Qual é o impacto da pandemia no mercado de trabalho?

Sabemos que o estrago da pandemia do coronavírus tem sido grande no tecido econômico e social do mundo inteiro. Não conhecíamos algo tão desastroso. A famosa gripe espanhola, que matou milhões de pessoas no planeta nos anos de 1918-19, fez 15 mil vítimas mortais na capital federal – o Rio de Janeiro –, mas não deixou registros nos jornais da época que circulavam em São João del-Rei – uma das cidades mais importantes de Minas Gerais.

Agora a pandemia do novo coronavírus nos alcança. Estamos há seis meses com restrições sociais que jamais imaginamos enfrentar. Uma cidade alegre nos relatos dos historiadores que nos visitaram no século XIX transformou-se diante de uma quaresma triste e interminável.

Os números nacionais estão na mídia: PIB do segundo trimestre caiu 11% em relação a igual período de 2019, e milhões de pessoas perderam seus empregos. Mas qual é o tamanho da crise sobre um município? Há duas estatísticas que nos possibilitam mensurar o tamanho do impacto no mercado de trabalho formal e informal. As estatísticas do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)mostram a perda de 944 postos de trabalho com carteira assinada, principalmente no comércio (421) e serviços (374) no período de março a maio, em São João del-Rei. Fora desse mercado de trabalho formal com 20 mil empregados, está um número expressivo de trabalhadores informais que só conhecemos a cada dez anos, quando o IBGE realiza seu recenseamento.

Agora, com o auxílio emergencial do governo, tornou-se possível dimensionar o setor informal da economia de cada município brasileiro. O Portal da Transparência do governo federal informa, por exemplo, que no mês de julho 26.471 pessoas foram beneficiadas em São João del-Rei, sendo 17.401 fora do cadastro único de famílias carentes (3.920 no Bolsa Família e 5.150 fora do Bolsa Família).

Com uma população de 90 mil habitantes, sendo 20 mil empregados com carteira assinada, e 27 mil aposentados e pensionistas do INSS, São João del-Rei descobre que mais de 26 mil pessoas precisaram ser socorridas pelo auxílio emergencial do governo. Por lei, têm direito ao auxílio os microempreendedores individuais, os autônomos e trabalhadores informais.

Em três meses (de março a maio), o número de pessoas que perderam emprego com carteira assinada em São João del-Rei (944) foi do tamanho da soma dos novos postos de trabalho criados de 2017 a 2019, na recuperação após os desastrosos anos de Dilma Rousseff.

Há uma esperança no ar de que possamos rapidamente recuperar as perdas deste ano. Os números da produção e do emprego já estão mostrando sinais positivos. Contudo, a crise está longe de acabar, enquanto não se houver vacina eficaz e amplamente disponível e uma economia gerando empregos produtivos.