Devemos respeitar a Bíblia, mas dizer que ela é a palavra de Deus, de capa a capa, é um exagero. Isso só pode ser admitido por quem entende pouco de Bíblia e é um religioso fundamentalista.

Ela foi escrita por homens. E a afirmação de que eles foram inspirados pelo próprio Deus para escrever tudo o que nela se encontra é uma blasfêmia, pois não podemos atribuir a Deus a autoria dos erros constantes dela, já que Deus não comete erros. Essa afirmação é um erro crasso dos teólogos do passado e uma teimosia dos atuais.

Outro erro, que é uma aberração e se choca frontalmente com os ensinamentos do judaísmo, do islamismo e do verdadeiro cristianismo, ou seja, próprio do monoteísta sem mistérios e dogmas, é a doutrina de que Jesus é outro deus, tal qual o Deus único, Pai, origem de tudo ou, como nos ensina a doutrina dos espíritos codificada por Kardec, a causa primária de todas as coisas e a inteligência suprema.

Alguns teólogos querem estabelecer diferença entre falar com Deus face a face e ver Deus. Essa interpretação é equivocada. O próprio Moisés, corrigindo o erro de que falou com Deus face a face (Êxodo 33,11), não faz essa diferença: "Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá minha face e viverá" (Êxodo 34,20).

Também Jacó, erroneamente, diz que viu Deus face a face (Gênesis 32, 30). Aliás, esse episódio é também contraditório, pois ali é afirmado que Jacó lutou com um homem, que não pôde com ele, e então esse homem feriu Jacó na coxa.

Mas é dito também que a luta de Jacó foi contra Deus (Gênesis 32, 28). E mais, Deus perdeu a luta. Pergunto: será que Deus se materializaria, logo para lutar com alguém e, além disso, saiu perdendo a luta, por isso o feriu na coxa (diga-se, aliás, que essa coxa, na verdade, é o órgão genital de Jacó)?

É óbvio que Jacó lutou com um espírito materializado, que ele e Moisés, o autor do texto, pensaram tratar-se do próprio Deus, embora, como vimos, também tenham admitido que essa luta foi contra um homem.

Lembremo-nos de que Deus não é de confusão (1 Coríntios 14,33). Valorizo a Bíblia, pois a uso para confirmar o que digo, mas sem exagero, pois sei que ela tem também erros que não posso aceitar, muito menos atribuí-los a Deus.

Sou mais teósofo do que teólogo. Esse é bitolado à teologia da sua religião, aquele é um estudioso de religiões ou das teologias das principais religiões, comparando-as umas às outras. O teólogo estuda teologia dentro da sua religião. O teósofo estuda Deus e as teologias, sem estar dentro de religiões. Procura conhecer o outro lado da moeda, estudando-as sem viseiras.
Creio ser oportuno citar aqui Rui Barbosa: "Os diplomatas se fazem nas escolas, mas os sábios se fazem nas bibliotecas e laboratórios". Acrescento que são sábios os que têm o dom, são humildes e reconhecem, como Sócrates, que nada sabem diante do que há para ser conhecido.
O teósofo segue Helena P. Blavatsky, que proclamou que não há religião maior do que a verdade. E Deus também é verdade. Mas, mesmo que a Bíblia contivesse apenas verdades, seria idolatria nós a colocarmos acima de Deus!

PS: 1) As ex-alunas do Colégio Providência de Mariana promovem seu encontro anual de 18 a 20 de setembro. Contato pelos telefones (31) 3557-2204, 3558-5403 e 3852-4075.
2) Agradeço os comentários de Sebastião do Vale, Luiz Goursand e Waldir M. Machado.