OPERAÇÃO LAVA JATO

Delator diz que repassava propina a emissário conhecido como 'Tigrão'

Polícia Federal busca informações sobre outros dois personagens misteriosos do suposto esquema

Qua, 03/12/14 - 14h41

Um emissário conhecido apenas como "Tigrão" recolhia em nome do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque supostas propinas pagas pela empreiteira Toyo Setal, segundo o depoimento do executivo da empresa Augusto Ribeiro de Mendonça Neto.

O depoimento foi tomado em acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato e revelado nesta quarta-feira (3) nos autos do processo em Curitiba (PR).

Há 20 dias, a PF procura informações sobre "Tigrão" e outros dois personagens misteriosos, "Melancia" e "Eucalipto", que são citados ao longo das peças do processo sobre o escândalo da Petrobras sem informações detalhadas que permitam a identificação.

Duque, preso no último dia 14 na sétima fase da Operação Lava Jato, foi solto no início da tarde desta quarta-feira (3) após um habeas corpus concedido pelo ministro do STF Teori Zavascki.

Mendonça Neto disse em depoimento não saber o nome real de "Tigrão", descrito por ele como "moreno, 1,70 a 1,80 [de altura], meio gordinho, idade aproximada de 40 anos".

Pelo menos uma vez, o próprio executivo entregou pessoalmente recursos em espécie a "Tigrão", que costumava aparecer no escritório da Toyo Setal em São Paulo para "retirar os montantes" relativos a "comissões" pagas por contratos da Petrobras. Outros homens, além de "Tigrão", fizeram o mesmo trabalho.

Em sua delação premiada, outro diretor da Toyo Setal, Julio Camargo, também informou que "Tigrão", "Melancia e "Eucalipto" buscavam a propina em seu escritório, enviados por Duque e Pedro Barusco, ex-gerente subordinado a Duque já aceitou devolver US$ 97 milhões, o equivalente hoje a R$ 248 milhões.

Mendonça Neto também revelou ter realizado pelo menos um depósito diretamente numa conta, intitulada "Marinelo", controlada por Renato Duque no exterior. O delator disse ter condições de provar, com documentos, a transferência de US$ 1 milhão para a conta "Marinelo".

Ele estimou que o total pago entre 2008 e 2011 para Duque e outro engenheiro da Petrobras, Pedro Barusco, oscilou entre R$ 40 milhões a R$ 50 milhões. Outros pagamentos para o exterior, segundo Mendonça Neto, foram operacionalizados por outro executivo da Toyo Setal, Julio Camargos.
Nas delações surgiu o nome de outra conta supostamente ligada a Duque no exterior, a "Drenos".

No depoimento, Mendonça Neto disse que "se comentava na época que ele [Renato Duque] era uma indicação de José Dirceu, mas o declarante não tem nenhuma evidência quanto a isso".

Além dos pagamentos em espécie e de depósitos no exterior, Mendonça Neto disse que a propina também foi paga por meio de "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores".

Mendonça Neto revelou que as empresas responsáveis pelas doações foram a Setec Tecnologia e a PEM Engenharia, entre 2008 e 2011. A reportagem localizou na prestação de contas enviada pelo Diretório Nacional do PT à Justiça Eleitoral em 2010 um valor total de R$ 1 milhão em nome das duas empresas. A PEM doou R$ 500 mil em abril daquele ano e a Setec, R$ 500 mil em junho, às vésperas da campanha eleitoral à Presidência da República.

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Folhapress