ARTES VISUAIS

Minas antes e pós-Guignard 

Minas Tênis Clube exibe mostra com pinturas de Alberto Guignard inspiradas nas paisagens mineiras, abertura é na terça-feira (11)

Das 20 obras de Guignard na mostra, dez | Foto: Orlando Bento
PUBLICADO EM 08/04/17 - 03h00

 

Sim, as paisagens de Minas transportadas para as telas de Alberto da Veiga Guignard (1896 – 1962) são mundialmente celebradas. Mas é possível olhar para além nesse horizonte. Afinal, quem pintava Minas antes do modernista carioca? E que Minas Gerais virou tela depois dele? Aliás, só tela? Na contemporaneidade, como as paisagens mineiras são retratadas nas artes? Com a exposição “Guignard e a Paisagem Mineira – o Antes e o Depois”, são essas as questões que Priscila Freire, 83, quer responder. Para dar conta da empreitada, a curadora – que foi aluna do pintor – leva cerca de 90 obras de 60 artistas mineiros ou radicados no Estado para a Galeria de Arte do Minas.
 
“Essa é uma exposição que mostra as paisagens mineiras antes, com e depois de Guignard”, explica Priscila. 
 
A escolha de criar uma linha do tempo – que começa no final do século XIX e se estende até a atualidade – “é muito interessante, até mesmo para resgatar o trabalho de artistas que vieram antes e que acabaram sendo, de certa forma, abandonados”, pontua. Para ela, é importante trazer estes artistas à tona novamente. “Mesmo porque, historicamente, eles trazem imagens que já se perderam. Existe um patrimônio que basicamente inexiste hoje, como o Curral Del Rey e algumas vilas que ninguém mais conhece”, analisa. Do período anterior a Guignard, há cerca de dez nomes, entre eles Honoris Esteves (1860– 933), Genesco Murta (1885–1967) e Aníbal Mattos (1889–1969).
 
Do Mestre
 
Do artista que dá nome e peso à exposição, serão expostas pelo menos 20 telas – delas, dez serão exibidas publicamente pela primeira vez. 
 
Priscila Freire explica que a mostra deve refletir a importância do artista para o Estado. “Ao trazer Guignard para BH, Juscelino Kubitschek cria um grande problema para os mineiros: existia aqui uma coisa atávica de preservar o passado, uma timidez enorme com o novo”, rememora a curadora.
 
Ela lembra que foi o próprio Guignard quem organizou a célebre Exposição de Arte Moderna na cidade, em 1944. O evento foi cercado de polêmicas e chegou a ter obras destruídas por um público que rechaçava o modernismo como vertente artística. Na época, contratado como professor de artes, o pintor precisou justificar a ausência de nomes mineiros na exposição, já que havia apenas uma artista listada. Portanto, “o que Guignard fez foi abrir horizontes, mesmo enfrentando questões muito sérias – da resistência do público ao baixo salário, passando por um local de trabalho rudimentar”, afirma Priscila.
 
A linha do tempo criada pela curadora segue com artistas pós-Guignard, mas diretamente influenciados por ele. Entre os herdeiros de sua tradição estão nomes como Claudia Renault, José Alberto Nemer e Mário Zavagli. Dos contemporâneos, foram selecionadas obras de Solange Pessoa, José Bento e Annie Rottenstein, dentre outros. A última, uma artista francesa que reside em Minas Gerais há cerca de 20 anos, leva para a exposição o projeto “As Águas”, em que reproduz um rio feito de cipós.
 
Coroação de um trabalho
“A Galeria de Arte do Minas Tênis Clube é recente, mas já tem se consolidado em importância”, avalia André Rubião, diretor de cultura do clube.
 
Rubião lembra que o espaço se revelou com uma espontânea vocação em receber artistas locais consagrados. Entre eles, lista Shirley Paes Leme, Mário Zavagli e Wilma Martins. Ele acredita que “Guignard é como um pai para essa geração” e que, portanto, “a nova exposição vem a coroar todo esse trabalho”. Além disso, “dá uma perspectiva para o que estamos pensando para o futuro da galeria”.
 
Guignard e a paisagem mineira - o antes e o depois
Minas Tênis Clube (rua da Bahia 2244, Lourdes). Abertura terça (11), às 10h. De terça a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h. Entrada franca.