MÚSICA

Um bandolim emblemático

Joel Nascimento celebra seus 80 anos com show no projeto BH Instrumental, neste sábado (23)

PUBLICADO EM 22/06/18 - 14h32

Bem humorado, o bandolinista Joel Nascimento vai logo perguntando à reportagem: “Você foi avisada que precisa falar alto e pausadamente, não é? Estou igual a Beethoven”. Aos 80 anos, completados em outubro do ano passado, o músico carioca refere-se ao fato de, atualmente, contar apenas com 20% da audição do ouvido esquerdo, em função de uma otosclerose. Nada que o impeça de mostrar seu virtuosismo nos palcos, como fará na capital mineira neste sábado (23), em show que integra o projeto “BH Instrumental”.

Com entrada franca, o evento terá, na abertura, às 19h30, a apresentação “Horizonte Aberto”, de Aloísio Horta. Nela, será acompanhado pelos músicos Kadu Vianna, Christiano Caldas, Marcelinho Guerra e Marcelo Ricardo. Na sequência, Joel entra em cena com um time de bambas: Henrique Cazes, João Camarero, Beto Cazes e Marcus Nimrichter. 

A parada em Belo Horizonte insere-se na turnê “Joel Nascimento – 80 Anos”, na qual, claro, ele celebra com o que tem direito as oito décadas de vida. A baliza, aliás, torna pertinente a clássica pergunta: “qual o balanço de sua trajetória?”. Ao que ele responde, sem titubear: “Minha querida, muito feliz. É uma caminhada de muito êxito ao lado do meu bandolim”.

Para os não tão enfronhados assim na seara da música instrumental, vale lembrar que Joel Nascimento começou sua vida artística a bordo de outros instrumentos: de início o cavaquinho e, na sequência, o piano. Aos 22 anos, porém, perdeu a audição do ouvido direito e resolveu deixar a música de lado para estudar radiologia. Em 1968, retornou aos braços de sua antiga paixão, mas, desta vez, já empunhando o bandolim. Em pouco tempo, já havia conquistado a admiração de João Nogueira (1941-2000), que de pronto o convidou para participar de um disco.

Mais tarde, veio o episódio divisor de águas de sua trajetória: já com cinco anos de instrumento, procurou Radamés Gnatalli (1906-1988), no afã de saber mais sobre “Retratos”, composição que o mestre havia feito em 1956 para Jacob do Bandolim (e hoje também conhecida como “Camerata Carioca”). Originalmente, o arranjo previa um quinteto de cordas. “Mas, no geral, os chorões não gostam muito”, diz Joel, que procurou Radamés e dele recebeu a versão camerística da música. 

Não bastasse, Radamés também elogiou o modo “colorido” de Nascimento tocar. “Não posso reclamar: trabalhei para várias grandes gravadoras, me apresentei em festivais como os Montreux (Suíça) e toquei com grandes nomes (como Chico Buarque, Clara Nunes, Paulinho da Viola e outros)”, brinda o bandolinista.

Joel Nascimento 80 Anos
Praça Floriano Peixoto (Santa Efigênia). Neste sábado (23), às 19h30. Acesso gratuito.