MÚSICA

Em memória de Bola de Nieve 

A cantora Fabiana Cozza apresenta o espetáculo “Ay, Amor! – Canto Teatral para Bola de Nieve”, no próximo sábado (27), no Sesc Palladium

Em agosto, Fabiana lança ‘Ay, Amor!’ em CD: ‘Pretendo viajar para o exterior mostrando esse trabalho’, diz | Foto: Kriz Knack
PUBLICADO EM 20/05/17 - 03h00

 

Ignácio Jacinto Villa Fernandez (1911-1971), mais conhecido como Bola de Nieve, pianista, cantor e compositor, o maior nome da música cubana. Divertido, escrachado, intelectual, paquerador, debochado, contido, bon vivant dos salões e comunista de primeira hora na Ilha de Fidel. Negro e homossexual, o celebrado pianista viveu as honras e as contradições de sua condição. Marginalizado em sua terra, Bola de Nieve acabou se refugiando no México.
 
É em homenagem a ele que a cantora Fabiana Cozza apresenta o espetáculo “Ay, Amor! – Canto Teatral para Bola de Nieve”, no próximo sábado (27), no Sesc Palladium. “Conheci Bola de Nieve por indicação do escritor (pernambucano) Marcelino Freire e me apaixonei. Ele é uma referência de intérprete, de ator que faz da arte o seu gesto político”, conta a intérprete.
 
Dirigida por Elias Andreato, Fabiana alterna canções como “No Quiero Que Me Odies”, “No Me Compreendes” e “Ay, Amor”, que dá nome ao espetáculo, com textos de autores como Oscar Wilde (1854-1900), Ferreira Gullar (1930-2016), Cecília Meireles (1901- 1964) e Castro Alves (1847- 1871).
 
“Elias havia apresentado o projeto a diferentes atores e ninguém seguiu adiante. Soube do roteiro através de uma amiga e pedi que ela me encaminhasse antes d’eu falar com o diretor. Ao ler, fiquei tão emocionada que entrei em contato com Elias me oferecendo para interpretar”, lembra. 
 
O encontro resultou numa forma específica de olhar para a obra do cubano. “O que levamos ao palco é o que entendemos da alma feminina do Bola de Nieve, o homem alegre que cantava triste. Sou muitas formas e dizeres do Bola em cena. Falamos dos amores impossíveis, passíveis de uma certa loucura, a que todos temos e sobre a qual muitas vezes passamos um verniz para nos esconder. O que eu canto ali não é higiênico, inodoro, insípido. O que fazemos neste espetáculo é vertical, intenso”, explica.
 
Acompanhada no palco pelo pianista Pepe Cisneros (também cubano, radicado no Brasil), diz ter procurado em seu próprio corpo – músculos, vísceras, ossos, coração – o tom para criar sua performance. “Falo tecnicamente e não de forma romântica. Procurei na minha memória corporal (nisso está a minha voz) onde estavam os sentimentos que eu iria cantar, como eu os sentia, como dizer as palavras e respirar ao som dos acordes do Pepe”, diz.
 
Em tempos em que o mundo inteiro parece estar em ebulição, Fabiana acredita que falar de um artista como o Bola de Nieve nos tempos de hoje é também falar de que lado você está. “É ter um gesto. Assumir esse gesto. Querer levar e reverenciar a música desse grande artista que foi Bola de Nieve é uma escolha e diz muito do que penso e sinto. Bola era preto, gay, e sofreu numa Cuba que matava homossexuais e negros. Defendo a arte resistente do Bola com a força de cada nota”, declara.
 
Diretas já
 
A artista também não se furta de se posicionar abertamente a respeito de (mais uma) reviravolta no cenário político no país. “Eu defendo eleições diretas imediatamente. Tivemos um golpe político duríssimo que está nos custando alto. Acho ordinário, repreensivo o que a maioria dos políticos, empresários, industriais, banqueiros, mídia faz conosco e com o país. As pessoas precisam ser investigadas e, mediante as provas, condenadas”, afirma.
 
 
Fabiana Cozza
Ay, Amor! – Canto Teatral para Bola de Nieve
Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1.046, centro, 3270-8100). Dia 27 (sábado), às 21h. R$ 30 (inteira)