A disputa pelo Carnaval de Belo Horizonte continua rendendo desconfortos entre o governo do Estado e a prefeitura da capital. O último episódio teve como pano de fundo o lançamento nesta sexta-feira (26) do programa “ReciclaBelô”, que pretende implementar centrais de reciclagem nas ruas de BH. Depois da disputa por patrocínio e alfinetadas públicas sobre a festa, o principal impasse, agora, é sobre a autoria do projeto.
Enquanto interlocutores da PBH defendem que toda a operacionalização do programa de reciclagem é de competência municipal e acusam o Estado de se apropriar da proposta, o governo de Minas tem tomado a frente da iniciativa e anunciado o projeto como um produto idealizado pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad).
A princípio, o Ministério Público (MP) irá disponibilizar R$ 592 mil para o programa. O montante será usado no pagamento de diárias e na compra de equipamentos para os catadores. Já a PBH vai assegurar a estrutura dos três centros de triagem para onde os catadores levarão o material recolhido. O governo do Estado, por sua vez, argumenta que foi a Semad quem elaborou a proposta, enquanto a Copasa deve destinar R$ 300 mil para o projeto, com o objetivo de aumentar o número de catadores cadastrados.
No convite de lançamento, o governo Zema citou a prefeitura apenas como uma das parceiras do projeto. Já a PBH ignorou completamente a participação do governo estadual na ação. O anúncio da administração municipal, inclusive, aconteceu somente após o comunicado da gestão estadual.
Conforme apurou o Aparte, o comunicado estadual teria irritado integrantes da PBH, que acreditam que a estratégia seria mais uma tentativa do governo Zema em capitalizar o Carnaval na cidade. Por isso, durante o evento desta sexta, a expectativa era que nenhum representante municipal comparecesse como forma de retaliação.
A presença da secretária adjunta de Meio Ambiente da PBH, Maria Clara Rêgo, ao lançamento, contudo, surpreendeu alguns interlocutores, apesar de ela ter tido pouco espaço na cerimônia. Quem teve direito a fala e chamou a atenção pela presença foi a secretária de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto (Novo), que é pré-candidata à Prefeitura de BH. Esse é o segundo evento sobre Carnaval organizado pelo governo do Estado que Luísa participa.
Na avaliação de interlocutores, mais do que uma disputa pelo Carnaval, em que o governo Zema estaria tentando capitalizar a festa para sua gestão para ganhar popularidade, o plano de fundo das alfinetadas públicas entre Fuad (PSD), o governador e Mateus Simões (Novo) pode ter relação também com as eleições municipais.
A propósito, a secretária adjunta municipal, ao postar imagem no evento nas redes sociais, cortou Luísa Barreto de uma das fotos. Apesar de não ter se colocado como pré-candidato, Fuad é um dos principais cotados para o pleito.
Questionada sobre eventual mal-estar entre PBH e governo Zema, a secretária estadual de Meio Ambiente, Marilia de Melo, negou qualquer desconforto e citou a proximidade do Executivo com o secretário de Meio Ambiente da PBH, Zé Reis. Aliado do secretário de Estado de Casa Civil, Marcelo Aro, Zé Reis foi nomeado ao posto no ano passado após o grupo de vereadores ligados ao ex-deputado federal fechar um acordo para fazer parte da base do prefeito na Câmara Municipal.
“A prefeitura é nossa parceira em vários projetos, inclusive, o Secretário de Meio Ambiente (Zé Reis), é uma pessoa que a gente tem uma relação muito próxima, e eu tenho certeza que eles vêm junto conosco a partir dessa articulação do governo de Minas para agregar”, pontuou Marília.
A PBH não se manifestou.