Literatura

Sexo com intimidade

Fabrício Carpinejar lança em BH o livro " Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus", em que trata do tema

PUBLICADO EM 18/09/12 - 00h00

Não é que o escritor gaúcho Fabrício Carpinejar só pense em sexo, mas o assunto andava recorrente em sua cabeça. O que ele fez, então, foi reunir textos dispersos que versassem sobre o tema, escrever mais algumas crônicas a respeito e reunir em "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus", cujo lançamento em Belo Horizonte acontece hoje, dentro do projeto Sempre um Papo. A abordagem de Carpinejar sobre o assunto, como é de costume em sua bibliografia, foge do usual, opta por um caminho que é a contracorrente. Dessa forma, "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus" dialoga intimamente com seus últimos lançamentos - "Borralheiro", "Mulher Perdigueira", "Canalha!" e "O Amor Esquece de Começar" -, que se constituem como uma sequência romanceada sobre o homem moderno.

"Eu quis fazer um livro que tivesse essa temática do sexo, mas é o sexo dentro do casamento, e tratado de uma maneira divertida. A gente tem aquela ideia do sexo como se ele fosse uma exclusividade do solteiro, do aventureiro, como se dentro do casamento ele tivesse que necessariamente ser monótono. O negócio é o quanto a gente consegue se abrir para a cumplicidade mesmo a partir da falha, da broxada. Trata-se de saber quando o outro é capaz de amparar a sua fraqueza, te socorrer, sem que você sinta vergonha disso", diz.

Ele considera que o assunto, independente da esfera em que é tratado, ainda é um tema tabu. Carpinejar atribui essa dificuldade que ainda existe em se falar de sexo à secular cultura machista ocidental. "É um assunto difícil porque a gente sempre pensa que o outro trepa melhor que agente", diz, aos risos. "Temos uma dificuldade maior ainda com essa coisa do sexo dentro do casamento, sobretudo de um casamento duradouro. Mas a minha defesa é de que quanto maior a rotina, melhor a interface sexual. Não é fácil você chegar para uma mulher e falar da sua fantasia com uma chacrete, com uma enfermeira, com uma empregada doméstica. É preciso ter quilometragem, você precisa confiar no outro para poder se expor ao ridículo. Sexo com intimidade é altamente arrebatador. Desejar diferente sempre a mesma mulher é bem melhor do que desejar do mesmo jeito mulheres diferentes", destaca.

Humor. Ele salienta que o viés bem-humorado do livro serve justamente para tornar o assunto mais leve, brincar com alguns mitos e receios masculinos. "O fantasma da impotência assombra o homem porque ele acha que tem que começar a relação com o pau duro. Um homem não tira a roupa com o pau dolente. A gente precisa levar em consideração que sexo é uma brincadeira, não tem segredo, é uma provocação. Mas aí entra a coisa do desempenho e atrapalha tudo", avalia.

Sobre o nome do livro, ele diz que vem de uma crônica escrita há alguns anos sobre o curioso hábito que algumas mulheres têm de invocar, de modo involuntário, Deus ou Jesus durante o ato sexual. "Era uma crônica sobre a maravilha de escutar uma mulher trepando: ‘ai, meu Deus’. Tu pensa que uma mulher, trepando, nunca vai dizer ‘ai, meu Deus’. Não é o momento apropriado, vai parecer que Deus está ali, transando junto, um triângulo amoroso. Mas as mulheres dizem, e algumas são muito refinadas, são muito religiosas nessa adoração ao corpo, tanto que, além do ‘ai, meu Deus’, elas também falam ‘ai, meu Jesus’. Daí já vira uma orgia", brinca.

 

Sempre um Papo com Fabrício Carpinejar lançando o livro "Ai Meu Deus, Ai Meu Jesus"
Terça (18), às 19h30, no Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)
Entrada franca