Personagem

Aprendizado e esforço marcam vida de artista 

Rodrigo Alves, morador do Petrolândia, tem uma trajetória de dedicação à arte baseada na perseverança de quem acredita para se destacar no que gosta é uma luta diária

Rodrigo Alves. Jovem de 27 anos é admirador da cultura que envolve o rap, hip hop e o grafite | Foto: O TEMPO CONTAGEM
PUBLICADO EM 31/10/14 - 03h00

Um artista que tem na arte da rua seu objeto de admiração. Esse é Rodrigo Alves, ou Rodrigo Kolg, como se identifica o grafiteiro de 27 anos. Morador do bairro Petrolândia, ele produz arte há dez anos e procura, a cada dia, aperfeiçoar sua técnica.

Rodrigo afirma que sua atração pelo desenho começou ainda na época de escola. “Fui tomando gosto pela arte e em 2004 passei a comprar revistas de tatuagem e grafite, o que me ajudou a desenvolver minhas técnicas”, diz. Ele conta ainda, que sempre foi apaixonado pela cultura que envolve toda a arte do grafite, que inclui também o rap e o hip hop. “As pessoas envolvidas nessa área realizam um trabalho comunitário muito legal –como o duelo de MC’s que acontece debaixo do viaduto Santa Tereza, em Belo Horizonte – e ganharam a minha admiração. Geralmente todos os eventos são de graça ou pedem apenas 1 kg de alimento para ajudar o próximo. Por lá, há uma relação de respeito mútuo, como se estivéssemos dentro de nossas próprias casas”, conta.

O artista revela que o primeiro muro que pintou, há aproximadamente sete anos, continua intacto, apesar do tempo. Foi em parceria com um amigo, em uma casa localizada em cima de uma sorveteria na praça Irmã Maria Paula, no bairro Petrolândia. “As donas da casa tinham pedido ao Smash para fazer um grafite no muro da casa delas. Ele me chamou para ajudar e finalizamos o trabalho juntos. Se tornou um dos locais de maior destaque na área por chamar muito a atenção”, conta.

Aproveitando para se qualificar para o mercado de trabalho, mas sem abandonar o gosto pela arte, mais tarde Rodrigo fez um curso de projetista mecânico e como uma das disciplinas inclui desenho técnico, ele passou a desenvolver uma arte mais geométrica. No entanto, apesar de ter feito as aulas de qualificação, ele não chegou a exercer a profissão, pois sofreu dois acidentes de motocicleta – o primeiro, em abril de 2013, e o outro, em maio deste ano. “Atualmente não estou conseguindo mais arrumar emprego, porque as indústrias não estão contratando, já que não posso carregar peso”, diz.

O artista também conta que já trabalhou como cobrador de ônibus, o que, para ele, foi uma experiência muito interessante. “Nesse tipo de trabalho nós acabamos fazendo muitas amizades e conhecendo muitas pessoas. É claro que há as mal-educadas, que por algum estresse do cotidiano acabam descontando no funcionário, porém são minoria”, conta.

Para o grafiteiro, apesar de o trabalho dos artistas do grafite serem admirados por muita gente, ele ainda é pouco valorizado. “O que eu mais vejo é a pessoa indo na loja de departamentos e comprando a reprodução de uma arte, pagando às vezes R$ 150 ou 200 R$ e resistindo a pagar R$ 100 para fazer uma pintura à mão que de repente o artista gastou dez ou 20 horas para produzir”, afirma.

Ele conta que certa vez teve que reconstruir o retrato do avô de uma cliente refazendo, inclusive, metade do rosto que faltava. Ela adorou o desenho, porém na hora do pagamento as coisas mudaram. “Quando disse que o preço era R$ 80 ela tentou desconversar, e tive que explicá-la que o valor cobrado pagava somente o tempo que eu havia gasto naquele trabalho”, diz.

Rodrigo considera que há muito preconceito em relação à arte do grafite, que ainda é considerada pichação e vandalismo. Apesar disso, ele enxerga que as coisas estão começando a mudar no Brasil. “Atualmente as pessoas já estão abrindo suas mentes para o grafite, autorizando que se faça em muros, e, alguns artistas, inclusive, estão conseguindo espaço para expor seus trabalhos em várias partes do mundo. Eu sempre digo que uma cidade colorida é melhor que uma cidade em preto e branco”.

Para ele, o valor do grafite atualmente na sociedade infelizmente está relacionado ao fato de ser uma arte vinda da periferia. “O grafite não ganha valor maior porque as pessoas que o fazem são pobres, carentes. Você não vê um rico sujando as mãos de tinta. Os que tem dinheiro e fazem grafite é porque possuem um nome já famoso e têm patrocínios de empresas”, afirma.

Sobre ter nascido com dom para a arte, Rodrigo desconversa e afirma não acredita que tenha sido seu caso. “Tem gente que fala que tenho dom, mas não creio, porque quem tem dom já nasce sabendo fazer. No meu caso eu aprendi”, revela.