O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, anunciou por meio de sua conta nas redes sociais que está disposto a colaborar com o Ministério Público na investigação do acordo realizado com o Brasil sobre Itaipu, que acabou sendo cancelado pela crise política que quase gerou um processo de impeachment contra ele.
Tanto Abdo Benítez quanto Hugo Velázquez foram convocados a depor à Procuradoria do país. O processo se trata de uma causa penal aberta para determinar se houve irregularidades na assinatura da ata bilateral sobre o uso de energia de Itaipu por Paraguai e Brasil.
O caso ficou mais grave quando foram entregues ao Ministério Público conversas vazadas entre o então presidente da Ande (estatal energética paraguaia) e o advogado José Rodríguez, que se apresentava como assessor jurídico de Velázquez. Depois que os chats vieram à tona, ambos negaram ter um vínculo.
Nas conversas, fala-se de uma possível venda de parte da energia que corresponde ao Paraguai a uma empresa brasileira, a Léros, que segundo essas mensagens estaria ligada à família Bolsonaro.
Alguns dias depois, outros diálogos divulgados mostraram que, além de Velázquez, o presidente Abdo Benítez também estaria a par da negociação e a teria aprovado.
"Como disse sempre, nosso compromisso é com a transparência. Estamos à disposição da Procuradoria para colaborar com a investigação e a busca pela verdade", afirmou Abdo Benítez por meio de suas redes sociais.
O jornal paraguaio ABC Color afirmou que o acordo cancelado na semana passada, além de ter sido feito em sigilo –poucas pessoas no governo estavam a par–, foi fechado sob pressão em relação às datas e aos itens a serem negociados por parte do Brasil.
Segundo a publicação, "o Brasil declarou sem rodeios quais benefícios esperava obter", e que a reunião era para "superar a atual divergência entre a Ande e a Eletrobras".
Em 9 de abril, a chancelaria paraguaia aceitaria as exigências do Brasil, que teria redigido essa nova versão do acordo. A ata foi assinada em Brasília em 24 de maio e não teriam sido considerados os pedidos de mudança entregues pela própria Ande.
Em nota divulgada na noite desta sexta-feira (9), o Itamaraty diz que " todo o processo de negociação que resultou na assinatura da Ata Bilateral não foi secreto. Em todas as reuniões houve a participação dos representantes dos Ministérios das Relações Exteriores de ambos os países, da Eletrobras, da Ande e da Itaipu Binacional."
A nota, assinada também pelo Ministério das Minas e Energia, também diz que "o Tratado de Itaipu somente permite a venda da energia produzida pela usina para a Eletrobras e para a Ande. Portanto, não tem qualquer fundamento a especulação sobre a possibilidade de comercialização da energia da usina binacional por parte de alguma empresa que não seja a Eletrobras e a Ande" e que os dois países seguem em diálogo sobre como dividir a energia gerada pela usina.