Além das inúmeras emissoras de rádio e televisão, que dedicam horas à cobertura completa da ainda desconhecida pandemia na qual vive o mundo, mas, sobretudo, o Brasil, os principais jornais do país realçaram dois grandes acontecimentos históricos no último domingo: a conquista da Copa do Mundo de 1970 e a morte de 50 mil brasileiros vítimas da Covid-19.

Sobre o primeiro, muitos, como eu, curtiram, com certeza, enorme saudade. O segundo – baseado em estatística – foi a “celebração” mais triste a que assisti em minha vida. O luto e a dor, leitor, tomaram conta de milhares de famílias, que não tiveram sequer a oportunidade de se despedir dos entes mais queridos.

O medo, tanto com a pandemia quanto com os rumos que o país pode tomar nas mãos do presidente Jair Bolsonaro, está claro na fisionomia da maioria dos brasileiros. A partir do tratamento que deu a esses dois flagelos, perdeu o rumo do seu governo. Isso, aliás, já havia começado nas diversas oportunidades em que manifestou o seu desapreço pela democracia.

Julgamento

Recentemente, superou-se ao afirmar, em nome dos militares, que “nós – referindo-se às Forças Armadas, a ele próprio e aos processos que correm no STF e no TSE – jamais aceitaríamos um julgamento político para destituir um presidente democraticamente eleito”. Depois, finalizou com esta advertência: “Está chegando a hora de tudo ser colocado no seu devido lugar”. O presidente se julga o novo intérprete e o único guardião da libertária Constituição Federal de 1988.

Com a prisão do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, a crise que se inicia a partir daí ganhará nuances seriamente comprometedoras. Sua última tentativa de estabelecer a paz entre os Poderes deu-se na última sexta-feira, com o envio de três representantes para conversar com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. O presidente imagina que, com esse gesto, levará o STF a interromper os processos (para ele políticos) que tramitam contra ele e que se devem aos malfeitos dele e dos filhos.

Missão constitucional

Refletindo sobre o que disse o presidente, vieram-me à mente a sua imagem truculenta e, junto com ela, os constantes arroubos e confrontos que ensejou desde o início do seu mandato, em 2019. Aos poucos, leitor, o presidente vai perdendo, também, o respeito da nação brasileira.

Será que não passa pela mente conturbada de Jair Bolsonaro que o Supremo jamais se dobrará a ameaças e, por isso, jamais deixará de cumprir sua missão constitucional, como já deixou claro diversas vezes, e que determinará a punição dos culpados?

O país precisa de paz para se desenvolver com liberdade. Somos um povo cuja metade da população vive sem saneamento básico. Até quando teremos tanta injustiça e desigualdade?