Eleições 2022

Bolsonaro reforça apelo cristão ao lançar campanha em Juiz de Fora

Em discurso onde foi esfaqueado em setembro de 2018, presidente evoca tom messiânico nesta terça (16) com primeira-dama como coadjuvante

Por Gabriel Ferreira Borges e Letícia Fontes
Publicado em 16 de agosto de 2022 | 17:23
 
 

Enviados especiais a Juiz de Fora 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) ratificou o discurso cristão a ser adotado na corrida para o Palácio do Planalto ao lançar, nesta terça-feira (16), em Juiz de Fora, na Zona da Mata, a campanha à reeleição. Ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o presidente da República resgatou o tom messiânico em discurso para milhares de militantes no cruzamento das ruas Halfeld e Batista de Oliveira, onde foi esfaqueado em setembro de 2018 por Adelio Bispo de Oliveira. 

Em referência a Juiz de Fora, Bolsonaro afirmou que daria a largada “de onde tentaram nos parar em 2018”. “Não tem como não me emocionar voltando a esta cidade. A recordação que eu levo é de um renascimento, de que a minha vida foi poupada por ele, o nosso criador, para que eu pudesse, como presidente da República, fazer o melhor para a nossa pátria”, afirmou o presidente, que já havia visitado a cidade da Zona da Mata em agenda em 15 de julho.

Em dobradinha, Michelle, que foi ovacionada quando apresentada por Bolsonaro sobre o trio elétrico, afirmou que, sem a força dos militantes, a família não estaria de pé. “Essa campanha mais uma vez é um milagre de Deus. Começou em 2019, quando Deus fez um milagre na vida do meu marido, porque aqueles que pregam o amor e a pacificação atentaram contra a vida dele. Mas Deus é maior e a Justiça do Senhor será feita”, considerou.

Ao lembrar de um versículo do livro de João - “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará - durante a campanha de 2018, Bolsonaro citou outro, de Oséias, que versa que “por falta de conhecimento meu povo pereceu”. “Vamos falar de política hoje, sim, para que amanhã ninguém nos proíba de acreditar em Deus. (...) Estou aqui porque acredito em vocês, acredito no povo brasileiro, que nós somos um país que está condenado a dar certo. Vamos fazer a nossa parte e com verdade e conhecimento libertar o nosso povo”, disse o presidente da República.

Bolsonaro, então, convocou os militantes a ir às ruas, em 7 de setembro, “pela última vez”, comemorar a independência e “a garantia da nossa liberdade”. “Somos exemplos de patriotismo e honestidade. Por falar em patriotismo, como é bonito, pelas minhas andanças pelo Brasil, cada vez mais ver as cores verde e amarelo predominantes. A nossa bandeira é o nosso símbolo, é a certeza de nós termos uma pátria. Nós respiramos liberdade”, apontou.

O discurso foi reforçado por Michelle, que acrescentou que, nesta campanha, “o povo brasileiro vai ser liberto da mentira e do engano”. “É um país rico, um país próspero que precisa ser liberto, que precisa sair dessas amarras de mentira, de mendigagem. A nossa terra é próspera, produtiva, abençoada e nós não aceitamos mais o espírito de miséria no nosso Brasil”, ressaltou. 

Em breve menção, o presidente lembrou da série de isenções tributárias sobre combustíveis recentemente concedidas ao citar a luta “por dias melhores nas questões econômicas”. “Além das questões materiais que são importantes para nós aqui na terra, vocês veem o esforço do governo em lutar para que a nossa inflação diminua, para que os preços dos combustíveis também caiam”, lembrou. 

Em seguida, em uma tentativa de contraposição, Bolsonaro afirmou que, “nas questões espirituais”, o Brasil é majoritariamente cristão. “Um país que não quer a volta da ideologia de gênero nas escolas; um país que não quer liberdade às drogas; um país que respeita a vida desde a sua concepção; um país que não quer se alinhar ao comunismo de outros locais do mundo; um país onde o seu presidente e majoritariamente o seu povo prefere a propriedade privada; um país que prega cada vez mais a liberdade de crença do seu povo”, disse.

Carlos Viana 

Candidato ao governo de Minas Gerais, o senador Carlos Viana (PL) não discursou, nesta terça-feira (16), em Juiz de Fora, na Zona da Mata, durante o lançamento da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) à reeleição. Com apenas 3,7% das intenções de voto conforme a pesquisa DATATEMPO, Viana é o candidato de Bolsonaro em Minas. 

Apesar de ter subido ao trio elétrico posicionado no lugar onde Bolsonaro foi esfaqueado, Viana não teve espaço. Depois do presidente da República, quem falou foi a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Mais tarde, o candidato a vice-presidente General Braga Netto (PL) também discursou, assim como o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL), candidato a deputado federal. 

O deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), apoiado por Bolsonaro como candidato ao Senado, também fez questão de aproveitar o palanque do presidente da República. A postura de Viana repete as últimas agendas em Minas, nas quais o candidato tem sido coadjuvante. 

A candidatura de Viana foi ratificada após Bolsonaro não conseguir fazer dobradinha com o governador Romeu Zema (Novo). Zema chegou a oferecer uma das suplências do deputado federal Marcelo Aro (PP), candidato ao Senado, o que foi rechaçado pelo PL. Por outro lado, Zema, que tem que a rejeição a Bolsonaro o atingisse, reforçava publicamente que apoia, na verdade, o candidato à presidência Felipe D'Avila (Novo).

Aeroporto 

Recebido com gritos de apoio, Bolsonaro chegou uma hora antes do previsto em Juiz de Fora. O presidente desembarcou no Aeroporto Francisco Álvares de Assis, por volta das 10h. No local, o chefe do executivo, candidato à reeleição ao Palácio do Planalto, se reuniu por quase duas horas com lideranças religiosas. 

Durante o encontro, discusaram um padre, um pastor, Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O senador Carlos Viana apenas intermediou as falas. 

Após o evento, Bolsonaro seguiu em uma motociata para o centro da Cidade. Durante o percurso, motoristas enfrentaram lentidão pelas ruas do município. 

De acordo com a Polícia Militar (PM), dez mil pessoas participaram dos eventos com Bolsonaro em Juiz de Fora. Segundo a corporação, nenhuma ocorrência foi registrado no local. 

No calçadão Halfeld, duas ambulâncias precisaram ser acionadas durante o discurso de Bolsonaro por conta do tumulto entre os apoiadores do presidente. Uma mulher e um idoso passaram mal devido ao calor. 

Apoiadores

A aposentada Lucila Alvarenga, 64, saiu do Maranhão, e veio para Juiz de Fora acompanhar o lançamento da campanha de Bolsonaro. Acompanhada de mais 10 amigos, o grupo trouxe um guaraná Jesus para o presidente. Durante a caminhada no aeroporto, Bolsonaro encontrou os maranhenses e levantou o refrigerante. 

“Fiz questão de vim de longe para apoiar o presente. Quero agora ele agora na minha cidade”, contou emocionada a aposentada, que fez um bate volta para Juiz de Fora.

Bolsonaro voltou a Brasília às 14h. O presidente esperado na  posse dos ministros Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A solenidade está marcada para às 19h. 

Essa foi a segunda vez que Bolsonaro  veio a Juiz de Fora desde que foi vítima de uma facada em 2018. Em julho, o Bolsonaro veio para cidade para participar de um culto evangélico. 

Bolsonaro desiste de levar desfile militar do 7 de Setembro para Copacabana

O presidente Jair Bolsonaro (PL) recuou, nesta terça-feira (16), a tentativa de transferir o tradicional desfile militar do dia 7 de setembro, que ocorre na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio, para Copacabana. Segundo o presidente, por motivos de segurança, o desfile de comemoração será realizado em Brasília. 

A previsão é que ocorra uma motociata na capital fluminense, saindo do Aterro do Flamengo, passando por Copacabana, em direção ao Leblon. Por lá, de acordo com Bolsonaro, haverá um palanque, mas ele não pretende discursar no evento. 

“Não vai ter parada tradicional no Rio, lá vai ter um movimento cívico, porque a previsão é de muita gente na praia, teríamos dificuldade com a tropa em se organizar para um desfile”, explicou Bolsonaro durante um breve pronunciamento à imprensa no aeroporto Francisco Álvares de Assis, em Juiz de Fora. 

Nos últimos dias, Bolsonaro tentou transferir a tradicional parada militar no Centro do Rio para Copacabana. Mas a prefeitura da cidade contrariou o pedido do chefe do Executivo e manteve o desfile cívico-militar no centro da cidade.

Na última semana, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), disse não ter recebido nenhum pedido oficial para que a rota do desfile do dia 7 de setembro fosse alterada. 

Críticas a Lula

Em rápida conversa com a imprensa, no aeroclube de Juiz de Fora, Bolsonaro criticou seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao citar a comemoração da independência, em setembro. 

“Nós vamos comemorar a nossa independência, 200 anos, e mais 200 anos de liberdade para o bem de vocês (imprensa), que sabem que estão ameaçados de controle. O cara lá (Lula) fala o tempo todo em controlar a mídia. Comigo é exatamente o contrário”, argumentou. Segundo o presidente, mesmo que a mídia “insista em lhe criticar”,  os profissionais de comunicação continuam empregados.

Ambulantes aproveitam visita de Bolsonaro a Juiz de Fora para vender camisas e bandeiras 

Com camisas custando entre R$ 35 a R$ 50, ambulantes aproveitaram a visita do presidente Jair Bolsonaro em Juiz de Fora, na Zona da Mata, nesta terça-feira (16), para faturar um dinheiro extra

Os itens mais vendidos no aeroclube de Juiz de Fora, e no calçadão Halfeld, onde Bolsonaro discursou por volta de 15 minutos, foram as tradicionais bandeiras e camisas da Seleção Brasileira. Alguns ambulantes chegaram a vender todo o estoque. 

É o caso do estudante Luiz Soares, 23, que foi com o pai Roberto Ribeiro, de 46 anos, no aeroclube da cidade vender os itens.  Em menos 2 horas, os dois venderam quase 100 bandeiras a R$ 120. “A gente vende do Lula ou do Bolsonaro, depende da ocasião. O importante é conseguir aproveitar a oportunidade”, afirmou Luiz, que antes mesmo da chegada do presidente já tinha vendido quase todos os itens. “Trouxemos 150 bandeiras e 200 blusas. Não sobrou nada”, contou. 

O comerciante Edson Brito, de 50 anos, saiu de Feira de Santana na Bahia para  acompanhar Bolsonaro em Juiz de Fora. O ambulante está na maioria das agendas de Bolsonaro pelo país. Depois de Minas, o destino de Edson será São José dos Campos, em São Paulo. Bolsonaro tem marcado uma agenda de campanha no local no próximo dia 18 de agosto. 

"Já trabalho há muito tempo como ambulante. Quando a distância é razoável vou de carro, mas, às vezes, dá pra conseguir um preço bom de passagem de avião", conta o comerciante que não se animou com a agenda de Bolsonaro em Minas Gerais. Durante a passagem do presidente na cidade, o ambulante vendeu apenas uma bandeira por R$ 150 e uma camisa a R$ 60. 

Já Guilherme Gomes Pinto, 43, embora seja ambulante há 20 anos, começou a vender produtos personalizados de Bolsonaro nestas eleições. "Comecei por causa dos pedidos de coisas dele. É uma saída", explica o ambulante. Natural de Juiz de Fora, ele vende bandeiras - maiores e menores - e camisetas estampadas pelo presidente da República. 

No carrinho de Guilherme, há uma foto tirada ao lado de Bolsonaro quando o presidente da República visitou Juiz de Fora em 15 de julho. Perguntado se, além de comercializar produtos do presidente, também era eleitor, o ambulante desconversou. "O voto é secreto", riu. 

O ambulante George Silva Santos, 29, por sua vez, apostou na venda de tênis personalizados com a foto de Bolsonaro. “É lançamento exclusivo da nossa marca. Só nos temos", garante o ambulante, natural de Patrocínio, no Alto Paranaíba. 

De acordo com George, nesta terça-feira foram vendidos entre 100 e 150 pares. "Fora os que vendemos nas redes sociais", acrescenta o ambulante, que não pretende vender de outros candidatos. "Bolsonaro representa os princípios familiares", avalia.

Campanha eleitoral 

Segundo as regras eleitorais, a partir desta terça-feira (16), os candidatos estão liberados para realizar comícios, distribuir material gráfico de campanha e divulgar 10 anúncios de propaganda eleitoral.