Editorial

Proteger as crianças

Violência dentro de casa contra os mais vulneráveis

Por Da Redação
Publicado em 09 de abril de 2021 | 03:00
 
 

Entre outros significados, o dicionário Aurélio define “covarde” como alguém “desleal e traiçoeiro”. Poucas traições são maiores do que agredir aquele que, por natureza, somente aguarda carinho e proteção. E dificilmente se encontra um ato mais desleal e covarde do que a violência contra a criança.

As investigações sobre a morte do menino Henry Borel, de apenas 4 anos, trouxeram novamente à tona esse mal, que não é exclusivo da sociedade brasileira, mas que nela encontra terreno fértil. Dados da Ouvidora Nacional de Direitos Humanos mostram que, em todo o ano passado, foram mais de 95 mil denúncias de violência contra menores no país.

No total de agressões registradas por serviços como Disque 100, Fala.BR, aplicativos e outros canais, somente a violência contra idosos acima de 80 anos motivou mais ocorrências do que aquela contra crianças entre 5 e 9 anos. E geralmente, com uma frequência abissalmente superior às das demais categorias, o agressor e a vítima moram na mesma casa. Algo que torna a pandemia, ao mesmo tempo, um catalisador da brutalidade e uma cortina de fumaça para o crime. Nos dados da Ouvidoria, houve uma queda de 22% nas denúncias de violência contra a criança do primeiro para o segundo semestre, mais pela subnotificação e pelo medo do que por uma eventual consciência dos criminosos.

O fato ressalta a importância de vizinhos e conhecidos não se omitirem ao perceberem sinais como hematomas e reclamação de dores pela criança; estresse e ansiedade; mudanças de comportamento (como voltar a fazer xixi na cama, irritação constante e sem motivo); ou mesmo o aumento da agressividade com outras crianças. Denunciar não é se intrometer em um assunto de família, é salvar vidas. Isso, não importa o dicionário consultado, se chama “coragem”.