MÚSICA

Berimbaus melódicos 

Arcomusical Brasil apresenta o espetáculo "MeiaMeia", com sexteto formado pelo instrumento típico da capoeira em formato experimental

O repertório da apresentação no CCBB traz além das peças de MeiaMeia, composições dos integrantes José e Mateus e uma versão letrada por Rafael Calaça da peça de Beyer “Duo de Berimbaus” | Foto: Alex Mariano
PUBLICADO EM 20/01/18 - 03h00

 

A fórmula do sexteto de berimbaus é um estudo do músico norte-americano Gregory Beyer sobre o arco musical e suas possibilidades de experimentação timbrísticas e harmônicas. Suas pesquisas culminaram em um trabalho experimental intitulado “MeiaMeia” e ganharam registro em um disco – que está na lista de concorrentes do Grammy para os indicados na categoria Best World Music em 2018. 
 
Em 2015, Beyer veio ao Brasil para lecionar uma disciplina na Escola de Música da UFMG, desenvolver seus estudos com o berimbau harmônico e aprender as tradições da capoeira. 
 
Agora, dando continuidade às lições do mestre, seis músicos mineiros que trabalharam com Beyer apresentam o espetáculo de MeiaMeia, na programação do VAC, no próximo domingo (28).
 
O grupo formado pelos mineiros leva o nome do projeto iniciado por Beyer nos Estados Unidos (Arcomusical), o Arcomusical Brasil é composto por Natália Mitre, Daniela Oliveira, José Henrique Soares, Rafael Matos, Mateus Oliveira e Breno Bragança. Os músicos foram alunos de Beyer na UFMG e também orbitam os espaços da música popular de Minas Gerais, tendo outros trabalhos que vão além da música de câmara. “Queremos inserir mais elementos da música brasileira nesses estudos. A pesquisa do Greg não olhava para os gêneros brasileiros. Essa é uma marca que queremos trazer para o futuro do grupo”, ressalta a musicista Natália Mitre.
 
Para compor o concerto, os instrumentos são modificados, além da afinação e dos elementos elétricos, o grupo explora a posição da cabaça, colocada quase no meio do berimbau para alterar as relações de proporção e métrica.
 
O aspecto rítmico não poderia ser deixado de lado, e contrariando os dogmas da música de câmara, os músicos se permitem ser levados pela dança e pelos estímulos do som do arco.
 
“Cada berimbau tem a responsabilidade individual e com o todo da melodia, algo muito comum na percussão e na música de câmara. Prezamos muito pela dança, pela troca de olhares e pelo formato de roda de capoeira para termos mais liberdade de passar o som e nos divertir”, pontua a percussionista.
 
Hipnotizado pelo toque do instrumento em uma loja de percussão em Nova York, Beyer encontrou um jovem tocando o arco e, ao conversar com ele chegou ao nome do mestre Naná Vasconcelos e o álbum “Saudades” (1980). Naná foi precurssor no experimentalismo com as melodias do berimbau. O pernambucano desenvolveu uma musicalidade nos anos 1970 que o colocou em muitas listas de melhor percussionista do mundo e o fez trabalhar com músicos como B.B King, Paul Simon, Talking Heads, Pat Metheny, Caetano Veloso, Os Mutantes e outros. 
 
Encantado pelo som que saía da cabaça, Beyer dedicou-se a destrinchar a obra de Naná e teve aulas com o mestre brasileiro Cabello, nos EUA. O desafio de tocar do seu próprio modo resultou na composição de peças únicas com instrumentos elétricos de afinações distintas, apresentando uma sinfonia de timbres de berimbaus melódicos, em um formato que lembra a música de câmara e canções pop. O músico utiliza a técnica com o arco musical para revisitar compositores modernos como Imogen Heap e the XX.
 
Em 2016, o grupo formado pelos estudantes da UFMG apresentou seu repertório desenvolvido por Beyer e seus alunos, na Fisrt Bow Music Conference, uma conferência de berimbaus, na cidade de Durban, na África do Sul. “O festival reuniu músicos populares e pesquisadores. A maioria foram apresentações que usavam o toque tradicional do arco musical, mas também haviam várias outras linhas de experimentação”, lembra. 
 
(

) Sob Supervisão de Jessica Almeida
 
MeiaMeia
Concerto de berimbaus do Arcomusical Brasil. CCBB (pça. da Liberdade, 450, Funcionários). Dia 28 (domingo), às 19h. R$ 20 (inteira)