A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) aprovou ontem, por 26 votos a zero, um requerimento do deputado Sávio Souza Cruz (MDB) pedindo informações ao novo secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, sobre qual tratamento precoce contra a Covid-19 está sendo adotado em Minas Gerais e também qual foi o embasamento científico utilizado para a adoção da medida.
O pedido foi feito após o governador Romeu Zema (Novo) dizer, em uma entrevista à jornalista Leda Nagle, que o tratamento precoce, que inclui medicamentos de eficácia não comprovada contra a Covid-19, como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, foi o responsável por pacientes em Minas Gerais terem alta de forma mais rápida.
“Tanto é que, entre o início da pandemia, que foi aproximadamente em abril, aqui em Minas, ano passado, e o mês de agosto, nós tivemos uma melhoria muito grande no que diz respeito ao tempo que as pessoas ficavam internadas, exatamente por causa do tratamento precoce”, disse o governador.
“Então ele (o tratamento precoce) ajuda muito a evitar que a pessoa seja internada e, mesmo quando internada, que ela tenha uma alta com mais rapidez. Se não fosse ele (tratamento precoce), o colapso já teria acontecido há muito mais tempo”, acrescentou Zema.
Sávio Souza Cruz (MDB) disse que ficou assustado com a entrevista do governador e com notícias do volume de cloroquina que teria sido destinado a Minas.“Estou querendo saber que kit é esse e que fundamentação eles encontraram para utilizá-lo. Eu sou daqueles que, se o médico receita qualquer coisa, tudo bem. Mas uma política de Estado, uma coisa oficial do governador, me causou muita estranheza. Por isso eu quero avaliar a resposta”, disse.
Um segundo requerimento foi aprovado, mas no âmbito da CPI dos Fura-Filas, pedindo que o governo Zema esclareça quanto foi gasto na compra de medicamentos como cloroquina, azitromicina, ivermectina, zinco e vitamina D, assim como a quantidade recebida via Ministério de Saúde. Os deputados também querem que o governo detalhe a distribuição desses medicamentos para os municípios mineiros.
Em nota, o governo de Minas disse que o governador Romeu Zema expressou uma opinião pessoal e que ele não orientou o tratamento precoce.
O governo estadual disse ainda que os municípios têm autonomia para adotar ou não as diretrizes publicadas pelo Ministério da Saúde no enfrentamento à Covid-19 e que cada médico tem liberdade para conduzir o tratamento dos pacientes como julgar pertinente.
A nota do governo de Minas:
"Sobre a entrevista do último dia 17, o governador Romeu Zema expressou uma opinião pessoal em relação ao tratamento precoce. O governador não disse que Minas orientou o tratamento. O governador disse: 'O protocolo precoce, vale lembrar, pode ser utilizado por cada médico, todos têm acesso a ele. Ele não pode ser imposto pelo Estado, forçado pelo Estado, porque muitos deles ainda não têm comprovação científica que dê conforto para o gestor da Secretaria de Saúde ou do Ministério da Saúde', afirmou Romeu Zema. Portanto, o Governo de Minas reitera o livre exercício do profissional de saúde na condução do tratamento que julgar pertinente ao paciente, sem que haja uma determinação por parte do Estado. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) entende que deve ser respeitada a autonomia dos municípios em adotar ou não as diretrizes publicadas pelo Ministério da Saúde (MS) no enfrentamento à covid-19. O papel da secretaria é logístico, ou seja, realiza a distribuição dos medicamentos àqueles que solicitam via sistema do MS. A SES-MG, também, entende que cabe ao médico a autonomia para a prescrição medicamentosa, não sendo papel da SES interferir na relação médico-paciente".