Caos

Tensão no Chile: Grupo de mineiras teme não poder voltar em data programada

Em viagem turística, brasileiras reclamam de caos aéreo em meio a protestos; visitantes esperam por novo voo há dois dias para, então, retornar ao Brasil

Ter, 22/10/19 - 02h00
Revolta chilena. Tanto os protestos quanto a repressão a eles são considerados violentos | Foto: Pablo Vera/AFP

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A realização de um sonho e a busca de paz interior converteram-se em pesadelo e ansiedade para a belo-horizontina Thais Bastos, 26. Acompanhada de duas amigas, a relações-públicas desembarcou no Chile na última quarta-feira. Tudo ia bem, até que, passados dois dias, ela se viu em meio ao caos que se instalou no país na sexta-feira – quando manifestações, iniciadas em Santiago, tomaram todo território chileno, levando a conflitos com a polícia. 

Desde a eclosão dos protestos, voos vêm sendo cancelados. Só no aeroporto internacional de Santiago, cerca de 4.500 pessoas aguardavam remarcações na noite de sábado.

O grupo de Thais, por exemplo, espera, há dois dias, por um embarque saindo de Calama para a capital chilena. “É nessa cidade o aeroporto mais próximo de San Pedro de Atacama, onde a gente estava”, diz. “No domingo cedo chegamos ao aeroporto, e tudo estava um caos”, lembra. Elas estavam cientes da situação no país: “Era disso que todos falavam tanto nas ruas quanto nos noticiários”.

Inicialmente, o voo havia sido remarcado para a manhã de ontem. Mas, outra vez, houve mudança no itinerário. A expectativa, agora, é que deixem a cidade às 16h30 de hoje. “A gente está aguardando para ver se vai sair mesmo”, observa.

Em relação ao retorno para o Brasil, a apreensão é maior. “A gente voltaria na quarta de manhã, saindo de Santiago. Mas, como já cancelaram duas vezes, não dá para ter certeza de quando vamos embarcar”, comenta. “E mesmo que a gente consiga chegar (a Santiago), há o risco de nosso voo para o Brasil ser prejudicado, pois muitos foram cancelados, e isso virou uma bola de neve”.

Em Calama, que possui pouco mais de 130 mil habitantes, protestos começaram a ser notados pelas brasileiras. Do hotel, elas puderam ver quando, anteontem, “manifestantes caminhavam pacificamente até que a polícia chegou, e eclodiu um confronto, com bombas de gás”, diz. 

“Está tudo fechado, supermercados, lojas... Até a comida do hotel, que está cheio por conta dos cancelamentos, está acabando: você pede o que está no menu e descobre que não tem mais”, revela.

O grupo de Thais diz não ter recebido nenhum tipo de suporte da companhia aérea chilena Sky Airlines. Elas estão pagando com dinheiro próprio as diárias do hotel.

Centenas de voos foram cancelados

De acordo com o jornal chileno “La Tercera”, até a manhã de domingo 95 voos já tinham sido cancelados, e outros 20, reprogramados, no aeroporto internacional de Santiago. O periódico também registra que cerca de 4.500 pessoas estavam no lugar na noite de sábado, sendo que algumas aguardavam havia mais de 12 horas por um novo embarque – muitas dormiam no chão do aeroporto. A Latam, por meio de suas redes sociais, informou que voos saindo ou chegando a Santiago sofrerão ajustes, que podem ser monitorados no site da companhia aérea.

Mortes chegaram a 11 no fim de semana

Pelo menos 11 pessoas morreram em protestos e incêndios, e 1.500 foram detidas, de acordo com informações do governo chileno. Desde a última sexta-feira, uma onda de protestos tomou o país. O estopim para a revolta foi o aumento de preço das tarifas de transporte em 3,75% nos horários de pico, mas outras demandas ganharam rápida aderência nas manifestações.

Os protestos, que começaram na capital, espalharam-se pelo país, mesmo após o presidente Sebastián Piñera ter cancelado, na noite de sábado, o aumento tarifário.

O metrô de Santiago chegou a ser fechado, ônibus, estações e edifícios foram incendiados, e houve saques e confrontos de manifestantes com a polícia. Piñera disse anteontem que o país estava “em guerra” e o Exército foi para as ruas. 

A alta comissária para direitos humanos da ONU e ex-presidente do Chile Michelle Bachelet pediu investigações independentes sobre as mortes e sobre o possível uso excessivo de força.

Falta assistência

De acordo com relatos de brasileiros em aeroportos chilenos, faltam informação e suporte de companhias aéreas, e a situação é considerada caótica.

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