Editorial

"Apartheid da vacina"

Desigualdade de imunizantes entre países ricos e pobres

Por Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2021 | 03:00
 
 

A desigualdade na distribuição de vacinas pelo mundo cria um cenário sombrio. Ontem, na Cúpula Global da Saúde, o secretário geral da ONU, António Guterres, afirmou que “o pior pode estar por vir” se não forem ampliados os esforços para o acesso universal à imunização.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) constatou que 45% das doses aplicadas até o momento foram em países de alta renda, que concentram 15% da população. Enquanto, para as nações pobres e médios, que somam mais da metade dos habitantes do planeta, chegaram 17% das doses. Isso configura o que o diretor da OMS, Tedros Adhanon, classificou de “apartheid da vacina”: um abismo de desigualdade de acesso a direitos essenciais com base na renda. Na África, por exemplo, há 20 milhões de imunizantes aplicados no continente de 1,2 bilhão de habitantes.

Na sexta-feira (21), a Pfizer BioNTech e a União Europeia anunciaram intenção de enviar 1,1 bilhão de doses para países pobres até o fim do ano. Na segunda-feira (17), os EUA haviam prometido entregar 80 milhões de doses de que não necessitam mais. É um esforço louvável, mas, como são necessárias duas aplicações para a imunização completa, apenas um quarto dos 2 bilhões de pessoas que vivem em situação de miséria no planeta seria atendido pela iniciativa.

Outra face desse apartheid é a barreira à entrada de estrangeiros nos países com maior índice de imunização. Nesta semana, 27 nações da União Europeia relaxaram critérios para a entrada de turistas, mas excluíram os brasileiros. E os EUA não admitem vacinados com Coronavac (responsável por mais de dois terços dos imunizantes aplicados no Brasil). Sem romper essa desigualdade, o mundo não vencerá a pandemia, e o pior que a ONU alertou se concretizará na forma de um planeta doente e miserável.