ARTES VISUAIS

BH pelo olhar de um ciclista 

Integrando as homenagens ao aniversário de 120 anos da capital, fotógrafo apresenta a exposição "Sylvio Coutinho Mostra Belo Horizonte" na Casa Fiat de Cultura

Sylvio Coutinho apresenta as imagens que fez enquanto se recuperava de um acidente | Foto: Sylvio Coutinho
PUBLICADO EM 03/06/17 - 03h00

 

Quando era mais moço, o principal veículo que o fotógrafo Sylvio Coutinho usava para se locomover por Belo Horizonte era a bicicleta. Perdeu as contas de quantas vezes subiu a rua Carangola em cima da magrela rumo à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O hábito, porém, foi perdido com o passar do tempo pelas contingências da vida. Mas em 2015, sob circunstâncias que não era as melhores, ele acabou se reencontrando com as duas rodas.
 
“No fim da reforma do Mineirão, que eu registrei durante cinco anos, acabei caindo de uma jabuticabeira e tive um problema sério no pé. Passei dois anos entre o CTI do hospital e a cama do meu quarto, sem pisar no chão. Cheguei a ouvir que era melhor que amputassem meu pé, porque eu poderia morrer de fraqueza. Mas meu irmão, que é médico, me salvou”, conta. 
 
Ainda havia, no entanto, o risco de que ele ficasse manco. Nesse caso, a salvação veio da esposa: uma bicicleta. Com ela, Sylvio conseguiu fortalecer o pé e se recuperar. Mais do que isso, começou a levar uma câmera e registrar suas “pedalanças” pela cidade. O resultado disso ele apresenta na exposição Sylvio Coutinho Mostra Belo Horizonte na Casa Fiat de Cultura, que abre na próxima terça (6), integrando as homenagens ao aniversário de 120 anos da capital.
 
Multimídia, a exposição traz 27 fotografias, 65 gravuras, vídeos e réplicas em 3D de monumentos históricos da cidade. O evento também marca o lançamento do livro do fotógrafo, “BH 120”. “Andar de bicicleta faz a cidade diferente. Eu digo que a cidade é minha, mas não é de quem eu não encontro na ciclovia, no Parque Municipal, onde eu dou cinco voltas todos os dias às 6h30 da manhã. Passo na praça da Liberdade, subo na da Assembleia para ver como está o movimento, vou na Duque de Caxias. Porque a bicicleta me permite fazer isso tudo em uma hora”, diz.
 
De volta definitivamente para a sua vida, a bicicleta, ele diz, o proporcionou uma relação com a cidade que ele não tinha. “Passei a não me incomodar mais com o mau cheiro de determinados lugares, por exemplo. Os lugares horrorosos que não foram ocupados pelo poder público, que a iniciativa privada não teve cuidado, todos eles estão cheios de grafites maravilhosos”, diz.
 
O vídeo que compõe a mostra traz imagens de espaços públicos de BH sob a trilha sonora do violonista e compositor Gilvan de Oliveira. Na Piccola Galleria, Sylvio apresenta a série “Ocasos”, com gravuras que são resultado do contato de um papel conhecido como “mala” com as chapas de impressão para calibragem das cores a serem impressas. 
 
Por fim, igrejinha da Pampulha, Mineirão, pirulito da Praça Sete, viaduto de Santa Tereza e edifício Niemeyer foram replicados em miniaturas, feitas com base em fotografias do próprio Sylvio. Cada uma delas terá ao lado um fone em que se ouvirá informações sobre cada monumento. Os textos, escritos pelo arquiteto João Diniz, são narrados pelo próprio fotógrafo, com trilha de Gilvan de Oliveira. “Há pouco tempo uma amiga que é deficiente visual esteve no meu estúdio, tocou as réplicas, ouviu os áudios e me disse: ‘estou vendo’. Foi meu momento mais gratificante enquanto artista”, diz.
 
Sylvio Coutinho mostra Belo Horizonte
Casa Fiat de Cultura (praça da Liberdade, 10, Funcionários, 3289-8900). De 6 de junho a 30 de julho. De terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca.