A Exec, empresa de recrutamento responsável pelo processo seletivo que resultou na contratação do atual presidente da Cemig, Reynaldo Passanezi, foi contratada a pedido do governo de Minas Gerais. A informação é do diretor adjunto de Gestão de Pessoas e Serviços Corporativos, Hudson Felix Almeida, que prestou depoimento na tarde desta quinta-feira (19) à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apura contratações sem licitação realizadas pela empresa desde o início do governo de Romeu Zema (Novo).
“Eu não participei, mas eu tive a informação, pelo presidente à época, doutor Belini (Cledorvino Belini, ex-presidente da Cemig), que me entregou uma proposta da empresa Exec e me disse que o serviço tinha sido prestado e que a empresa tinha sido escolhida pelo governo de Minas Gerais. E pediu que eu visse dentro de casa quais procedimentos seriam necessários para convalidar esse processo”, disse aos deputados.
Almeida foi um dos responsáveis pelo processo de convalidação da contratação da Exec, espécie de retificação de processos administrativos realizados quando processos anteriores não foram feitos. Nesse caso, a convalidação garantiu a contratação da Exec após o serviço prestado. “A convalidação é um processo em que você formaliza a contratação por um serviço já executado”, disse.
Segundo o vice-presidente da CPI, deputado Professor Cleiton (PSB), o depoimento do diretor adjunto de Gestão de Pessoas e Serviços Corporativos surpreendeu ao demonstrar que as convalidações seriam usuais na empresa. “Isso nos traz uma grande surpresa e foi assumido como sendo algo normal. Já tínhamos informações de que a EXEC mantinha ligações muito próximas com o Partido Novo mas, não a ponto da CEMIG deflagrar uma convalidação de contratação verbal de empresa a pedido do Governo do Estado. Inclusive houve a aprovação da convocação do Sr. Evandro Negrão de Lima Júnior, executivo do Partido Novo”.
Pela manhã, a CPI ouviu o gerente de Provimento e Desenvolvimento Pessoal da empresa, Rômulo Provetti, que confirmou que a proposta de contratação da Exec foi enviada por uma pessoa externa à Cemig, que viria a ser Evandro Negrão de Lima Júnior, secretário de Assuntos Institucionais e Legais no diretório do Novo em Minas Gerais. Ele inclusive deve ser convocado para prestar depoimento à CPI, conforme requerimento aprovado na sessão anterior. Procurado, ele informou por mensagem que está com problemas de saúde e que prestaria "as explicações necessárias de forma oficial quando for possível".
A Exec foi contratada pela Cemig para selecionar o atual presidente da companhia e outros profissionais, bem como também prestou serviço ao governo do Novo na seleção de secretários para compor a equipe do governador Romeu Zema. Procurada, a empresa disse que "não comenta processos de seus clientes, pois são sigilosos".
Investigações
Hudson Felix Almeida também acumulou, durante parte do ano de 2020, a diretoria de Suprimentos e Serviços e confirmou que a empresa Kroll, contratada pela Cemig para investigação forense, realizou em dezembro do ano passado uma coleta de “dados de meios eletrônicos de funcionários da Cemig”. Essa investigação culminou na demissão e afastamento de funcionários em janeiro deste ano. No entanto, o contrato com a Kroll foi assinado em maio de 2021, conforme publicado no Diário Oficial de Minas Gerais.
Ainda segundo Almeida, as investigações envolviam a averiguação de denúncias na área de Suprimentos. Entre essas denúncias estavam casos de “irregularidades em processo de compras, favorecimento de fornecedores e assédio moral e sexual dentro da empresa”, conforme o próprio investigado.
Essas denúncias ligadas à irregularidades no setor de compras, inclusive, ensejam uma investigação do Ministério Público que ainda está em curso. De acordo com Almeida, a Cemig só veio a saber disso após uma operação do MP na sede da empresa, e então teria instaurado um procedimento interno de investigação.
Procurado, o governo de Minas não respondeu. Em nota enviada após às 20h, a Cemig "reafirma que a contratação da empresa Exec, responsável pelo recrutamento e seleção do presidente da Companhia, foi feita dentro da legalidade e em conformidade com as normas internas da empresa".
Leia a nota da Cemig na íntegra:
Em relação às reuniões realizadas na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta quinta-feira (19/08), a Cemig reafirma que a contratação da empresa Exec, responsável pelo recrutamento e seleção do presidente da Companhia, foi feita dentro da legalidade e em conformidade com as normas internas da empresa.
A formalização do contrato com a Exec foi realizada após o serviço prestado devido ao sigilo que envolve a substituição do cargo de presidente da empresa, que deve ser comunicada ao mercado por meio de Fato Relevante, o que foi feito em 13/01/20, data da eleição e posse do presidente.
A contratação de serviços especializados neste valor não é matéria de deliberação do Conselho de Administração. A convalidação da prestação dos serviços foi aprovada pela Diretoria Executiva, tendo o Diretor-Presidente se abstido de participar da discussão e votação da matéria, conforme registro na ata da Reunião da Diretoria Executiva.
Atualizada às 20h28