Jesus, o Filho de Deus, é o mesmo Filho do Homem? Parece que os primeiros cristãos, inclusive os próprios apóstolos, não entenderam bem isso. Jesus se intitula o Filho de Deus, que estaria mais ligado a Deus, enquanto que o Filho do Homem se ligaria mais à humanidade.
Jesus disse a Nicodemos: "Ora ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu - o Filho do Homem [que está no céu]" (João 3:13). Se o Filho do Homem desceu do céu e subiu ao céu, ele já deveria ter estado anteriormente aqui na Terra. Não pode, pois, o Filho do Homem ser Jesus, já que Jesus se encarnou e não reencarnou aqui na Terra. E Jesus fala de uma terceira pessoa, que não é Ele. Ademais, a frase "que está no céu" está entre colchetes, que equivalem a parênteses. Esses sinais ortográficos teriam o objetivo de diminuir a força de expressão do texto? Aliás, algumas Bíblias nem trazem essa frase "que está no céu", exatamente porque os teólogos e exegetas sempre tiveram Jesus como sendo também o Filho do Homem.
E, assim, se o Filho do Homem fosse Jesus, haveria aqui uma contradição, pois naquele momento, em que Jesus falava com Nicodemos, Ele, Jesus, estava aqui no mundo físico. Como, pois, Ele poderia estar no céu, o mundo espiritual?
Eis outro exemplo: "Qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos" (Lucas 9:26). Jesus não está falando Dele próprio, mesmo porque Ele não julga o mundo, mas o salva (João 12:47). E, no Velho Testamento, o Filho do Homem é que é o julgador no juízo final, e é o senhor dos exércitos, que não deve também ser confundido com Deus Pai: "Mas o senhor dos exércitos é exaltado em seu juízo; e Deus, o santo, é santificado em sua justiça" (Isaías 5:16).
Alguns biblistas afirmam ser o Filho do Homem o espírito de verdade, o consolador prometido e o Espírito Santo, que realiza as obras de Deus e seria, pois, o juiz do juízo final. Cabe aqui dizermos que, para Kardec, o consolador prometido é a doutrina espírita, o espírito de verdade é o que chefiou os espíritos da codificação espírita, e o Espírito Santo é o conjunto de espíritos iluminados. Sem querer contradizer Kardec, o verdadeiro reformador do cristianismo, acrescento que o Espírito Santo, biblicamente, abrange todos os espíritos humanos. "Vosso corpo é santuário dum Espírito Santo" (1 Coríntios 6:19). Realmente, um dia, todos nós vamos ser também espíritos iluminados, e isso segundo o próprio Kardec. Dizendo diferentemente: o Espírito Santo abrange todos os espíritos iluminados, mas como, um dia, todos os espíritos vão ser iluminados, o Espírito Santo é todos nós, embora a grande maioria de nós só tenha, por enquanto, o gérmen da iluminação, ou seja, nós somos espíritos iluminados, mas ainda apenas em forma de sementes, ou ainda só em estado potencial, como diz a filosofia.
Termino esta matéria com o profeta Zacarias demonstrando-nos as duas identidades diferentes do Filho de Deus e do Filho do Homem: "Os dois ungidos que estão sempre de pé diante Daquele que é o Senhor da Terra inteira" (Zacarias 4: 11-14).
PS:
1) Recomendo "Reflexões sobre Temas Bíblicos", de Fernando José Marques, e "O Filho do Homem na Terra", de Roberto C. P. Júnior, ambos da Editora Ordem do Graal na Terra, de São Paulo.
2) Feira de Livros Espíritas da União Espírita Mineira (UEM), na rodoviária, de 22.10.2011 a 6.11.2011.