Editorial

Preconceito mortal

Negligência e cultura machista contribuem para avanço do câncer de próstata

Por Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2020 | 03:00
 
 

Imagine que você tivesse o poder de evitar uma doença que mata uma em cada 41 pessoas atingidas por ela. Imagine que, para isso, você só precisasse ir ao médico uma vez por ano. Mas, entre o desejo e a realidade, existem a negligência e o preconceito, que devem resultar em mais de 65 mil casos de câncer de próstata e mais de 15 mil mortes somente neste ano no Brasil.

A importância do dia 17 de novembro, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, é tornar visível o quanto um comportamento baseado em ideias preconcebidas pode ser letal. Segundo o Instituto de Urologia e Cirurgia, sete em cada dez homens não têm o costume de ir ao urologista. E esse não é um comportamento de pessoas pouco esclarecidas: o mesmo levantamento mostra que seis em cada dez desses homens têm ensino superior completo.

Infelizmente, há uma associação descabida entre o exame de toque retal – um dos principais meios de identificar o câncer em sua fase inicial e aumentar as chances de cura para 90% – e uma perda da masculinidade do paciente. De cada cinco entrevistados há três anos pelo instituto Datafolha sobre o assunto, um afirmou que o exame de toque “não é coisa de homem”. E os índices atuais de mortes e comparecimento ao médico indicam que essa atitude tem mudado pouco desde então.

Neste ano, 55% das pessoas ouvidas pelo Instituto de Urologia afirmaram que deixaram de se consultar por causa da pandemia e do isolamento social. Mas, ainda que a Covid-19 seja uma ameaça, nem esse é um argumento suficiente, pois consultórios estão abertos, e médicos, preparados para a prevenção da doença. Já é mais do que hora de a sociedade abandonar preconceitos e negligência, pois o que ela tem a ganhar com a mudança é um prêmio maior: a vida.