Música

Voz & Violão

Adriana Calcanhotto celebra reencontro com as seis cordas em show

Em novo show, Adriana canta sucessos, inéditas, Tim Maia e Amy Winehouse | Foto: divulgação
PUBLICADO EM 16/05/14 - 12h01
Tomar e retomar o violão é uma constante em sua trajetória, reconhece Adriana Calcanhotto. Desde o fascínio que sentia pelo aparente enorme violão da casa de sua avó, que insistia em não caber em suas pequenas mãos de criança, até o recém-adquirido violão de sete cordas que comprou com o desejo de “inventar um jeito de tocar”, sua sina tem sido reelaborar a relação com o instrumento que ainda lhe parece misterioso e intransponível, apesar da intimidade desenvolvida nos últimos 42 anos – a cantora e compositora ganhou o primeiro violão aos 6 anos, como presente de aniversário dado pela avó.
 
Respeitando o destino, “Olhos de Onda”, show que Adriana apresenta na próxima quinta-feira (22), no Sesc Palladium, inaugurando o projeto “Mesa Brasil Musical”, é mais um capítulo dessa história. O compilado de algumas músicas inéditas, de seus principais sucessos e releituras para hits nacionais e internacionais marca seu reencontro com o violão depois de um hiato de quase dois anos de afastamento compulsório do instrumento. 
 
Em 2011, uma lesão em um dos tendões da mão direita obrigou a artista a deixar o violão de lado para concentrar-se em uma cirurgia e no processo de recuperação (a turnê de “Micróbio do Samba”, à época em andamento, foi mantida com Davi Moraes assumindo o violão). Até que, em 2013, a casa de shows portuguesa Culturgest, palco da primeira apresentação de Adriana em Lisboa, em 2000, convidou-a para um show de comemoração dos 20 anos do local. Era o empurrão de que ela necessitava para dar início a mais uma retomada do instrumento. “Quando o convite de Portugal chegou, era tudo o que eu precisava naquele momento para agilizar a recuperação e a retomada do violão. Ficar praticando em casa é uma coisa, mas ensaiar sabendo que tenho um compromisso com o público fez com que a volta fosse mais rápida e sem dilemas. Era a meta que eu precisava ter”, confessa.
 
Encarada a meta, Adriana se deparou de imediato com mudanças. Haviam se transformado seu jeito de tocar e de compor, constatação que foi recebida sem nenhum tipo de drama. “Mudou, porque mudou tudo, eu, o mundo, o público, essa é a melhor parte. Nem que eu quisesse (e eu nunca quis) conseguiria tocar ou compor como há três anos”, garante. Composições de 15, 20 anos atrás, como “Esquadros”, “Inverno” e “Vambora”, que estão no repertório do show, passaram a soar de outra forma. “Tive que reaprender a tocar, as minhas próprias canções inclusive, e isso foi mais prazeroso e rico do que eu poderia supor. A princípio, achava que iria perder tempo tocando canções que eu já tinha escrito, mas à medida que fui me reaproximando dessas músicas vi que estava com saudades delas”, admite.
 
Durante o processo de retomada e reaprendizado, nasceu “Olhos de Onda”, uma das novidades do repertório do show e ponto de partida para um novo trabalho. “Ela inaugura uma safra nova de composições e é por isso que o show tem esse nome, porque ela é a canção que aponta para o futuro, para as canções que estão por vir”, reforça. “E Sendo Amor” e “Motivos Reais Banais” (parceria com o poeta baiano Waly Salomão, morto em 2003), escritas há mais tempo, completam a trinca de inéditas do show.
 
Das conhecidas do público, além dos sucessos de autoria de Adriana ou na voz da cantora (caso de “Devolva-me”, de Lilian Knapp e Renato Barros, e “Maresia”, de Paulo Machado e Antônio Cícero), foram selecionadas para o show “Back to Black”, de Amy Winehouse, e “Me Dê Motivo”, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, em gravação eternizada por Tim Maia. “As duas canções são muito boas, cada uma do seu jeito. Se a gente prestar atenção, elas estão falando mais ou menos da mesma coisa”, diz, justificando as escolhas. Seguindo o clima minimalista do show, “Me Dê Motivo” ganhou uma interpretação diferente da intensidade dada pelo Síndico. “É bonita a gravação do Tim, tanto que a maioria das pessoas acha que é uma canção escrita por ele. Minha maneira de encarar a canção é um pouco diferente, é como alguém que está falando aquelas coisas todas para si mesmo”.
 
Gal e Prokofiev
Paralelamente ao show “Olhos de Onda”, que já tem registro em DVD, Adriana trabalha, em parceria com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em uma versão em português de “Pedro e o Lobo”, obra do russo Sergei Prokofiev. Ela será a narradora da história que apresenta às crianças os diversos instrumentos musicais. Ela também finaliza composição inédita que será gravada por Gal Costa no sucessor de “Recanto” (2011), mas faz mistério sobre a colaboração. “Nem acabei de escrever a canção e você já quer o nome?”, diz aos risos.
 
Adriana Calcanhotto
No show "Olhos de Onda"
Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1.046, centro, 3270-8100). Dia 22 (quinta-feira), às 21h. Ingressos esgotados.