Acílio Lara Resende

Só farol alto é capaz de iluminar o que é preciso enxergar

Frase de Otto Lara Resende nos lembra a importância da razão

Por Da Redação
Publicado em 16 de julho de 2020 | 03:00
 
 

Alguns dos meus artigos brotam de um título qualquer. Ou de uma frase solta que li ou ouvi por aí. Títulos e frases soltas contêm sentidos profundos. O jornalista e escritor Otto Lara Resende, dono de frases que mantêm uma saudade que não se apaga, faz falta hoje, não só à sua família – mulher, filhos, netos etc., mas à imprensa e ao país.

Para se enxergar adequadamente qualquer assunto (um ensinamento dele), asseste-se o farol alto, que vem do interior de cada um e ilumina aquilo que ganhamos de graça – a razão, irmã gêmea da inteligência. Só ele nos mostra o principal. Assestar o farol alto é o que falta a Bolsonaro e a esses operadores do ódio incentivados por ele. Que ganharam corpo e gabinete. Suprem-nos a anticultura, a antieducação, a antidemocracia, a antiarte etc. e, nesta cruel pandemia, a anticiência.

No último domingo, chamou-me especial atenção uma foto, no jornal “O Globo”, de Donald Trump – um político “baixo clero”, despreparado e arrogante, com quem, aliás, nada tenho a ver, ou, na realidade, nada teria a ver se a ele não fosse concedido, de fato, o enorme poder que tem à mão. Pela primeira vez, deixou-se fotografar de máscara. Por qual motivo? Porque a peça-chave na sua tentativa de reeleição poderá ser a Flórida, governada por um republicano, mas que registrou mais de 15,3 mil novas infecções pelo coronavírus em 24 horas, número superior ao de qualquer outro Estado norte-americano.

Antes de me recolher, assisti na TV a entrevista com gente de farol alto. Uma gente brasileira, com certeza! Uma gente inteligente, culta e bem-informada. Ou você não sabe que o Brasil, contra tudo e contra todos, dispõe hoje de cientistas respeitados no mundo?

A pneumologista Margareth Dalcolmo, o microbiologista Átila Inhomerim, a infectologista Maria Amélia Veras e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, que participaram da entrevista, me deixaram menos desanimado. Cansado, fui dormir, mas levei comigo esta certeza: o responsável pelo não enfrentamento do coronavírus no país tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro, presidente da República.

Enfim: o ministro Gilmar Mendes não fez advertência aos nossos briosos militares, que jamais praticariam um genocídio, mas ao presidente Bolsonaro, que está mantendo, há 60 dias, no Ministério da Saúde, um interino, um militar da ativa, rodeado não por médicos, mas por 27 militares, enquanto a Covid-19 mata milhares de brasileiros.

Por último: a entrevista do vice-presidente Hamilton Mourão à GloboNews, na última terça-feira, me fez entender por que Bolsonaro não assesta o farol alto: até o posto de capitão, no Exército, dá-se atenção ao preparo físico; o preparo intelectual, disse o general, só vem depois…