É provável que a expressão “elefante branco” não tenha sido bem assimilada por muitas pessoas. O termo é originado no nascimento de Siddhartha Gautama (Buda). A tradição indica que, ao ser presenteado com um “elefante branco”, obtinha-se, ao mesmo tempo, uma bênção e uma maldição.
Em texto recente (“Aberta a temporada de caça ao elefante branco”, O TEMPO, 25.2), a expressão foi usada de maneira precipitada. Ao se referir à Prodabel como uma empresa de “formato antiquado” e “pouco transparente”, um jovem vereador demonstra não conhecer os temas.
A Prodabel é uma empresa de informática que se transformou nas últimas décadas colocando-se a serviço dos cidadãos de Belo Horizonte. A Informática Pública (IP) é um tema que os vereadores nunca se preocuparam em debater, pois estão interessados nos pequenos grupos que os elegeram.
Houve um tempo em que a empresa publicou textos sobre o assunto. Entretanto, gestões municipais recentes “esconderam” os debates e a ciência no fundo de sites, que deveriam ser transparentes. Pesquisadores, preocupados com as informações e ciosos da proteção dos dados dos cidadãos, buscavam o esclarecimento sobre a importância da IP.
Assim sendo, muitos profissionais de TI dedicaram suas vidas construindo esse legado de proteção para o cidadão belo-horizontino.
Infelizmente, nos últimos anos, presenciamos uma sequência de demissões e a destruição desse patrimônio do município que foi denominado “elefante branco”. Como se não bastasse, a expressão “privatização branca” tem sido aplicada em todo o país para justificar certas posições políticas contra empresas e profissionais.
A IP tem sofrido uma sequência de ataques, que colocam a privacidade dos cidadãos sob ameaça. Os dados da saúde de um cidadão, como as vacinas recebidas, são informações que devem ser protegidas de uma privatização branca.
A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) responsabiliza a prefeitura, ou o fiel depositário, pela garantia de privacidade das informações de todos os cidadãos.
Contudo, quando se avança na privatização branca, com pseudoargumentos como aqueles utilizados pelo vereador, desrespeita-se a lei.
Além desse quadro, as recentes direções da empresa protagonizaram a distribuição dos dados por todo o planeta, e critérios de responsabilização efetiva são precários. A demissão de profissionais preparados e a contratação de experts em redes sociais, com seus dedinhos ágeis, não garantem muito de privacidade e ainda colocam sob risco os gestores que virão a seguir.
Enfim, somente a informática pública, com profissionais qualificados, e sem arroubos, proporciona ao cidadão e ao contribuinte de Belo Horizonte a proteção de seus dados.
Muito além da questão da empregabilidade, está a obrigação de defesa dos direitos do cidadão de Belo Horizonte. A Câmara Municipal deve ser a Casa para assegurar que o “elefante branco” seja uma bênção, e não uma maldição.