Ibmec-BH

Gestão das finanças pessoais

Processo longo de mudança de hábitos e necessidade de investimentos

Por Marcos Antônio de Camargos
Publicado em 23 de abril de 2024 | 07:02
 
 
Marcos Antônio de Camargos Gestão das finanças pessoaijpg Foto: Ilustração/O Tempo

As rápidas transformações pelas quais a sociedade tem passado nas últimas décadas têm, por um lado, facilitado o acesso a serviços e produtos do mercado financeiro, mas, por outro, observa-se que o nível de educação financeira da população brasileira não tem evoluído na mesma velocidade. Infelizmente, a forma como o brasileiro se relaciona e faz a gestão do seu dinheiro não permite que ele, muitas vezes, participe do mercado financeiro, seja por não dispor de recursos (dificuldade de poupar), seja por desconhecimento e medo de perder dinheiro.

A gestão eficiente do dinheiro é cada vez mais relevante na busca do equilíbrio financeiro, pois proporciona maior segurança e assertividade na tomada de decisões pessoais. Entretanto, para obter os resultados desejados, deve-se ter em mente que se trata não de uma ação isolada em determinado período, mas sim de um processo de médio e longo prazo, que exige uma mudança de hábitos, focada no consumo consciente, na necessidade de poupar e realizar investimentos no mercado, visando à formação de reserva financeira, tanto para enfrentar situações inesperadas (desemprego, doenças) no curto prazo quanto para dispor de recursos que garantam a qualidade de vida e o bem-estar financeiro durante e após a vida laboral (aposentadoria).

Nesse contexto, o planejamento financeiro ao longo da vida é crucial para ter o controle das finanças. Ele começa com a identificação, pessoal ou familiar, da renda total disponível, ou seja, todos os recursos de que se dispõe para manter os pagamentos. Em paralelo, devem ser levantados todos os gastos fixos e variáveis, mapeando, dessa forma, de onde vem e para onde vai o dinheiro em cada mês.

Uma vez realizado o levantamento desses valores, procede-se a uma análise detalhada. Inicialmente, deve-se identificar o peso dos gastos que são recorrentes (fixos) no orçamento familiar (alimentação, moradia, educação, saúde, transporte), visando saber o percentual da renda mensal que está sendo comprometido. Caso se constate que estão consumindo valor maior ou quase toda a renda, deixando nenhuma ou pouca margem para os gastos variáveis (lazer, viagens etc.), é necessário que se façam alguns ajustes, no sentido de reduzi-los ou cortá-los, adequando-os, dessa forma, à realidade financeira do momento. 

Infelizmente, numa situação como essa, a necessidade de tomar recursos emprestados (endividamento) é quase inevitável, podendo resultar, no médio prazo, no descontrole financeiro (inadimplência) caso não seja equacionada rapidamente.

Na gestão das finanças pessoais, além do controle dos gastos, é crucial que a pessoa planeje bem o seu consumo, adiando decisões que envolvam valores elevados, no intuito de poupar o máximo de recursos para realizá-lo, visando evitar a contratação de dívidas para financiá-lo, tendo em vista o contexto macroeconômico brasileiro de elevadas taxas de juros no mercado de crédito. Decisões acertadas de consumo são aquelas que não estão atreladas ao crédito.

Enfim, finanças pessoais se fundamentam no tripé: consumo consciente, controle de gastos e poupança de recursos, que deve ser investida no mercado financeiro. Trata-se da adoção de estratégias e atitudes que otimizam a forma como as pessoas veem e se relacionam com seus recursos financeiros, culminando na melhoria da sua qualidade de vida. Efetuar o pagamento de todas as contas em dia, sem ter que recorrer ao uso de dívidas ou ao cartão de crédito para se manter até o final de cada mês, e ainda conseguir poupar e aplicar parte da renda no mercado financeiro, deveria ser o objetivo de toda pessoa.

Marcos Antônio de Camargos é Doutor em administração e professor de finanças da faculdade Ibmec-BH