TRIBUTO

Para animar a festa

Skank e Céu colocam em repasse a obra e Jorge Ben Jor, ao lado do homenageado, show gratuito acontece na Praça da Estação

Antes de BH, o show passou por Porto Alegre, Rio e Fortaleza; No Recife, o encontro será neste domingo, 21 | Foto: Leo aversa/Divulgação
PUBLICADO EM 20/05/17 - 03h00

 

A cantora Céu e os integrantes do Skank são unânimes: seria tarefa hercúlea mensurar a importância de Jorge Ben Jor para o cenário musical. “Ele está entre os ‘como ninguém’. Fez uma mescla de soul e samba com o rock que ouviu nos anos 50 e 60, então, também o colocaria na classe dos inventores”, diz Samuel Rosa. “Ele chegou a um resultado muito distinto, sua música não tem paralelo, é diferente de tudo e de todos – e por isso é mundialmente conhecido e requisitado. Pensando no cenário musical atual, aí fica maior ainda, como se já não fosse gigante (risos)”, prossegue o vocalista do Skank. Já para Céu, a música de Ben Jor sintetiza “toda música brasileira numa linguagem verdadeiramente pop, universal”. “Sou doida por ele”.
 
No próximo domingo (28), ícone e devotos se reúnem no Projeto Nívea Viva, para show na praça da Estação, que terá momentos de encontro entre os artistas e, ao fim, uma celebração, com todos. Serão mais de 30 músicas, de todas as fases do carioca que, por sua vez, é só alegria com a homenagem. “Realmente, não esperava”, admite.
 
Samuel Rosa brinda o fato de os shows estarem dando ao Skank a oportunidade de tocar músicas que fizeram parte da formação musical dos integrantes. “A ideia por trás do nosso set list é jogar luz em canções de Ben Jor que não são necessariamente as mais conhecidas. ‘Samba Esquema Novo’ (1963) e ‘A Tábua de Esmeralda’ (1974) são fundamentais para quem gosta de Ben Jor e para mim, na minha história. São discos que escuto com frequência. Das 14 músicas que tocamos no show com a Céu, as cinco com as quais me divirto mais são: ‘O Telefone Tocou Novamente’, ‘Oba Lá Vem Ela’, ‘Os Alquimistas Estão Chegando’, ‘Oé Oé (Faz o Carro de Boi na Estrada)’ e ‘Xica da Silva’”.
 
Carolina
 
A paulistana Céu tem uma história particular com a obra de Ben Jor. É que a música “Carolina Carol Bela” foi composta para sua mãe, a artista Carolina Whitaker. “Minha mãe namorava o Toquinho. Eles conviviam bastante na década de 70 e, assim, surgiu a canção. Minha mãe já tinha me contado, Jorge confirmou com veemência, e tem sido emocionante vê-lo cantar a música no show e dedicar à dona Carolina!”, brinca ela, que, no entanto, crava um X em “Oba, Lá Vem Ela”, do disco “Força Bruta”, como a que a pegou “na primeira edição”. 
 
Já Samuel Rosa frisa que ele e colegas de grupo cresceram ouvindo as músicas de “Samba Esquema Novo” (1963). “Mais pra frente, ‘País Tropical’, ‘Chove Chuva’... Isso está no inconsciente coletivo de qualquer brasileiro nascido nos anos 60 e 70. A música do Ben Jor é muito forte e muito impactante, e desde que me dei por gente já sabia discernir o que era Ben Jor”, assegura o mineiro. 
 
Em meados dos anos 70, criança, Samuel ouvia o álbum “A Tábua de Esmeralda” (1974) nos bares “e durante o verão na praia”. “Na adolescência, sucessos como ‘Oé Oé’ e ‘O Dia Que o Sol Declarou Seu Amor Pela Terra’. E via ele no Chacrinha defendendo essas musicas, bem como shows que passavam na TV com frequência”. 
 
Já falando como músico, Samuel reforça que Ben Jor é da primeira geração que escutou rock no Brasil. “Isso está muito impregnado na música dele, que, ao mesmo tempo, carrega um DNA brasileiro fortíssimo. Acho que é aí que entra o Skank um pouco, também uma banda fruto dessa ambição de misturas”. O homenageado devolve os confetes. “Acompanho o grupo desde o início, me considero padrinho e me identifico muito”. 
 
Confetes
 
O carinho pelo grupo mineiro também resvala na fala de Céu: “Sempre fui fã! São talentosíssimos, amo ‘Dois Rios’. Depois desse tempinho de convivência, posso dizer que são muito queridos também”, afiança. Ao citar a convivência, Céu se refere não só aos ensaios, mas ao fato de o projeto já ter passado por capitais como Fortaleza. E foi o estreitamento do convívio que fez Samuel Rosa comprovar o que sempre intuiu sobre Ben Jor. “Ele é uma pessoa muito cuidadosa. Bastante criterioso na forma de se apresentar e muito carinhoso com os músicos da banda. Também está sempre muito antenado nos arranjos e no setlist, sugerindo mudanças e alterações. Tem muito interesse e despende muita energia para o que faz, mesmo estando tantos anos na estrada. Deus queira que o Skank chegue ao patamar dele, com essa vontade e esse comprometimento todo”. 
 
Ao ressaltar o carioca, o mineiro acaba fazendo uma análise do cenário da música atual. “O que a gente vê é uma música voltada unicamente e exclusivamente para repetição de um modismo. Não condeno – mas vejo um exagero hoje na redundância e na repetição. Os artistas têm a mesma cara, cantam do mesmo jeito, têm a mesma batida, não têm pretensões autorais e vêm tocando nas rádios em exaustão. Então, se a gente olhar um pouco para o Ben Jor e o cenário de onde ele vem, vê quanta diversidade existia ali, cada um fazendo seu som de forma diferente. Ele ainda é uma lição para a gente, agora mais do que nunca”.
 
Nívea Viva
Com Jorge Ben Jor, Skank e Céu
Praça Estação. Dia 28 (domingo), às 16h30. Gratuito