Sem aviso aos usuários do transporte coletivo da região metropolitana, algumas linhas de ônibus começaram a operar, recentemente, sem o agente de bordo, mais conhecido como “cobrador”. Sua função foi transferida para o motorista, exclusivamente.
Em justificativa à decisão, as empresas argumentam que a medida foi determinada pelo aumento no uso da bilhetagem eletrônica, quando o pagamento da passagem é feito por meio de cartão. O problema é que nem todo mundo aderiu ao sistema.
Os usuários não aceitaram pacificamente a inovação. Temem um acidente de maior gravidade, uma vez que o motorista, além de conduzir o veículo, tem de cobrar as passagens e gerenciar a roleta. Queixam-se, também, que a prática atrasa as viagens.
Os motoristas também reclamam. Recebem uma bonificação de 20% sobre o salário bruto, mas alegam que ela não compensa o trabalho e os transtornos. A legislação de trânsito prevê multa para quem cobra passagens com o veículo em movimento.
Maior motivo para reclamar têm os cobradores que ficaram desempregados. Só em Contagem, em 2015, 2.000 deles foram demitidos. Houve redução no custo das empresas, e essa queda só foi repassada em parte para os motoristas, mas não para o valor das passagens.
O poder público gestor do sistema promoveu, na realidade, um aumento do lucro dos empresários. Isso só vem fomentar a desconfiança, existente na sociedade de que há uma cumplicidade entre as empresas de transporte coletivo e o poder público.
Inovações tecnológicas são bem aceitas em período de bonança na economia. Em época de crise, elas são duplamente cruéis. No caso, além de desempregar, ela aumenta a exploração do trabalhador e ainda coloca em risco a segurança de todos.
A sociedade não é contra a inovação, mas sabe quando ofende o bom senso.