Entrega diferente da promessa

Caroço no angu: aval da CBV para volta do piso anterior 'escancara' tiro no pé

Entidade deu ok para clubes mudarem o equipamento depois de compra com material de qualidade inferior e seguidas reclamações e casos de lesão

Por Daniel Ottoni
Publicado em 28 de novembro de 2020 | 17:50
 
 
Dificuldade do piso para deslizar é apenas uma das várias criticas dos jogadores Wander Roberto - Inovafoto - CBV

O tiro no pé dado pela CBV parece ter sido de uma bala de canhão. Não bastando as críticas de jogadores, clubes e torcedores pela troca de piso sem, ao menos, consultar os envolvidos diretamente na Superliga, veio a informação do site UOL de que a entidade gastou mais de R$ 3 milhões com um piso de qualidade inferior. Era de se esperar a entrega de um material decente com um gasto tão alto. 

A mudança serviu para mostrar o despreparo de quem deveria ter a obrigação de ter um cuidado maior em uma mudança deste tamanho. As reclamações não demoraram a acontecer, acompanhadas de casos de lesões com um equipamento que deixou a desejar desde o primeiro momento. Isso dentro de um torneio que se diz um dos mais fortes do planeta. Esta coluna trouxe depoimentos de atletas criticando o piso pouco tempo depois da decisão ter sido tomada. 

A CBV afirmou, em assembleia, que compraria 24 pisos da marca 'Taraflex', usando, posteriormente, o argumento de que se referia ao tipo de piso e não à marca específica que os clubes estavam acostumados a jogar. Não era mais fácil ter jogado 'limpo', abrir o jogo? Essa é uma dificuldade constante da entidade. 

O material oferecido pela empresa chinesa Enlio sequer entra na lista de pisos de "segunda categoria" da FIVB. Ao mesmo tempo, a Recoma, empresa que negociou contrato com a CBV, possui documento assinado pelo presidente da FIVB, o brasileiro Ary Graça, dizendo que o piso da Enlio de 7mm é "recomendado" pela federação internacional.

Um curioso paradoxo, reforçado pelo certificado da FIVB para utilização do equipamento somente até dezembro, no meio da Superliga. Era de se esperar um outro tipo de conduta da CBV, com muito mais cuidado, zelo e preocupação com algo tão importante na principal competição que realiza. Quem conhece o histórico da entidade, no entanto, não se surpreende com mais um ato de descaso. 

A coluna 'Esportivamente' fez contato, há algumas semanas, com a CBV, que informou que representantes da empresa estariam indo ao Rio de Janeiro para reuniões. O retorno recebido foi de que o que aconteceu foi um contato diário para monitoramento de todo o trabalho.

A 'buzina', mais do que justa, fez com que a CBV realizasse reuniões virtuais com os clubes, que se posicionaram sobre a possível troca. Muito me impressionou boa parte dos times da Superliga masculina não optarem pela mudança, que deve ocorrer em breve no torneio feminino. 

O risco de lesões, o piso que não desliza, a dificuldade de não identificar os pontos úmidos, a cor amarela que incomoda a vista, as linhas brancas que dificultam a localização de onde a bola saiu, tudo isso não foi suficiente para a maioria dos clubes masculinos optarem por uma mudança imediata.

Apenas o Sesi (SP) foi a favor da mudança. Não bastando o piso ser de uma qualidade inferior, comprometendo a integridade física dos jogadores, foi ainda mais descabido a compra não ter sido feito da maneira correta. Coisas de CBV. 

Os clubes masculinos preferem esperar até o final do ano antes de novas decisões. Vou torcer pra que nada de grave aconteça para que a ficha 'caia' de vez. A CBV levantou a bola, dando a chance para a mudança e a opção inicial foi de manter como está. 

Vamos aguardar para, em breve, ver quais clubes do feminino vão adotar as mudanças definitivas. Temos a chance de, em curto espaço de tempo, termos jogos da mesma rodada em quadras amarelas e laranjas, em pisos com qualidades e materiais diferentes. Não faz sentido algum a falta de padronização, que ilustra bem como a Superliga carece de mais cuidado.

O que era pra ser uma jogada de marketing da CBV, querendo promover o Banco do Brasil, se tornou em um enorme e extremo descuido de uma entidade que mostrou, mais uma vez, pensar somente no seu próprio umbigo, ignorando os protagonistas da maior competição do país. Detalhe: em ano pré-olímpico. É melhor nem tentar entender pra não ver fumaça na cabeça.