Coluna Esportivamente

Tiro no pé: novo piso da CBV mal entrou em ação e já desperta críticas e riscos

Decisão de marketing não foi bem aceita por jogadores e público; atletas não foram consultados antes de importante mudança que os envolve diretamente

Por Daniel Ottoni
Publicado em 05 de novembro de 2020 | 10:52
 
 
 
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Quem estava acostumado a ver os jogos de vôlei no Brasil logo estranhou a nova quadra que será utilizada na temporada 2020/2021. O que poderia ser uma 'simples' mudança de cor, com a possibilidade de todos logo se acostumarem, mostrou ter problemas que podem interferir no resultado final de um jogo e causar risco de lesões para os atletas. 

No Super Vôlei, disputado em Saquarema, a sequência de jogadoras escorregando e se contundindo ligou o sinal de alerta (acompanhe o vídeo abaixo). O grande problema foi que o novo piso não permite a melhor visualização das gotas e marcas de suor na quadra. Para piorar, o ginásio fica a poucos metros do mar, com a maresia deixando o piso ainda mais escorregadio. 

"Fica difícil identificar, dentro daquele amarelo claro, onde a quadra está molhada. Às vezes, se consegue ver somente de alguns ângulos. O juiz vê de onde está, mas a gente, de dentro da quadra, não.  Além disso, o tom de amarelo ficou muito claro, achei horrível. É uma cor que desgasta a vista, a mudança não nos favoreceu em nada. Gostava mais do laranja com verde, como foi usado por seguidas temporadas", comenta a central Carol Gattaz, do Itambé Minas. 

A ideia da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) foi realizar uma ação em parceria com seu principal patrocinador, o Banco do Brasil. Para isso, colocou o piso com as cores da instituição, em formato que teve muitas reprovações. Os torcedores chegaram a realizar, por meio das redes sociais, um abaixo assinado, acompanhado da #trocaopisoCBV. 

A CBV está no direito dela de buscar soluções e novidades para promover a competição. Mas, em se tratando de um assunto que envolve diretamente os jogadores, seria prudente fazer testes e consultá-los antes. Eles são os profissionais diretamente afetados pela mudança e que já sentem as consequências. Pra mim, foi um tiro no pé. A ideia, em um primeiro momento, não emplacou e gera além de críticas, risco para os atletas. Poderiam ter trabalhado de uma outra forma, mas preferiram fazer sem o devido cuidado. "É difícil ver onde a quadra está molhada. Além disso, a secagem demora mais tempo", pontua o levantador Brasília, do Azulim Gabarito Uberlândia. 

Sem contraste

Para piorar a situação, a cor da bola é idêntica à da quadra, dificultando a marcação da arbitragem, além da linha branca, que limita a quadra, ser num tom claro, próximo ao amarelo. "A bola da mesma cor confunde, principalmente para os árbitros. Não existe contraste de cor entre o lado de dentro e a linha, , isso dificulta para ataques e saque a 120km/h. Eles poderiam optar por uma outra cor mais forte, um verde ou vermelho, por exemplo. Ficaria mais fácil de enxergar os limites da quadra, o branco fica ofuscado pelo amarelo", comenta o líbero Maique, do Fiat Minas.

Aderência, mas 'peixinhos' com mais risco

Um dos poucos pontos positivos apontados pelos atletas foi a maior aderência da quadra provocada pelo material do novo fornecedor. "O lado bom é que não desliza tanto. Pra mim, que preciso ter agilidade e tempo de reação, favorece. Mas, nas quedas, se machuca mais, chega a queimar", analisa o defensor, que teve opinião compartilhada pelo rival Filipe, do Sada Cruzeiro.

"É um material mais pegajoso, que desliza menos. Na hora de um 'peixinho', a blusa e short ficam presos, existe mesmo o perigo de se machucar. Foi boa a padronização porque, às vezes, chegávamos em alguns lugares que não tinham o piso ideal, agora este problema não existe. Espero que, com o tempo de uso, o piso comece a deslizar mais. Em relação à quadra molhada, estamos tendo que passar o pé para tentar identificar melhor os pontos úmidos, a identificação destas 'poças' está bem mais difícil", destaca o ponta. 

Tentativa de modernizar

Em entrevista à Máquina do Esporte, o diretor de competições de quadra da CBV, Radamés Lattari, tentou justificar a 'inovação'. 

"A gente queria fazer algumas mudanças para modernizar a Superliga e trazer algumas ideias novas. Fizemos contato com o Banco do Brasil, que topou um projeto incentivado com a gente para fazer a aquisição de 24 pisos. Em troca, criamos a identidade de quadra com as cores do banco. Nossa ideia era a colocação dos pisos e também a aquisição de desafios, um para cada clube. Mas como para isso e custo é mais elevado, a captação demora um pouco mais. Então estamos fazendo por etapas. Agora, com o que já captamos, devemos ter toda a fase final da Superliga já com o desafio", destacou.

O desafio segue sendo uma ausência absurda, que deveria ser prioridade, mas é ignorado. Fiz contato com a CBV, enviei perguntas sobre a mudança de piso, seus riscos e possibilidade de mudança e não tive nenhum retorno. 

Os atletas que se preparem pois a temporada 2020/2021 terá uma barreira a mais em treinos e jogos. A CBV conta com o 'acaso' para que lesões graves não apareçam. 
 

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