Impedido de assumir a prefeitura de São José da Varginha, a cerca de 90 km de Belo Horizonte, por uma condenação por tráfico de drogas, José Alves de Carvalho Neto (PP), conhecido como “Netinho”, lançou a própria irmã como candidata na eleição suplementar. A nova disputa foi convocada justamente porque Netinho, apesar de ter sido o mais votado em 2024, teve o registro de candidatura indeferido pela Justiça Eleitoral. Pela Lei da Inelegibilidade, ele não pode assumir devido à condenação, o que demandou a convocação de uma nova eleição. 

O pleito está marcado para o dia 3 de agosto. Josiana Soares Carvalho de Santana registrou seu nome de urna como “Josi irmã do Netinho”. Ela tentou se candidatar pelo PP - mesmo partido do irmão -, mas a juíza Gabriela Ramos, da 202ª Zona Eleitoral, entendeu que não havia provas suficientes de que a filiação partidária havia ocorrido com pelo menos seis meses de antecedência, como exige o calendário da eleição suplementar. Com isso, a candidatura foi registrada pelo partido ao qual ela já estava filiada: o PV. 

Josi terá o mesmo vice de Netinho: Vander Lucio, o Vandinho (PDT). Nas fotos de divulgação da campanha, tanto o irmão quanto o vice aparecem ao seu lado. Durante discurso na convenção, Josi fez um agradecimento direto a Netinho: “eu tenho que agradecer ao Netinho. Se a gente está aqui hoje, com esse grupo de pessoas reunidas, o mérito é todo dele, porque nós caminhamos junto com ele, vencemos as eleições e vamos vencer de novo”, afirmou.

O tom da campanha é de votar em Josi pela continuidade do governo. Apesar de não poder assumir a prefeitura, a cidade ficou a cargo de um aliado de Netinho, o presidente da Câmara Municipal, Sirley da Silva de Oliveira, também do PP. Netinho, inclusive, foi o maior investidor da campanha do vereador.  

O prefeito em exercício chegou a nomear Netinho a secretário de Administração, ação que foi alvo do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que questionou a legalidade do ato. Em resposta, a Vara Cível da Comarca de Pará de Minas entendeu que Netinho não estava no pleno exercício dos direitos políticos - condição indispensável para ocupar cargo público - e determinou a suspensão imediata da nomeação.   

Além disso, a Justiça ordenou a remoção de publicações nas redes sociais de Netinho com o nome ou imagem dele vinculados a símbolos e ações da administração. A decisão foi motivada pelo fato de o político continuar postando fotos com atividades da gestão municipal, podendo induzir a população a acreditar que ainda exercia o cargo de prefeito e era o responsável pelas obras e atividades da prefeitura. 

Além de Josi, outras duas pessoas disputam a prefeitura: Victor Paulino, conhecido por Victor Gordo da Saúde (Avante), e o vice dele, Ronaldo Soares Maia, o Ronaldo Maia (Podemos); e Mateus Augusto, mais conhecido como Mateus Duty (PSB), e o vice Luciano Ferreira, o Bigo (PSB).

Outro candidato impugnado tentou eleger parente em MG

A última decisão sobre o caso foi do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Após o último recurso interposto no TSE, Netinho apresentou recurso extraordinário para o Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, uma vez que o recurso extraordinário não tem efeito suspensivo, foi dado cumprimento à decisão de indeferimento no mês passado e marcada novas eleições.

São José da Varginha terá a segunda eleição suplementar em Minas Gerais referente ao pleito de 2024. Neste domingo (6/7), ocorreu a eleição em Guapé, no Sul de Minas, também devido à impugnação do candidato a prefeito que recebeu mais votos, Thiago Sávio Câmara (PSDB). De forma semelhante a Netinho, ele tentou emplacar a irmã dele, Rayza Câmara (Republicanos), na prefeitura, mas ela ficou em segundo lugar.

Segundo esclarecido pelo TRE-MG, inelegibilidades decorrentes de ato ilícito, como é o caso de Netinho, são personalíssimas... Não há dispositivo legal que estabeleça restrições a parentes de candidatos indeferidos.