Opinião

Os impactos da pandemia em nossa mente

O grande aprendizado do futuro

Por Rosana F. de Vasconcelos Vilaça
Publicado em 30 de julho de 2020 | 03:00
 
 

2020! Um ano indomável.

Nos últimos meses enfrentamos mudanças forçadas que talvez, sem que percebamos, deixarão marcas relevantes em nossas vidas.

Nos últimos dias, após um primeiro momento de prosternação, as pessoas foram se acostumando e se acomodando a uma nova realidade.

A Covid-19 trouxe um momento de reflexão e nos obriga a fazê-lo agora. Estamos vivenciando e sendo levados a adotar medidas que mudaram radicalmente nossa realidade, a relação com a sociedade e com o ambiente.

Medidas como o uso de máscaras e de álcool em gel e o hábito de lavar as mãos foram incorporadas, e certas condutas se tornaram normais num novo entorno. Um novo cenário se estabeleceu. Estamos isolados, confinados. E estamos solitários? Sim, mas com outras pessoas, o que muitas vezes se torna sensível e delicado.

O que é mais grave e preocupante não é a convivência se desgastar, mas você perder a solidão. Como isso é complexo! Se você está com uma outra pessoa, ela pode te chamar a todo instante... Um filho, por exemplo diante de sua mãe... O substantivo “Mããããe, nome mais doce do dicionário inteiro, ecoa em milésimos de segundos. Ou seja, a solidão não é necessariamente silenciosa.

Nossa queixa antes, era a falta de tempo, o pouco tempo para ficar em casa com a família. Mas, e agora? Agora estamos juntos demais, unidos em tempo integral e passear, sair de casa, nos foi retirado, sem data certa para devolução.

Então, se não posso ir para fora, o caminho mais seguro, e menos arriscado, é andar para dentro de nós mesmos.

Vivíamos antes, na extrema vaidade externa. Buscávamos a todo instante recompensa, conforto, reconhecimento, aplauso. Mas, e agora?

Agora, a gente vai precisar de outros estímulos, muito mais coerentes, sólidos e resistentes, como a confiança, o afeto, o amor em sua forma mais sublime de expressão e cuidar de nossas emoções é importantíssimo. Educar nossos corações é fundamental. E como fazer isto? Usando o cérebro para descobrir nossa melhor versão de nós mesmos é uma estratégia assertiva. É importante lançar mão de fatores e mecanismos que nos permitem superar e nos adaptarmos a situações adversas.

Sabemos dos impactos da pandemia em nossa mente, e segundo a Neurociência, especialistas podem identificar como o cérebro humano se comporta quando entra em contato com novas informações. Temos sistemas cerebrais de regulação das emoções, entre eles, a habituação.

O grande aprendizado do futuro é a capacidade de enfrentar coisas com as quais não estamos acostumados. O futuro demanda pessoas que reajam a situações inusitadas porque as pessoas que só reagem ao previsível são facilmente substituídas pela era digital.

Se enfrentamos uma situação nova, a qual causa certo incômodo, certa angústia, já temos de imediato um grande aprendizado, lembrando que somos subjetivos, e cada um enxerga os fatos de uma forma. E devemos reagir de forma positiva aos desafios que nos são apresentados.

Sejamos resilientes no ato de enfrentar um leão por dia.

A resiliência vem como palavra chave dessa crise, ainda que exista o medo de que coisas cotidianas não voltem nunca mais e teremos efeitos a curto e longo prazo.

Existe o receio que não haja mais o contato físico, a presença do outro, fazendo com que a convivência se torne impossível.

Foi necessária uma pandemia, um vírus – um pequeno e invisível vírus –, para percebermos a pequenez do ser humano.

O distanciamento social vem em forma de esforço que já fizemos e estamos fazendo, para conseguir “achatar a curva”. E tudo isso é tão rude, tão cruel, tão pungente.

E com as crianças? O brincar com outras crianças está sendo tolhido delas. Mas e se quando for declarado o fim desse isolamento, como será nossa postura? O que faremos? Como estaremos com nossa consciência?

Depois de tudo isso, nossa parte emocional, afetiva ganhará destaque. Em nome de um equilíbrio interno, aquela pessoa que priorizava carreira, status, holofotes, vai priorizar a família.

No campo do aprendizado a habilidade de enfrentar o desconhecido, o aleatório pode ser um aliado importante para fortalecer e nutrir a confiança, aumentando nossa capacidade socioemocional.

Quando nos transformamos, transformamos tudo ao nosso redor. Segundo Bauden, é preciso acreditar no potencial humano para que outro mundo seja possível.

Que a saudade de tudo nos faça melhores do que antes: melhores emocionalmente, mais sábios socialmente e mais poderosos intelectualmente.

A educação contribui para que as pessoas possam ampliar sua capacidade de articular teorias, formar pensamentos próprios e fazer escolhas de forma consciente e somos muito adaptáveis, e quando tudo isto passar, tenhamos a certeza de que o cérebro saberá se readaptar outra vez ao seu ambiente, compreendendo o mundo em sua plenitude.

Sejamos conscientes em fazer a nossa parte. Nossa atitude pode fazer toda a diferença.

E tenhamos a certeza de tudo isto vai passar, porque vai!