CINEMA

Para além dos blockbusters 

Tradicional mostra do Cine Humberto Mauro reúne películas que tiveram destaque nas últimas temporadas das salas de cinema do Brasil e do mundo

PUBLICADO EM 22/04/17 - 03h00

 

Discutir o lugar do cinema em Belo Horizonte, fortalecer o circuito alternativo, contribuir para a melhoria do acesso aos filmes de arte e trazer a pauta da sétima arte à baila. Direta ou indiretamente, estes são os desafios e objetivos que a Fundação Clovis Salgado encara ao realizar mais uma edição da mostra “Inéditos/Passou Batido em BH”.
 
Com 48 filmes, vindos de 29 países – atravessando fronteiras dos hemisférios Norte e Sul, do Oriente ao Ocidente –, a mostra é também “uma guerra contra a hegemonia do blockbuster no circuito de cinemas da capital”, como classifica o coordenador do Cine Humberto Mauro, Bruno Hilário, 31.
 
Um dos curadores da mostra, Hilário acredita que os filmes selecionados, “por não estarem localizados no conceito comercial, acabam sem lugar nas salas de BH”. E se tiveram trânsito nos telões da capital, as exibições aconteceram “em dias e horários desfavoráveis”. “É impressionante como nós – da indústria cinematográfica – subestimamos filmes que têm por característica uma acuidade artística mais apurada”, critica. 
 
Hilário lembra que existe uma carência do público por esse tipo de produção. Tanto que na última edição da mostra, no ano passado, mais de 7.000 pessoas assistiram aos filmes. “A gente não entende porque o circuito comercial não considera esse nicho. O sucesso e longevidade do nosso projeto prova que há uma negligência nesse sentido”, pontua.
 
Além de trazer de volta filmes que não estão mais em cartaz, a mostra tem também estreias. “Visamos uma ação de formação de público. Bem, alguns destes inéditos ainda podem voltar a ser exibidos na cidade. Então, a pessoa vai ver no Cine Humberto Mauro e depois, se estrear no Cine 104, por exemplo, ela acaba recomendando para os amigos. Assim, acaba funcionando também como uma forma de divulgar aquela obra”, analisa.
 
Parceiros
 
Para o Cine 104, aliás, Hilário é só elogios. Ele pontua que a sala é essencial para dar vazão às produções novas, principalmente, as nacionais. “Nossa iniciativa caminha muito no sentido de reforçar o trabalho feito nestes espaços – e torcemos que apareçam mais”, diz.
 
Para o curador, a Zeta Filmes é outra importante parceira na construção de um circuito alternativo. “Temos a sorte de ter essa distribuidora na cidade. Eles se dedicam a uma pesquisa muito bem cuidada. O Indie Festival (realizado pela Zeta) sempre traz a possibilidade de exibir filmes orientais em BH”, elogia.
 
Premiados
 
A mostra “Inéditos/Passou Batido em BH” fica em cartaz por mais de um mês. Neste período, a maioria das obras será exibida por até três vezes. “O projeto tem que ser cada vez maior e isso não é tão positivo, pois demonstra que estes filmes têm dificuldade em entrar em cartaz em BH”, pondera.
 
Mesmo produções premiadas tiveram pouco espaço na capital – por isso estão na mostra. É o caso de “Sono de Inverno”, de Kis Uykusu, e “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, ganhadores da Palma de Ouro de Cannes em 2015 e 2016, respectivamente. Também vale citar “O Apartamento”, do iraniano Asghar Uykusu, que levou a estatueta de melhor filme estrangeiro do Oscar 2017.
 
 
 
Inéditos/Passou Batido em BH
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1537, Centro). Entrada franca. Programação completa no site www.fcs.mg.gov.br. Até 31/5.