Opinião

Dia Internacional contra a Homofobia

Trajetória de 1960 a 2020

Por Aliel Paione
Publicado em 17 de maio de 2020 | 03:00
 
 

No Dia Internacional contra a Homofobia, celebrado dia 17 de maio, sinto a necessidade de me manifestar. Sou natural de uma cidade do interior de Minas Gerais que, na década de 1960, tinha os aspectos bem conhecidos inerentes ao provincianismo. Havia, como é natural em todo lugar, alguns homossexuais. Lembro-me que, quando era criança, me causava estranheza suas vidas solitárias e a segregação que sofriam. Já na pré-adolescência, repudiava a situação, mas a compreendia integralmente. Por serem homossexuais, não se assumiam publicamente porque sentiam o peso que carregavam.

Naqueles tempos opressivos em que as pessoas deviam corresponder aos estereótipos sociais, o temor de qualquer criança mais retraída e tímida, mesmo sem nenhum motivo, era receber a alcunha que em cada lugar tinha uma denominação diferente. Naquele estranho interior era veado, veadinho ou bicha e, ao serem assim designados, iniciava-se para eles um calvário. Perdiam sua dignidade e o respeito social.

Machões deveriam constantemente provar sua masculinidade: deveriam ser bons de briga, beber e ótimos na cama com mulheres – sobretudo isso. Eram um bando de idiotas (na maioria, mentirosos), mas não importava. Era assim aquela sociedade preconceituosa e que mantinha permanentemente afivelada ao rosto a máscara da hipocrisia. Com raras exceções, aquele ambiente conspirava contra a diversidade espiritual e a favor de uma mentalidade mesquinha.

Porém, qual a razão de tudo isso? Por que o repúdio e o preconceito desmoralizante? Claro, as razões são sociológicas, psicológicas ou culturais, que não cabem aqui ser analisadas. Porém, basicamente, todos sabemos: são devidas à orientação sexual.

É admissível que um preconceito tão terrível decorra somente de uma necessidade inelutável de satisfazer o desejo amoroso, que não é o padronizado, se é que isso exista. Ora, um indivíduo deve ser rejeitado por seu mal caráter, porém nunca pela sua liberdade de amar a quem quiser e do jeito que quiser. Não merecem nenhum olhar diferenciado, pois são semelhantes a nós, com todos os defeitos e qualidades inerentes ao homem e isso é indiscutível. Eu escrevi um romance, “Sol e Sombras”, em que narro o sofrimento de um homossexual nos anos 1920, onde procuro resgatar aquela realidade que me incomodava na infância.

O comportamento social evoluiu e, atualmente, mesmo diante da discriminação, os homossexuais assumiram sua liberdade e já não se submetem aos preconceitos advindos da ignorância. Existem pouquíssimas coisas essenciais nesta vida e, sem dúvida, a solidariedade, a generosidade e a liberdade de existir respeitando-se mutuamente são as que devem prevalecer e pelas quais vale a pena lutar.