Jose Reis Chaves

José Reis Chaves é teósofo e biblista e escreve às segundas-feiras

As doutrinas da transubstanciação e da consubstanciação

Teologias respeitadas pelos espíritas dividem outros cristãos

Publicado em: Seg, 21/07/14 - 03h00

Pelo fato de eu ter abordado, em matéria recente desta coluna, as doutrinas da transubstanciação (católica) e consubstanciação (protestante e evangélica, de modo geral), recebi alguns e-mails com perguntas e dúvidas. Por isso, volto ao assunto.

A transubstanciação (“além da substância”) é a crença da Igreja Católica que afirma que a hóstia e o vinho consagrados são o corpo e o sangue reais de Jesus.

Lutero recorreu à palavra ubiquidade (“presença de um ser em mais de um local”), e usou o termo “consubstanciação” (“com a substância”), que significa que o pão e o vinho consagrados têm a presença divina de Jesus; aquela mesma que está presente no seu corpo está também no pão e no vinho consagrados, transformando-os no corpo e no sangue reais de Jesus.

Já os protestantes e evangélicos seguidores de Calvino, Zwíglio e outros não aceitam as ideias de Lutero e da Igreja, chamando-as de “idólatras”, pois levam à adoração. Outros dizem que a presença é só espiritual, pois o corpo de Jesus está no céu. Para os protestantes e evangélicos, de modo geral, as frases de Jesus “Isto é meu corpo” e “Isto é meu sangue” são figuradas, e não literais, pois Jesus recorria muito ao simbolismo. Ele disse ser a porta, como se diz também que Kardec é a chave dessa porta. É óbvio que essas frases são simbólicas.

A Igreja Ortodoxa Oriental, a Anglicana, a Luterana e as igrejas calvinistas e presbiterianas creem na presença real relativa do corpo de Jesus no pão e no vinho consagrados, pois não aceitam totalmente a transubstanciação da Igreja Católica.

Atentemos para a palavra “presença”. Ela significa que um ser está presente em algum local ou em outro ser. São, pois, dois seres: o que recebe a presença e o que nele se torna presente. Mas o ser que recebe a presença não se transforma nessa coisa presente. Assim, o pão e o vinho consagrados não se transformariam no ser presente neles, ou seja, o corpo e o sangue de Jesus.

O pão e o vinho consagrados, recebedores da presença divina do corpo e do sangue de Jesus, não se tornariam, pois, no corpo e no sangue de Jesus, segundo Lutero. Realmente, uma pessoa, visitando alguém, não torna esse alguém nela. A pessoa presente (visitante) é uma, a visitada continua sendo ela mesma, não passando a ser a visitante. Ora, Deus está presente em todo lugar, mas os lugares não se transformam Nele porque Ele está neles. E como Deus tem livre-arbítrio, Ele está presente somente onde Ele quiser estar. Mas essa questão da consubstanciação para Lutero, baseada na ubiquidade divina de Jesus, e de algum modo variável para a Igreja Ortodoxa Oriental e as igrejas protestantes, em geral, cheira a panteísmo, pois, ao dizerem que Jesus é outro Deus, todo ser em que Ele estiver presente viraria Deus!

O espiritismo interpreta também figuradamente as citadas frases de Jesus sobre o pão e o vinho das cerimônias da chamada “santa ceia”. Mas tem um grande respeito para com todas as variadas interpretações exegéticas bíblicas e teológicas dos demais cristãos sobre a transubstanciação e a consubstanciação, e não condena, pois, ninguém por crer ou não crer em determinada doutrina.

Na TV Mundo Maior, canal aberto e a cabo em algumas regiões, por parabólica digital e www.tvmundomaior.com.br, o “Presença Espírita na Bíblia”, com Celina Sobral e este colunista, às 20h das quintas-feiras, e às 23h dos domingos etc (ver a grade de programação). Perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br.

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