o fechamento de locais públicos, como estádios, museus e piscinas.

Wuhan parece uma cidade fantasma. Lojas permanecem fechadas e as autoridades proibiram a circulação de veículos não essenciais. 

Nos hospitais, a situação permanece caótica. A construção de dois hospitais, com 1.000 leitos cada, deve terminar na próxima semana.

"A capacidade de propagação do vírus aumentou, mas não é tão potente como a SARS", afirmaram autoridades chinesas, em referência à Síndrome Respiratória Aguda Severa, que deixou centenas de mortos no país no início dos anos 2000. 

A crise aumentou os temores de um enfraquecimento mais intenso da economia chinesa e do cenário mundial.

Saiba quais países se organizam para retirar seus cidadãos do território chinês:

Japão

As autoridades japonesas confirmaram nesta terça-feira que começarão a fazer a retirada de cerca de 200 japoneses atualmente em Wuhan. 

Os 650 japoneses que vivem nessa metrópole expressaram o desejo de serem repatriados. 

Austrália

O Departamento de Relações Exteriores da Austrália anunciou nesta terça-feira que tentará repatriar todos os seus cidadãos, a maioria dos quais com dupla cidadania. 

O departamento disse que recebeu cerca de 400 pedidos para serem incluídos na lista de evacuados.

Camberra não tem consulado em Wuhan, mas o primeiro-ministro Scott Morrison confirmou que o governo está negociando termos com as autoridades chinesas. 

Além de falar com o Reino Unido e os Estados Unidos sobre planos de evacuação, ele disse que estava trabalhando com a Nova Zelândia para remover em conjunto seus cidadãos daquela província. 

Índia

Segundo os meios de comunicação, o governo da Índia pedirá permissão a Pequim para retirar mais de 250 indianos de Wuhan e, em  Mumbai, um Boeing 747 está esperando para buscá-los. 

Indonésia

Jacarta relatou que cerca de 100 indonésios vivem em Wuhan e outros 143 na província de Hubei. 

O Ministério das Relações Exteriores disse nesta terça-feira que não decidiu ainda sobre um plano de evacuação. 

Sri Lanka

Colombo disse que organizou o retorno de 860 estudantes, dos quais 32 estavam em Wuhan. 

Coreia do Sul

Seul enviará aviões fretados esta semana, segundo a mídia, para repatriar centenas de sul-coreanos na quinta ou sexta-feira. 

Tailândia

O porta-voz da força aérea tailandesa disse nesta terça-feira que esperará uma autorização das autoridades chinesas para proceder à evacuação de seus cidadãos. 

No momento, 64 tailandeses - 49 estudantes e 15 trabalhadores ou turistas - estão atualmente em Wuhan. 

Filipinas

O Ministério das Relações Exteriores informou nesta terça-feira sobre a possível evacuação de 150 filipinos de Wuhan e outros 150 da província de Hubei, mas ainda não confirmou seus planos. 

Estados Unidos

O departamento de Estado anunciou que um avião fretado deixará Wuhan nesta quarta-feira com cerca de 240 cidadãos americanos a bordo, incluindo o pessoal consular. 

França

O Ministério da Saúde confirmou que está preparando uma evacuação aérea de seus cidadãos. 

Aproximadamente 500 franceses estão registrados no consulado de Wuhan, mas seu número total, incluindo os não registrados, é provavelmente de cerca de mil, de acordo com o secretário de Estado das Relações Exteriores, Jean Baptiste Lemoyne. 

Alemanha

Berlim não confirmou nenhum plano de evacuação, mas disse estar considerando muitas opções para cerca de 90 cidadãos em Wuhan. 

Marrocos

Segundo a mídia, cerca de 100 pessoas, principalmente estudantes de Wuhan, serão evacuados. 

Espanha

As autoridades espanholas estão trabalhando com a China e a União Europeia para tirar seus cidadãos da área, disse o ministro das Relações Exteriores às agências de notícias.