PRÓXIMO FIM DE SEMANA

Grandes damas aportam na capital

Em projetos distintos, as ícones das artes cênicas Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro vêm a BH

PUBLICADO EM 18/08/18 - 03h00

Não apenas nomes da maior importância para as artes cênicas do país, Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg são figuras essenciais da cultura brasileira contemporânea. Em atividade no palco, na TV, no cinema, com passagem pelo rádio e sem se furtar a tomar posições e se engajar politicamente, as duas damas da dramaturgia, por uma oportuna coincidência, aportam em Belo Horizonte a partir da próxima sexta (24). Cada uma para apresentação de um projeto particular. 

Fernanda, que completa 89 anos em outubro, lança na capital o livro “Fernanda Montenegro: Itinerário Fotobriográfico”, chancelado pelo selo Sesc (leia mais em quadro nesta página). Ela também se dedica à obra de um dos nomes centrais do teatro brasileiro, fazendo leitura dramática do livro “Nelson Rodrigues por Ele Mesmo”, de Sônia Rodrigues, no sábado (25) e domingo (26), às 19h, no Sesc Palladium (ingressos R$ 20, a inteira). 

Já Nathalia, com recém-completos 89, traz para a cidade, ao lado da pianista Clara Sverner, o espetáculo musical erudito “Chopin ou o Tormento do Ideal”, dirigido por José Possi Neto, em cartaz também nos dias 24 e 25.


Em BH, elas ocupam palcos diferentes, mas com o domingo livre, Nathalia já cogita aproveitar a ocasião para assistir à amiga de longa data. O primeiro registro de uma parceria entre elas, aliás, data do ano de 1956, em “Nossa Vida com Papai”, peça dirigida por Gianni Ratto. No ano seguinte, voltaram a ter seus nomes nos elencos de “Os Interesses Criados” e de “Rua São Luiz, 27, 8º andar”. Desde então, não pararam mais.

Juntas, dividiram o que Fernanda chega a creditar como “talvez, os melhores anos das nossas vidas”. A passagem está no livro que agora lança e se refere ao período de atividade de O Grande Teatro (1957-1965), que teve as atrizes como fundadoras, ao lado de Sergio Britto, Fernando Torres, Flávio Rangel, Ítalo Rossi e Manoel Carlos. “Foi o nosso grande laboratório de ofício. Nosso material de trabalho resultou em mais de 400 textos da melhor literatura brasileira, estrangeira e, principalmente, de dramaturgia”, descreve Fernanda em seu “Itinerário Fotobriográfico”.

Também atravessaram períodos difíceis. Se insurgiram contra as perseguições e censuras do regime ditatorial (1964-1985) e, mais recentemente, encararam com indignação a polêmica criada em torno do beijo trocado por elas na novela “Babilônia” (Globo, 2015). “Sugeri o beijo quando ensaiávamos a cena. Demos um beijinho afetuoso de amor, sem língua ou qualquer outra coisa. Aí ocorreu aquela rejeição toda, que me surpreendeu”, escreve Fernanda em sua fotobiografia, que, aliás, cita a amiga em 22 ocasiões.

Nathalia pontua que as atrizes têm uma “trajetória de vida que correu muito paralela”. “Do nosso grupo, sobramos praticamente Fernanda e eu”, observa ela, que se dobra em elogios à amiga e reforça, incisiva: “Somos as sobreviventes”.

Projeto de fotobiografia é grandioso

 

Projeto antigo A feitura do livro “Fernanda Montenegro: Itinerário Fotobiográfico” é um projeto antigo e que vinha sendo incentivado há muito por Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc SP, que assina o texto de apresentação da obra. “É um trabalho exaustivo, demorado, mas também prazeroso. Assim, era preciso ir com calma, com tranquilidade”, examina ele.

Robusto O processo de produção ganhou mais gás nos últimos quatro anos. E o resultado surpreendeu: ao todo, somam-se 500 páginas entre registros fotográficos, cartas, artigos e observações escritas pela própria Fernanda. A obra é dividida em 11 capítulos, desde a infância de Arlete, nome de batismo da atriz, até o presente. “Um livro grande em conteúdo e em tamanho”, classifica Miranda.

Paralelo Refletindo a trajetória de uma atriz que iniciou carreira ainda na década de 1950 e permanece em atividade, o registro é mais amplo que uma história particular. “A biografia dela está integrada à cultura brasileira de todo esse período e ao caldo político instalado no país”, observa o diretor.

Multifacetada Há também, claro, registros mais particulares, que revelam uma Fernanda filha, esposa e mãe. “Não é só sobre uma atriz”, situa o diretor do Sesc. O amor pelo companheiro, o ator Fernando Torres (1927– 2008) é sensível. E, na leitura, se encontra também uma batalhadora da cultura brasileira.

Generosa Miranda é enfático: ao entregar-se a essa viagem por sua própria biografia e depois dividi-la publicamente, Fernanda dá provas de sua generosidade. “Ela partilha sua vida e você vai ver: é uma multidão. Ao abrir sua história, ela deixa algo para as gerações vindouras, deixa uma direção, referências, ideias...”, afirma o diretor do Sesc SP.

Uma ideia Por fim, Miranda acredita que a artista “representa todo um pensamento civilizatório”. “É uma figura exemplar, que revela um caminho, uma proposta de vida. Aos 89 anos, ela ainda é dedicada totalmente à construção de um país melhor”.

 

O quê Lançamento do livro “Fernanda Montenegro: Itinerante Fotobiográfico” Onde Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1046, Centro) Quando Dia 24 (sexta), às 19h30 Quanto Gratuito, com retirada de ingressos, a partir do meio-dia, mediante doação de 1Kg de alimento não perecível. O livro será vendido a R$ 160.