Em meio à maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul, a população afetada, que ainda sofre com as inundações e a falta de serviços básicos, enfrenta outro inimigo: o alto risco da transmissão de doenças, como a leptospirose. A enfermidade é transmitida pelo contato direto com a urina de ratos infectados com a bactéria Leptospira ou por meio de água e lama contaminadas.
Em áreas de risco de inundações, a incidência da doença pode aumentar mais de dez vezes, diz o Instituto Butantan citando a Organização Mundial da Saúde (OMS). O controle dos roedores também é importante para evitar a proliferação da infecção. Em Porto Alegre, moradores denunciaram infestação de ratos e baratas após as inundações. Em 2023, o Brasil registrou 3.128 casos de leptospirose, e o Sul do país teve a maior incidência: 1.221 – houve 70 mortes na região.
Os atuais testes são um grande obstáculo para o diagnóstico, pois só detectam a infecção uma semana depois do início dos sintomas – quando já existem complicações e risco de morte. Além disso, a doença pode se manifestar até 30 dias após o contato com lama ou água contaminadas.
Preocupada, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) divulgou nota recomendando o uso de antibióticos específicos como prevenção para pessoas expostas às águas das enchentes por período prolongado, equipes de socorristas e voluntários, grupo considerado de alto risco.
Segundo o Ministério da Saúde, quem for infectado pela Leptospira pode apresentar febre súbita acima de 38°C – com duração de 7 a 14 dias –, calafrios, dor de cabeça, dor muscular (principalmente na panturrilha), náusea, vômitos e falta de apetite na primeira semana após contato com água infectada. Os quadros mais graves ocorrem em 15% dos casos, a partir da segunda semana. A mortalidade, em torno de 10%, pode chegar a 50%.
A prevenção urge diante do caos. Até ontem, segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, 397 municípios haviam sido assolados pelas enchentes – 79,88% dos 497. As inundações afetaram 1,4 milhão de pessoas e já deixaram quase cem mortos e mais de 130 desaparecidos. Se medidas preventivas não forem adotadas imediatamente, o sofrimento da população do Rio Grande do Sul pode se tornar ainda maior e se estender por um período ainda mais longo.