O ex-assessor Fabrício Queiroz depositou R$ 25 mil em dinheiro na conta da mulher do senador e ex-patrão Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) uma semana antes de a família do filho do presidente da República quitar a primeira parcela da compra de um apartamento na zona sul do Rio de Janeiro. 

As informações divulgadas pelo jornal "Folha de S. Paulo" foram obtidas com a quebra do sigilo bancário do ex-assessor pela Justiça, após pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ). De acordo com a promotoria, o depósito teria sido usado para ajudar a dar cobertura ao pagamento de entrada no imóvel comprado por Flávio e Fernanda Bolsonaro.

Segundo os dados obtidos pelo MP, no mesmo período, em agosto de 2011, há também um crédito em dinheiro no valor de R$ 12 mil na conta da dentista. O nome da pessoa que fez essa operação, no entanto, segue mantido em sigilo.

Naquela época, Flávio e Fernanda pagaram R$ 110,5 mil pela entrada do apartamento. Dias antes, Queiroz fez o depósito de dinheiro, depois houve um resgate de aplicação por Fernanda e, por fim, o depósito em espécie não identificado. Essas movimentações totalizaram R$ 111,7 mil, valor bem próximo ao gasto com a entrada do apartamento.

Anteriormente, o MP já tinha identificado que imagens da agência bancária do Itaú na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALMG) mostravam Queiroz pagando, em dinheiro, a mensalidade escolar das filhas do senador, em outubro de 2018. Segundo as investigações, também em dinheiro, foram pagos 53 boletos da escola entre 2014 e 2018, em valores que somam R$ 153,2 mil. Mensalidades de planos de saúde entre 2013 e 2014, somando R$ 108,4 mil, também teriam sido pagas na boca do caixa.
Isso indica, para os investigadores, que era comum que o ex-assessor, acusado de arrecadar parte do salário dos servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro, pagasse despesas pessoais do ex-chefe.

Para o MP, há indícios de lavagem de dinheiro por parte de Flávio e Fernanda, tanto por meio da compra de imóveis como por meio de rendimentos de uma loja de chocolates do senador. 

Fabrício Queiroz chegou a ser preso no mês passado, mas teve um pedido de prisão domiciliar aceito pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e aguarda as investigações em casa. Sua mulher, Marcia Queiroz, também teve um mandado de prisão expedido, ficou foragida até conseguir também o benefício da prisão domiciliar.

As investigações sobre a rachadinha no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj estão a cargo do MP do Rio e eram tocadas na primeira instância. Contudo, após decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o caso foi para a segunda instância, o que atrasou uma eventual denúncia contra o senador.

Procurada pela "Folha de S.Paulo", a defesa de Flávio e Fernanda Bolsonaro negaram quaisquer irregularidades.

"Todas essas questões foram esclarecidas nos autos. Os vazamentos de informação, ocorridos diariamente, causam estranhamento na defesa. O processo é sigiloso e os detalhes na imprensa só podem ter sido divulgados por quem tem acesso aos depoimentos. Por esse motivo, a defesa fará uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para a devida apuração”, disse a defesa de Flávio por meio de nota à reportagem. 

A defesa de Queiroz não comentou o caso.