O Partido Conservador anunciou, na manhã desta segunda-feira (5), sua nova primeira-ministra, Liz Truss. Até então, ela ocupava o cargo de ministra das Relações Exteriores. Truss foi escolhida pelos membros do partido com 58% dos votos, após o que ela chamou, em seu discurso da vitória, de "a entrevista de emprego mais longa da história". O processo para escolha do novo líder britânico começou há quase dois meses, após a renúncia de Boris Johnson.
Truss, de 47 anos, venceu por 81.326 votos contra 60.399 para o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak, de 42 anos, um bilionário ex-executivo do setor bancário e neto de imigrantes indianos. Ela é a terceira mulher a ocupar a posição, após Margareth Thatcher e Theresa May. Truss declarou que está alinhada aos principais valores do Partido Conservador e citou, em seu discurso, o corte de impostos, por exemplo.
Nesta terça-feira (6), Liz Truss se encontrará com a Rainha Elizabeth no castelo escocês de Balmoral, residência de verão da monarca. Aos 96 anos e com crescentes problemas de mobilidade, ela não se deslocará a Londres para a ocasião, pela primeira vez desde que subiu ao trono há 70 anos.
Quem é Liz Truss, nova primeira-ministra do Reino Unido
Antes de se tornar primeira-ministra, Liz Truss passou por diversos cargos no governo de seus colegas conservadores. Com Boris Johnson (2019-2022) foi secretária do Comércio Internacional e, desde o ano passado, atuava como secretária das Relações Exteriores.
Com Theresa May (2016-2019), chefiou as pastas da Justiça e do Tesouro. Já com David Cameron (2010-2016), estava à frente do Ambiente. Nesse último cargo, Truss contrastou com seu antecessor ao dizer que acreditava na mudança climática sobre a qual os cientistas alertam e também que a humanidade estava contribuindo para o aquecimento.
Casada e mãe de duas filhas, Truss citou seus pais em um debate na TV em julho. Ela não é exatamente o que se pode chamar de orgulho da família: na verdade, seus pais ficaram horrorizados quando a filha se juntou ao Partido Conservador. "Fui criada num ambiente bastante de esquerda", disse ela ao jornal The Guardian em 2009. Nascida em 1975, Truss cresceu em Leeds, importante cidade industrial do norte da Inglaterra.
Priscilla Truss, mãe da nova primeira-ministra, fazia parte de uma ONG que lutava pelo desarmamento de bombas atômicas pelas superpotências. A menina, inclusive, participou de passeatas antinucleares na juventude, levada pela mãe. Mas, quando Liz se candidatou ao Parlamento pela primeira vez, pelo Partido Conservador, Priscilla concordou em ajudar a filha na campanha.
Já o pai, John Kenneth, um professor universitário de matemática, negou-se a participar. Quando um colega de Kenneth soube da filiação de Elizabeth, enviou um email dizendo: "Vi que sua filha se tornou uma t*", brincando com a ideia de que "tory" -apelido dos conservadores no Reino Unido- seria um palavrão feio demais para se escrever.
"Eu nunca conheci tories na escola. Todos os meus professores eram do Partido Trabalhista", contou Truss sobre sua vida em Leeds. Após um breve namoro com o partido de centro Liberal Democrata — a terceira força política no Reino Unido, atrás dos conservadores e dos trabalhistas —, Truss foi para a Universidade de Oxford. Lá, estudou política, economia e filosofia e também conheceu pela primeira vez estudantes conservadores. Quando fez seu primeiro estágio, na companhia Shell, ela já pedia horas de folga aos seus chefes para poder participar de convenções no Partido Conservador.
Durante a campanha, Truss se envolveu em uma polêmica ao criticar sua antiga escola em Leeds. Segundo ela, muitas crianças ali estavam desiludidas com a baixa qualidade da educação, ao que o atual diretor da escola retrucou que ela não sabia do que estava falando. "Primeiro ela disse que nossa escola tinha uma orientação de esquerda e agora critica nossos professores", reclamou.
Após os comentários de Truss de que a escola era "vermelha", veio à tona o fato de que, na verdade, o Partido Conservador controlou a política educacional de Leeds entre 1955 e 1997, o que inclui os anos em que ela estudou lá.
Quais são os desafios de Liz Truss como nova primeira-ministra do Reino Unido
Truss inicia seu governo às vésperas da "catástrofe de inverno", que é como os britânicos estão chamando as consequências da crise de energia ocasionada pela Guerra da Ucrânia. Espera-se que as contas de luz, que custavam uma média anual de £ 2.000 (R$ 12 mil), pulem para £ 3.600 (R$ 21,5 mil). O aumento de 80%, aliado à inflação, pode causar mortes e sofrimento no segundo semestre, com famílias sendo obrigadas a escolher entre cozinhar ou aquecer a casa, em temperaturas médias entre 4°C e 9°C.
Truss foi severamente criticada durante a recente campanha por não se aprofundar sobre o tema, dizendo vagamente que não acreditava em fazer doações — em referência à possibilidade de o governo oferecer benefícios em assistência às famílias. Membros de seu próprio partido vieram a público para criticá-la.
Em junho, a atual inflação do Reino Unido ultrapassou a média anual de 10% pela primeira vez desde 1982, quando os países eram governados pela também conservadora Margaret Thatcher (1979-1990). Sempre comparada à antiga primeira-ministra, Truss já rebateu as comparações. "Margaret Thatcher foi há muito tempo. Temos novas batalhas para vencer. Minha filosofia pessoal é dar às pessoas a oportunidade de tomarem suas próprias decisões".
Outra cobrança feita a Truss foi a mudança de posição em relação ao brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, oficializada por Boris em janeiro de 2020. Quando as pesquisas indicavam apoio da população à manutenção do Reino Unido no bloco, ela atuou a favor disso, mas mudou de ideia justamente quando as pesquisas tenderam à saída.
(Com AFP e Ivan Finotti/Folhapress)
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