Efeito

Dupla personalidade

Residência de dois andares revestida de madeira e concreto parece flutuar sobre a estrada

PUBLICADO EM 24/10/14 - 14h00
Com toda sua ousadia voltada à Sunset, a casa tem dupla personalidade. Sua entrada fica em uma rua residencial plana, e parece quase modesta. Entretanto, o interior traz o selo de seu método de construção: os tetos são de concreto exposto, enquanto enormes colunas pontuam os espaços habitáveis. Janelle a chama de “o tipo de casa para um homem”, embora seu marido tenha usado madeira nos pisos e paredes para torná-la mais quente. O efeito é como estar dentro de uma casa na árvore. E o foco é para fora, para as coisas que se desenrolam mais abaixo.
 
“O conceito era um plano aberto, como se fosse um loft em Nova York. Não houve um planejamento cuidadoso sobre detalhes requintados do espaço interior”, pontua o proprietário
Robert Bridges. Na cozinha, uma varanda se estende por cima da movimentada via. De noite, a avenida se acalma. “O tráfego se reduz a nada e ficamos com essa plataforma de observação, com uma vista de todo o cânion. Este lugar é incrível”, afirma ele. 
 
Enquanto construía sua casa, Bridges foi cercado por curiosos, e ele achava que o interesse acabaria diminuindo – mas isso nunca aconteceu. Ônibus de turismo ainda passam bem devagar pela Sunset. Estudantes de arquitetura batem a sua porta. Mesmo quando ele está longe, a notoriedade de sua casa o segue.
 
“Conheci um cara no Alasca, no meio do nada, que estava tentando descrever uma casa maluca que ele havia visto. Ele custou a explicar, mas então percebi que ele estava falando da minha casa”, relembra. 
 
Resgate de histórias
Wyatt Bridges, seu filho mais novo, conta que quando estava crescendo, tornou-se uma fonte de orgulho para ele o fato de seu pai ter construído a casa e grande parte da mobília. “Isso tem muito mais significado, porque as coisas não são objetos, são peças históricas”, afirma. 
 
Não muito tempo depois de a família se mudar, em 1991, os Bridges mais velhos, avessos aos riscos financeiros da indústria de construção e sentindo seus interesses tomando outros rumos, trocaram a arquitetura pelo mundo acadêmico. Sua marca duradoura como arquiteto e o trabalho pelo qual ele é mais conhecido, mesmo que anonimamente, é a casa onde ele acorda todas as manhãs. Talvez isso seja apropriado, considerando o que foi preciso para construí-la.
 
“Foi um grande sacrifício trabalhar e construir esta coisa enquanto criávamos nossos filhos”, disse Bridges, admirando a cidade de seu deck. “Foi uma luta”, acrescenta ele. 
 
O sol começou a se pôr, lançando um brilho púrpura pelo cânion – e, como se obedecendo a uma deixa, o tráfego diminuiu. Bridges apontou a vista panorâmica, o jardim com terraço que ele e sua esposa esculpiram na encosta, a queda vertical até a estrada abaixo. “Sempre tem algo de selvagem descendo a Sunset Boulevard”, concluiu.
 
The New York Times